Lara de Lemos
Lara de Lemos (Porto Alegre, 22 de julio de un mil novecientos veintitrés - 12 de octubre de 2010) fue poeta, periodista, traductora y educadora. Brasil.
Huérfana Padre y madre a los cinco años de edad, Lara Fallabrino Sanz Chibelli de Lemos fue criada por su abuela en Caxias do Sul. En la Pontificia Universidad Católica de Rio Grande do Sul, se graduó en Historia y Geografía (1945) en Pedagogía (1951) y en Periodismo y Comunicación de Masas (1958). Lemos también se graduó en leyes, Universidad Candido Mendes en el año 1975. Además, especializada en literatura Inglesa en la Universidad Metodista del Sur en el Reino Unidos.
El debut de la Lemos de Lara como escritora tuvo lugar en 1955 en el Journal of the Globe, para el que escribió breves cuentos, entre ellos "El hombre en el bar" y "Lonely Woman". En 1958, Lemos fue a trabajar para el Correio do Povo y más tarde para muchas otras publicaciones, como Último Minuto, Jornal do Brasil y la Tribuna da Imprensa. Participante de las causas políticas de la época, escribió, junto a Paulo César Pereio, el Himno de la Legalidad en 1961, la defensa de la posesión de João Goulart. Sin embargo, se vio obligada a dejar su carrera periodística debido al militar régimen, ella misma y su familia fueron detenidos.
Después de haberse trasladado a Río de Janeiro, Lemos trabajaba para el Ministerio de Educación, como madrina de Educación Superior y técnica de Asuntos Educativos. Enseñó Historia General en las escuelas públicas de Río Grande do Sul y fue profesora asistente de economía política en la Universidad Candido Mendes.
Durante muchos años, Lara de Lemos vivió en Nova Friburgo.
Poesía
Poço das Águas Vivas ( 1957 ), Prêmio Sagol;
Canto Breve ( 1962 );
Aura Amara ( 1968 ), Prêmio Jorge de Lima, do Instituto Nacional do Livro ;
Para um Rei Surdo ( 1973 )
Amálgama ( 1974 ), antologia;
Adaga Lavrada ( 1981 )
Palavravara ( 1986 )
Haicais ( 1989 )
Águas da Memória ( 1990 ), Prêmio Nacional de Poesia Menotti del Picchia;
Dividendos do Tempo ( 1995 ), Prêmio Açorianos de Poesia;
Inventário do Medo ( 1997 );
Passo em Falso ( 2006 );
ANTOLOGÍA DE LA POESÍA BRASILEÑA
Org. y Trad. Xosé Lois García
Edicións Laiovento
Santiago de Compostela, 2001
DE PRONTO, UN DÍA
Un día, de pronto,
nos arrastran a la fuerza
hacia un lugar incierto.
Un día, de pronto,
nos desnudan impúdicamente.
Un día, de pronto,
el duro frío
del oscuro catre.
Un día, de pronto,
somos apenas un ser vivo:
¿gusano o gente?
CELDAS – 1
Viajo entre túneles de sueño
como un perro vagabundo en busca
de su dueño.
Viajo en barcos fantasma
donde el tiempo retrocede en busca
del alma.
Viajo consultando archivos
y la memoria ilumina rostros
resucitados.
Viajo buscando puertos
Y me encuentro en el país
de los muertos.
CELDAS – 6
La hora de los
capuchones negros
es la hora más negra
de los prisioneros.
Descender a ciegas
por las escaleras
palpando paredes
adivinando fisuras
pisando superficies
resbaladizas
de sangre
y orina.
A ciegas.
CELDAS – 11
Habitamos donde
sólo existe arbitrio.
Partir es permanencia.
Volver no es regreso.
Un mundo absurdo
nos cerca,
fragmentado y triste.
Juego sin acierto.
Donde somos miedo,
muerte, sueño
y nuestro destino
el destierro.
Inventário do Medo, 1997
PARA QUE NO HAYA OLVIDO*
Tiempo sumidero.
El poema chispea
breve relámpago
en las tinieblas.
