Joaquim Namorado
Joaquim Vitorino Namorado. Alter do Chão, 30 de junio de 1914 - Coimbra, 29 de diciembre de 1986, fue un poeta portugués.
Poesía:
Aviso à Navegação (1941)
Incomodidade (1945)
A Poesia Necessária (1966)
Ensayo:
Uma Poética da Cultura (1994), com organização, prefácio e notas de António Pedro Pita.
¿Hombres o ratas?
Callados, mudos, escondidos
en nuestros agujeros
sin coraje para movernos
aterrados de miedo
con los cinco sentidos en alerta
por si nos llegan señales o ruidos
de la masticación de afuera
migajas caídas de las mesas,
agradeciendo a toda hora
como si la vida fuera una limosna
apenas permitida.
Así no se puede vivir.
Esto no es vida.
Versión Santiago Espel
Poemas antilíricos
Y vinieron poetas que palpaban delirios
con los ojos vendados por un rayo de luna.
Confundían la carne pálida de la anemia
con mármol sonrosado y alabastro,
espuma del océano;
y el velo de su musa cubría los andrajos
con sedas y brocados.
De rosas para ellos era la triste vida,
o un camino de nubes,
resplandeciente noche con estrellas.
Les parecían los brazos
que a los cielos se alzaban con un gesto
de desesperación
hermosas alas de ángeles en ascensión sublime,
y los ojos hundidos en ojeras de hambre
puros abismos de melancolía,
la sonrisa afligida dulce anhelo,
penas de amor la angustia...
Y vinieron poetas olfateando delirios...
¡Qué poetas estúpidos!
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Aviso à Navegação
Alto lá!
Aviso à navegação!
Eu não morri:
Estou aqui
na ilha sem nome,
sem latitude nem longitude,
perdida nos mapas,
perdida no mar Tenebroso!
Sim, eu,
o perigo para a navegação!
o dos saques e das abordagens,
o capitão da fragata
cem vezes torpedeada,
cem vezes afundada,
mas sempre ressuscitada!
Eu que aportei
com os porões inundados,
as torres desmoronadas,
os mastros e os lemes quebrados
- mas aportei!
Aviso à navegação:
Não espereis de mim a paz!
Que quanto mais me afundo
maior é a minha ânsia de salvar-me!
Que quanto mais um golpe me decepa
maior é a minha força de lutar!
Não espereis de mim a paz!
Que na guerra
só conheço dois destinos:
ou vencer – ai dos vencidos! –
ou morrer sob os escombros
da luta que alevantei!
- (Foi jeito que me ficou
não me sei desinteressar
do jogo que me jogar.)
Não espereis de mim a paz,
aviso à navegação!
Não espereis de mim a paz
que vos não sei perdoar!
Edital
Foi afixado
nos locais do costume
que É PROIBIDO MENDIGAR.
Logo mão que se descobre
escreveu a tinta por baixo
MAS NÃO É PROIBIDO SER POBRE.
Fábrica
Oh, a poesia de tudo o que é geométrico
e perfeito,
a beleza nova dos maquinismos,
a força secreta das peças
sob o contacto liso e frio dos metais,
a segura confiança
do saber-se que é assim e assim exactamente,
sem lugar a enganos,
tudo matemático e harmónico,
sem nenhum imprevisto, sem nenhuma aventura,
como na cabeça do engenheiro.
Os operários têm nos músculos, de cor,
os movimentos dia a dia repetidos:
é como se fossem da sua natureza,
longe de toda a vontade e de todo o pensamento;
como se os metais fossem carne do corpo
e as veias se abrissem
àquela vida estranha, dura, implacável
das máquinas.
Os motores de tantos mil cavalos
alinhados e seguros de si,
seguros do seu poder;
as articulações subtis das bielas,
o enlace justo das engrenagens:
a fábrica, todo um imenso corpo de movimentos
concordantes, dependentes, necessários.
Sonambulismo
Tombam os dias inúteis:
amanhece, é tarde, anoitece.
Mas a nós que nos importa
ser manhã, meio dia ou noite?!...
Sonâmbula a vida decorre
- nas ruas, a paz larvar dos grandes cemitérios;
dentro de nós, cada um
apodrece.
Enchem-se de títulos vibrantes os jornais
- mas tudo é tão longe...
Passam homens por homens e não se conhecem:
Boa tarde! Bom dia!
Cada um fechado nas suas fronteiras,
os gestos vazios,
a vida sem sentido
- sonambulismo apenas.
Acorda!
Ainda que seja só para o sobressalto,
que as ilusões do sonho se desfaçam
e as esperanças morram todas nessa hora!
Acorda!
ainda que o caminho a percorrer te espante
e o peso da obra a realizar te esmague!
Ainda que acordar seja
morrer depois aos poucos, em cada momento,
dolorosamente
Portwine
O Douro é um rio de vinho
que tem a foz em Liverpool e em Londres
e em Nova-York e no Rio e em Buenos Aires:
quando chega ao mar vai nos navios,
cria seus lodos em garrafeiras velhas,
desemboca nos clubes e nos bars.
O Douro é um rio de barcos
onde remam os barqueiros suas desgraças,
primeiro se afundam em terra as suas vidas
que no rio se afundam as barcaças.
Nas sobremesas finas, as garrafas
assemelham cristais cheios de rubis,
em Cape-Town, em Sidney, em Paris,
tem um sabor generoso e fino
o sangue que dos cais exportamos em barris.
As margens do Douro são penedos
fecundados de sangue e amarguras
onde cava o meu povo as vinhas
como quem abre as próprias sepulturas:
nos entrepostos dos cais, em armazéns,
comerciantes trocam por esterlinos
o vinho que é o sangue dos seus corpos,
moeda pobre que são os seus destinos.
Em Londres os lords e em Paris os snobs,
no Cabo e no Rio os fazendeiros ricos
acham no Porto um sabor divino,
mas a nós só nos sabe, só nos sabe,
à tristeza infinita de um destino.
O rio Douro é um rio de sangue,
por onde o sangue do meu povo corre.
Meu povo, liberta-te, liberta-te!,
Liberta-te, meu povo! – ou morre.
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