ALVARO MOREYRA
Poeta, prosista y autor teatral, Alvaro Moreyra nació en Porto Alegre, Brasil en 1888. Líricamente se inició como un simbolista, evolucionando luego a formas de mayor libertad, en un estilo claro' y conversacional. En esas dos fases revela, no obstante, la misma psicología, en la que la saudade y el ironismo se hermanan. Sus pasajes más sabrosos están —para nuestro gusto— en esa captación de la vida humilde y sencilla de las zonas suburbanas.
Su primer libro poético, "Legenda da luz e da Vida", apareció en 1911, siguiéndole, cinco años más tarde, "A lendá das rosas". En su bibliografía ha dado preferencia a la prosa, en la que muchas veces se advierte su fino temperamento lírico, tan sensible y humano.
El poema que aquí hemos seleccionado, data de 1932.
GASTON FIGUEIRA
FIGUEIRA, Gaston. Poesía brasileña contemporánea (1920-1946) Crítica y antologia. Montevideo: Instituto de Cultura Uruguayo-Brasileño, 1947. 142 p. 18x23 cm. Col. A.M.
LAS SIETE SOMBRAS
Saudade
vieja torre erguida
nebulosamente
en el paisaje otoñal del alma mía.
Tierra de donde todo se ve fan lejano...
Saudade...
Se pierde en la distancia el salmo de una voz" de campana.
La luz del poniente
es el pálido eco de esa voz perdida.
El alma de la tarde envuelve la vieja torre.
Y en la vieja torre
erguida
nebulosamente, ,
ondulan siete sombras silenciosas,
tejiendo el sueño de mi vida.
Las estoy sintiendo. Recuerdo...
Las siete sombras silenciosas...
Una llegó a mí en noviembre,
rubia de sol, traía
las manos llenas de rosas:
—"Déjame entrar. Soy la alegría".
Y yo le dije: —"Bienvenida seas, Alegría".
Otra, tenue de espuma,
ojos azules de niña,
lentos gestos de pluma,
surgió más tarde a mendigar posada:
—"Mi nombre es Esperanza.
Vengo de muy lejos. Estoy cansada".
Y yo le dije: —"Descansa".
Vino desipués la Felicidad,
tan linda sombra, toda en oro encendida.
Y vino el Dolor, vino la Belleza,
vino la Bondad.
Una noche golpeaste. La vieja torre
te abrió las largas puertas vagarosas.
Y desde entonces en la vieja torre
tú quedaste también, serena amiga,
sombra de sombras silenciosas,
tejiendo el sueño de mi vida.
SAUDADES
Más triste que tener saudades es no tener motivo de saudade.
No fue ningún hada. Fue el señor Arthur Brandão.
El me veía desde su casa, todas las tardes, en la azotea de la
nuestra.
Yo ponía mis codos pequeñitos en el muro blanco y los ojos que to-
davía no eran miopes, en las nubes llenas de colores.
Quedaba así, quieto, hasta llegar la noche.
Las torres de Nuestra Señora del Rosario daban el toque de
Ave-María.
La noche llegaba, más bonita que una fiesta.
El señor Arthur Brandáo, 'cuando encontró a mi padre en lo del
barbero, le dijo lo que presenciaba todas las tardes garantió:
—Ese gury es poeta.
Mi padre contó el caso en el almuerzo, con muohas risas. '
Fue aquel día que aprendí que poeta: es un niño que mira el cielo..,
En el tiempo en que la gente comienza a querer ser, yo comencé a
querer ser esto mismo.
¡La culpa, fue mía!
O Poema da cidade
Os guerreiros das tabas sagradas, os portugueses descobridores, os pretos trazidos da África e muitos outros turistas, fizeram uma raça nesta terra do sol, das montanhas e do mar. A nossa raça do Brasil. Ela anda nas mulheres bonitas, nos homens ágeis, na poesia que fala como se fosse música, na música que é poesia desfolhada... Todas as manhãs e de tarde e de noite, a raça brasileira passa pela minha porta na voz dos pregões cariocas. Os pregões cariocas que escrevem no ar o poema da cidade. Alguns, cheios de madrugada ainda:
"Vai frango...
vai galinha gorda"..
"Olha a laranja suletra
Olha a boa tangerina...
Acalmam o começo do dia que o caminhão do leite tinha desvairado. E vem tímido, cada um com seu tom diferente, o seu ritmo inconfundível:
"A fregueza quer ovos? "
"Jaboticaba mineira... mineira... mineira..."
"Flores... florista..."
"Garraf'vezie..."
"Abacaxi... é de Vila Nova..."
"Vassouras... 'spanador's...:
"Pixe... pixe... pitoló...".
(Pixe é peixe. Pitoló, não sei porque, é camarão). Vem o correio que traz notícias para uns. O jornaleiro que traz notícias para todos. O homem coxo de bolsa na mão:
"Consertam-se máquinas de costura"
E o que conserta as finanças da gente:
"Compra-se roupa velha,
sapato velho,
qualquer bejeto usado..."
