Roberto Zular
Nació en São Paulo, Brasil en 1971, se formó en derecho y posteriormente obtuvo el doctorado en letras francesas. Recibió el Prêmio Nascente de la Universidad de São Paulo por el libro aún hoy inédito “Superfície, Transparência, Espelho” (1993). Es profesor en la Universidad de São Paulo, en el Departamento de Teoría Literaria y Literatura Comparada. Con Verónica Galíndez tradujo y organizó la antología Dois ao Cubo – Alguma poesia francesa contemporânea (2003) y con Claudia Amigo Pino, Escrever sobre escrever – Uma introdução crítica à crítica genética (2007). Desde 1993 estudia la obra de Paul Valéry y al tema de la oralidad en la poesía. Su único libro de poemas es Estilhaço (2011).
Escribo con pólvora en tu rostro
ya no hospedo a intrusos pero
no oyes y te inmiscuyes y ves
cuanto puedes mientras digo cuidado
con la rima no sé si es verdad
o mentira pero si parpadeas explota
con pena escribo con aguja
e hilo saca la pata de tus ojos
de mi futuro uniendo el párpado
al rostro reforzando la sutura
y digo oye y tú te desesperas
los nervios están a flor de piel
y como eso bastaba para que
nos entendiéramos ni necesité
del martillo y los clavos para
escribir en tu boca te deseo
(Traducción Rodolfo Mata)
Escrevo com pólvora no seu rosto
não hospedo mais intrusos mas
você ouve e se inmiscui e vê
o quanto pode enquanto digo cuidado
com a rima não sei se é verdade
ou mentira mas se piscar explode
com pena escrevo com agulha
e linha tire a pata dos seus olhos
do meu futuro unindo a pálpebra
ao rosto reforçando a sutura
e digo ouça e você se desespera
os nervos estão a flor da pele
e como isso bastasse para que
nos entendêssemos nem precisei
do martelo e dos pregos para
escrever na tua boca te desejo
De Estilhaço (2011)
Astillo lapsos
de tiempos estallo
disparos mis sesos tuerzo
con sangre escribo en esta
vida morir salto es
fácil en un charco floto
rozo calles perforo
dudas arrojo estrellas
en tus ojos rasgo
voces quiebro
huesos ando en promesas
huevos prometo mentiras
miento la verdad
tú tiene(s) la forma
de la ficción descuartizo
frases finjo
fines
yo
sujeto después del verbo
(Traducción Rodolfo Mata)
Estilhaço lapsos
de tempos estalo
disparos meus miolos torço
com sangue escrevo nesta
vida morrer salto é
fácil numa poça flutuo
roço ruas furo
dúvidas atiro estrelas
nos teus olhos rasgo
falas quebro
ossos ando em promessas
ovos prometo mentiras
minto a verdade
você tem a forma
da ficção esquartejo
frases finjo
fins
eu
sujeito depois do verbo
De Estilhaço (2011)
Seções
/ Fingimento
/ Fingimento
BATO a cabeça
na porta da imagem
e ela resiste
polimorfa
perversa
Jogo-a na parede
e ela se vira
cinema
corto-a
e ela se holograma
…
com o pai,
tinha argumento
GUARDO ar
numa garrafa
para quando
para que para
utilizá-lo quando
podre por isso
guardá-lo por isso
quando chegar
a hora não estará
será apenas
armário, artéria, arma
gaiolas de ar
cordas amarrando
o próprio nó
armando abraços
de arame
antes
a sutileza do ar
com que dá consistência
ao fogo volume
à matéria com que faz
flutuar a água
o ar em seu labirinto
guardado solto
ACHO que me sinto
bem disse a alguém
branco vestido de branco
com cabelos brancos
o senhor não acha? disse
bem é o senhor quem
está dizendo como um outro
um outro dia disse
que estava certo que ele
teria de dizer isso
na frente de um outro
que diria você está certo
ou errado disse mas como saber
se não disse o contrário
do que acho que disse
quando disse o contrário
do que acho para
alguém que diz que só desdiz
o que falo quando falo
que essas lufadas de contos
de falas mais parecem um sonho
que já tinham sonhado
por mim
um chiclete abstrato
mascado e remascado
por muitas bocas
como quando dizem o quê
o senhor deseja digo a questão
não é o quê é quem
deseja quando digo que disseram
que ele disse o Senhor sabe
o que diz
e se alguém questionar
o que quer que se diga
basta redizer o que já se disse
antes e depois
redesdizer pelos corredores o que ouviu
dizer para alguns
como se ouvir agora fosse
na ausência de ágora dizer
o dito mas
como dizer o que se disse
se não há como testemunhar
o testemunho? acho
que estou sentindo que acabo
de dizer que escrevi
um poema você não acha?
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