domingo, 17 de abril de 2016

JOANA SERRADO [18.460]


JOANA SERRADO 

Nació en 1979 en la ciudad de Aveiro, Portugal. Licenciada en Filosofía, realizó una maestría en filosofía medieval y es una estudiante de doctorado en la Facultad de Teología y Estudios Religiosos en la Universidad de Groningen. Hizo su debut en la poesía en 2006 con el libro Tratado de Botânica, (mención de honor en el Premio Daniel Faria 2006). 

Ha publicado:

En 2006 Tratado de Botânica
En 2009 publicó su poesía bilingüe Emparedada / apagado de la pared 
En 2012 Guarany, 4Águas Editora.


[De Guarany, 4Águas Editora, 2012]


1.

Me duelen los cafés de mi ciudad
los que cierran los domingos
los que cierran por obras
los que cierran por vacaciones
los que cierran de forma indefinida

los que cierran por cerrar
los que no necesitan cerrar y se traspasan traspasándome.

Sé que voy a morir con ellos, sé que voy a morir sin ellos.

Sé que tu cuerpo es un cuerpo perecedero, corruptible.
Siento tu muerte en mis huesos y no consigo salvarte.
Tu frigidez, tu pureza pervertida
la forma en que tus maxilares se adormecen el uno sobre el otro.

Sólo el perfume de las violetas que brotan de tu cuerpo me calma.

Me duele la ciudad que escogí para morir.
No tengo sitio para escribir un poema de amor.

                            Traducciones: Verónica Aranda


1.

Doem-me os cafés da minha cidade
os que fecham ao domingo
os que fecham para obras
os que fecham para férias
os que fecham indefinidamente

os que fecham por fechar
os que não precisam de fechar e se trespassam trespassando-me.

Sei que vou morrer com eles, sei que vou morrer sem eles.

Sei que o teu corpo é um corpo perecível, corruptível.
Sinto a tua morte nos meus ossos e não consigo salvar-te.
A tua frigidez, a tua alvura apodrecida
a maneira como os teus maxilares se adormecem um no outro.

Só o perfume das violetas que brotam do teu corpo me faz acalmar.

Dói-me a cidade que escolhi para morrer.
Não tenho lugar para escrever um poema de amor.



LOS ESTATUTOS DEL AMOR

1.      (Derecho a la Posibilidad)
Que todo abrazo sea tan contundente como tu mirada.
Que toda mirada sea tan emergente como tu palabra.
Que toda palabra sea tan urgente como tu mano en mis cabellos.

2.      (Derecho al Espacio y el Tiempo)
Que haya tiempo en bloque y no ruptura de tiempo.
Que mi isla sea tu puerto y tu puerto nos sea santo.
Que se haga la comunión tanto en el beso como en el silencio.

3.      (Derecho a la Fecundidad)
Que de tu ombligo nazcan flores como savia de primavera.
Que pueda vivir de su perfume y sobrevivir a su acidez sin desflorarlas.
Que el placer no precise de la extrema unción pero que la unción del placer sea extrema.

4.      (Derecho a la perfección)
Que la palabra “amor” nunca sea pronunciada en vano.
Que el amor ya venga hecho, perfecto, no por hacer.
                               
                                 
                            Traducciones: Verónica Aranda



OS ESTATUTOS DO AMOR

1. (Direito à Possibilidade)
Que todo o abraço seja tão contundente como o teu olhar.
Que todo o olhar seja tão emergente como a tua palavra.
Que toda a palavra seja tão urgente como a tua mão nos meus cabelos.

2. (Direito ao Espaço e ao Tempo)
Que haja tempo em bloco e não ruptura de tempo.
Que a minha ilha seja teu porto e teu porto nos seja santo.
Que a comunhão se faça tanto no beijo como no silêncio.