O doceiro. O pregão dele parece um shottisch:
"Olha o duceiro,
olha o duceiro,
olha o duceiro
perticular..."
O negro velho das cocadas, com uma saudade pobre da vida que foi um dia:
"Cocada...
preta e bramca
preta e branca
e cor-de-rosa..."
O caboclo do baú gostoso:
"Soberano, gargalhada,
biscoito fino, bananada...
Ninguém me chama, voum'imbora!
Daqui a pouco não tem mais nada!
Soberanôoo!"
Quando o sol se apaga e as lâmpadas se acendem:
"Sorvetinho, sorvetão
sorvetinho da ilusão!
Quem não tem seu dinheirinho
não toma sorvete não...
sorvete, iaiá,
é de quatro calidade...
côco, creme, abacaxi e manga..."
E já veio o angú da baiana, veio "a sorte corre hoje", veio o melado de Campo Grande, o óelo de côco, o óleo de babosa, o sabão da costa, pregador de roupa, o saquinho do café. Vem então, triste, triste:
"Minduim... torradinho... tá quentinho..."
Vem o italiano que vende as canções em voga. Vem com a filha que tem sete anos. Ele faz o prólogo:
"Mamãe, escuta,
abra a janela.
Parece um gramafone
mas é uma cantiga bela.
Io trabalhava
numa pedrera
perdi o braço direto
e fiquei desta manera.
Tenho seis filha
des da primeira
e a menina que vai gantar
é a tercera..."
E a menina canta afinadíssima:
— Qui vantage Maria leva?
É boa…
Como é qui Maria vive?
À toa…
…
"400 réis as canções da moda… 400 réis!".
Depois há um intervalo em que todas as vitrolas, rádios e fonógrafos da vizinhança agem. E afinal, perdido no silêncio do bairro adormecido, o último pregão anuncia longe, que a vida continua:
"A Noite... O Globo... O Diário da Noite".
Temperatura
Quando eu era mais moço tive na vida um
sorriso para tudo.
Tive?
Ainda tenho.
Mas hoje o meu sorriso é como o sorriso das
bailarinas.
Um sorriso na ponta dos pés, que espia o público
e que às vezes nem está sorrindo.
Dura enquanto dura a dança...
Circo. Rio de Janeiro: Pimenta de Mello, 1929
S Paulo
A garoa enfeitada pelos anúncios luminosos
brinca de bola de sabão na ponta dos arranha-céus.
Da janela do hotel vejo a cidade sorrindo.
Tão bonita!
São Paulo, eu quero bem a você.
Você dá gosto de ser brasileiro.
Você trabalha e não é neurastênica.
Você é rica e ainda por cima é inteligente.
Todas as cidades do Brasil deviam pagar prenda
para você...
In: Circo. Rio de Janeiro: Pimenta de Mello, 1929
Canção Dolente
Salgueiros trêmulos, belos!
meus camaradas tão bons!
vós sois como violoncelos
onde o vento acorda sons...
Melodia dos destinos!
voz do tempo! voz plangente!
Ah! na saudade dos sinos,
canta a saudade da gente...
Corujas de vida obscura!
a vossa sorte me diz
que a verdadeira ventura
é não tentar ser feliz...
Publicado no livro Legenda da luz e da vida (1911).
Do Outono e do Silêncio
Ah como eu sinto o outono
nestes crepúsculos dispersos,
de solidão e de abandono!
nessas nuvens longínquas, agoureiras,
que têm a cor que um dia houve em meus
versos
e nas tuas olheiras...
Tomba uma sombra roxa sobre a terra.
A mesma nuança em torno tudo encerra
nuns tons fanados de ametista.
Caem violetas...
Paisagem velha e nunca vista...
Paisagem próxima e tão distante...
A luz foge, esfacelando
em silhuetas
os troncos da alameda agonizante.
O outono é uma elegia
que as folhas plangem, pelo vento, em
bando...
E o outono me amargura e anestesia
com o silêncio...
Silêncio
das ressonâncias
esquecidas
que o fim do dia deixa sempre no ar...
Silêncio
irmão das covas, das ermidas,
incenso das distâncias,
onde a memória fica a ouvir perdidas
palavras que morreram sem falar...
Publicado no livro Legenda da luz e da vida (1911).
In: MOREYRA, Álvaro. Lenda das rosas. São Paulo: Ed. Nacional, 1928. p.37-38. (Os Mais belos poemas de amor)
A Mangueira e o Sabiá
O sabiá pousou em cima da mangueira e cantou,
cantou uma semana inteira.
Depois foi-se embora, nunca mais voltou.
A mangueira ficou triste mas toda cheia de
mangas.
Mangas doces, tão bonitas, a mangueira nunca
deu.
Deu agora de saudade, porque a mangueira
sofreu.
Quanta mulher sabiá!
E quanto homem mangueira!...
In: MOREYRA, Álvaro. Circo. Rio de Janeiro: Pimenta de Mello, 1929
As Sete Sombras
Saudade,
— velha torre erguida
nevoentamente
na paisagem de outono da minha alma.
Torre de onde se vê tudo tão longe...
Saudade...
Na distância, a perder-se, a voz de um sino
salma.
A luz no poente
é o pálido eco dessa voz perdida.
A alma da tarde envolve a velha torre.
E na velha torre
erguida
nevoentamente,
ondulam sete sombras silenciosas,
tecendo o sonho da minha vida...
Fico a senti-las. Lembro...
As sete sombras silenciosas...
Uma, quando chegou era novembro,
loura de sol, trazia
as mãos cheias de rosas:
— Deixa-me entrar, sou a Alegria. —
E eu lhe disse: — Bem-vinda sejas, Alegria. —
Outra, tênue, de espuma,
olhos azuis de criança,
lentos gestos de pluma,
surgiu mais tarde a mendigar pousada:
— O meu nome é Esperança.
Venho de muito além. Estou cansada. —
E eu lhe disse: — Descansa.
Bem-vinda sejas, Esperança. —
Veio depois a Felicidade,
tão linda sombra, toda em ouro acesa.
E veio a Dor, veio a Beleza,
veio a Bondade.
Uma noite, bateste. A velha torre
abriu-te as longas portas vagarosas.
E desde então, na velha torre,
tu ficaste, também, serena, inesquecida,
sombra das sombras silenciosas,
tecendo o sonho da minha vida...
Publicado no livro Lenda das rosas (1916).
In: MOREYRA, Álvaro. Lenda das rosas. São Paulo: Ed. Nacional, 1928. p.41-43. (Os Mais belos poemas de amor
Elegia da Bruma
Réquiem do Pôr-do-Sol... A Tarde ajoelha e canta,
num mistério augural de cinza e de ouro vivo...
E o hospital, sob a Tarde, entre Árvores, levanta
o seu vulto de pedra, estranho e pensativo...
Ao incenso do Ocaso, a Paisagem parece
movimentar-se, orando, em gestos musicais...
É o silêncio que entoa harmonias de Prece
com a ignota orquestração dos mudos Vegetais...
Passos batem a estrada... E pela estrada, agora,
seguem ranchos buscando o sossego das casas...
Desaparecem... Vão... E ao misticismo da hora,
no ar silente, em quietude, andam saudades de Asas...
A escuridão aumenta... E há vozes... algazarras...
Das águas-verdes cresce um rouco cantochão...
Trilam grilos... E ao alto, as primeiras cigarras
despertam, respondendo... Aumenta a escuridão...
Súbito, em derredor, tudo se cala... E adiante,
ermo, queda o hospital como quem está ouvindo...
O Plenilúnio surge, em êxtase, distante,
branco, a Terra a abençoar... Vai subindo... subindo...
E à alva bênção da Luz, os contornos avultam
na precisão da Linha — hartos, a destacar...
Começa a Noite... E o Sono... E os Sonhos que sepultam
a Tristeza-da-Vida aos que podem sonhar...
E quando a claridade, em chapa, de repente,
cai sobre a frontaria, e a asperge, e a envolve, ondeando,
geme um órgão lá dentro, enevoado, dolente,
como se fora o Luar que estivesse tocando...
A Alma da Terra fala à vibração da Terra...
Espasmos de sofrer!... A Dor a sete tons!...
E ascende... e afunda... e ecoa... e pelos longes erra
um ritmo nebuloso, onde há sombras de sons...
Publicado no livro Legenda da luz e da vida (1911).
In: ZILBERMAN, Regina. Álvaro Moreyra. 2.ed. Porto Alegre: IEL, 1990. p.22-23. (Letras rio-grandenses
Mistério
Chamam certas mulheres de infelizes.
E dizem que elas são da vida alegre...
In: MOREYRA, Álvaro. Circo. Rio de Janeiro: Pimenta de Mello, 1929
Pena
Dona Domitila, marquesa de Santos, eu gosto
muito da senhora.
O seu vestido foi o vestido mais bonito da
nossa terra.
Dona Domitila, marquesa de Santos, a senhora
se vestiu de amor...
Que pena não ter morrido moça, de cachos pretos,
de olhos alegres.
Que pena ter teimado em ficar velha, de vista
cansada, de cabelos brancos, dona Domitila, marquesa
de Santos...
In: MOREYRA, Álvaro. Circo. Rio de Janeiro: Pimenta de Mello, 1929
Chamam certas mulheres de infelizes.
E dizem que elas são da vida alegre...
In: MOREYRA, Álvaro. Circo. Rio de Janeiro: Pimenta de Mello, 1929
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