3. (Direito à Fecundidade)
Que do teu umbigo nasçam flores com seiva de primavera.
Que eu possa viver do seu perfume e sobreviver à sua acidez sem as desflorar.
Que o prazer não precisa de extrema-unção mas que a unção do prazer seja extrema.

4. (Direito à Perfeição)
Que a palavra “amor” nunca seja proferida em vão.
Que o amor venha já feito, perfeito e não por fazer.




BOXES

Vejo do topo das escadas os 140 lugares indisponíveis
para as palavras de amor.
Como o que eu procuro não se encontra catalogado
ando aqui por cima,
entre o gás
as nuvens
e os pequenos sofás verdes
à espera de entrar.
Encontro o meu lugar vago
todos os lugares vagos com livros que ninguém lê.





de Tratado de Botânica

E eu digo: "abraça-me". E os teus braços fazem-se.
E eu digo: "abrasa-me". E tu fazes-te em braços.

É neste momento que a camélia, escondida, se ruboriza e a página tinge-se em perfume.


*


Contributos Para um Botânica Feminista

Sei que tu tens um gineceu. Eu também tenho um androceu. Se fossemos coerentes, nem sequer falávamos. (L)íamos.

Leio-te em Braille, cega de tanto esperar.


*


Parafraseando as Especialistas

Amo-te com a ponta dos dedos.


*



Estado da Questão

O que os outros escreveram sobre o teu corpo não sei
O que as outras escreveram no teu corpo não me interessa
Sei que nunca viste o teu rosto – e será que a água te engana?
Será que tens rosto?
De todas as tuas dúvidas eu te dissiparei
- abandona-te nas minhas mãos científicas ou ciosas.

Sei que nunca viste as tuas costas. Lá chegarei.
Cuidemos em vigiar o tempo. 


*


Há hortênsias que são verdes.
Arrepiam-se nos canteiros
vendo passar os carros.
E as enxadas que sulcam os regadios
mas elas não se movem.
As suas razões seminais continuam.
Arrepiadas.





De Emparedada/ Uit de Muur, Uitgeverij de Passage, 2009

Klompen/ Socos: tamancos, chinelas de pau, tb. acto de toque fisico, agressivo, da /tua, minha/ mao na / minha, tua/ face

Klompen

Gostava de te dizer como são os meus passos que me afastam de ti.
Como não vivo para ti, nem escrevo para ti.

Como não penso no meu amor, nem te amo em pensamento.

Como não te vejo nos lugares onde nunca estivemos juntos.

Como tu não me pisas quando me obrigas a seguir os teus passos,
ou como não me calcas quando descalças os pés às leonores
que bebem da tua fonte.

Como caminho firme e confiante pelos prados holandeses, entre as vacas e a lama,
e me afasto cada vez mais de ti.

Como os meus passos se afastam dos teus passos, correndo para longe, longe,
esperando que o mundo seja realmente redondo, e não plano,
e possa, um dia, chegar às tuas costas, tapar os teus olhos e dizer-te
mijn thuisland is niet meer mijn taal.


Socos

Ik wilde je zeggen hoe mijn stappen zijn die mij van je verwijderen.

Hoe ik niet leef voor jou, niet eens schrijf voor jou.

Hoe ik niet denk aan mijn liefde en je evenmin bemin in gedachten.

Hoe ik je niet zie op de plaatsen waar we nooit samen waren.

Hoe je me niet vertrapt wanneer je me dwingt je stappen te volgen,
of hoe je me niet plet wanneer je de schoenen uittrekt
van de leonoors die drinken uit jouw bron.

Hoe ik ferm en vol vertrouwen door de Nederlandse weiden loop,
tussen koeien en modder, en me steeds verder van je verwijder.

Hoe mijn stappen zich verwijderen van jouw stappen, rennend naar de verre verten,in de hoop dat de wereld werkelijk rond is, en niet plat,
en dat ik op een dag achter je sta, mijn handen op je ogen leg en zeg
a minha pátria já não é a minha língua.




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