Árduo intento
de retener por milenios
el pájaro en su último
vuelo.
* escrito originalmente en castellano por la autora.
POEMAS ESCOLHIDOS DE LARA DE LEMOS
A pedra
A pedra e o tropeço
foi apenas o acaso
ou o começo?
Depois, a inércia.
A pedra foi castigo,
destino, desgraça?
Matéria que partiu o corpo
como vidro frágil
que se estilhaça.
- Lara de Lemos, em "Poemas esparsos (1999-2000)", do livro "Passo em falso". Porto Alegre: Instituto Estadual do Livro, 2006.
Lara de Lemos
A teia
A teia se tece
de grade sem ferro
do negro sem fresta
do muro sem pedra.
A teia se tece
do árduo da espera
do aço da espada
e sua ameaça.
A teia se tece
da fala da insídia
da rede que enreda
na mesma cilada.
A teia se tece
de liça, contenda
açoites, cobiça
invídia, solércia.
A teia se tece
de nomes antigos
de amigos perdidos
no elo das celas.
- Lara de Lemos, em "Para um rei surdo". Rio de Janeiro: Artenova, 1973.
Anticanção para o Negrinho do Pastoreio
Não. Não quero a vela
para encontrar o inencontrável.
Nem quero achar gordos cavalos
que não pertencem
a nenhum só
de nossa gente.
Perca-se tudo
(menos coragem)
no perecível
das mãos que punem
homem indefeso
nas invernias.
Não quero a vela
nem teu segredo
menino-morto-assassinado
para encontrar campo
roubado
gado engordado
com tua pobreza
multiplicada.
Poupa teu choro menino-cristo
poupa teu medo, cresce
pra luta
preto com branco
branco com preto
no mesmo campo
no mesmo lado
no mesmo canto,
- Lara de Lemos, em "Aura amara". Brasília-DF: Coordenada Editora de Brasília, 1969.
Anunciação
O verão se anuncia
nos pêssegos maduros
nos jardins perfumados
no rumor das asas
nas cigarras que cantam
como violinos desafinados.
As estações se sucedem.
Permanece apenas
o coração angustiado.
- Lara de Lemos, em "Passo em falso". Porto Alegre: Instituto Estadual do Livro, 2006.
Caçada
O dia e sua cilada
surgiram de surpresa.
No instante iníquo
não consegui rastear
a fuga. Sabia-te indefeso
à mira, ao tiro.
Despedaçaram-te.
Em cega fúria de fera
empunho meu escudo
de veneno e ódios.
Antecipo-me.
Retomo-te em meus dentes
e prossigo.
- Lara de Lemos, em "Adaga lavrada". Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; Massao Ohno, 1981, p. 35.
Cantiga do pressentir
A noite já nos espreita
e permaneço esquecida
à beira do meu destino.
És tardo porque ignoras
que vivo do que adivinho.
Repele a palavra esquiva
não te cubras de distância,
estende um lenço, um soluço,
troca teus olhos de ausente
por dois claros de esperança.
- Lara de Lemos, em "Canto breve: poesia". Porto Alegre: Difusão de Cultura, 1962.
Lara de Lemos (1944)
Cantilena nordestina
Um dois
canga no lombo
carga de boi
Três quatro
quatro meninos
no quadro do quarto.
Cinco seis
na cova a miséria
cem anjos fez
Sete oito
nem pão nem farinha
café sem biscoito
Oito nove
nem verde nem planta
a chuva não chove.
Nove dez
ninguém se incomoda
pobre tu és.
- Lara de Lemos, em "Palavravara". Rio de Janeiro: Philobiblion, 1986, p. 96.
Da investigação
Às perguntas repetidas,
hipóteses formuladas,
o acusado deve sempre
responder com clareza.
Ao inquiridor cabe agir
com firmeza.
Pode inclinar-se à paciência
desde que o investigado
saiba que está à mercê
de traçados, peias, celas,
onde aguardará
sentença.
Caso insista o acusado
em negar crimes funestos
é praxe instigar-lhe
o medo.
- Lara de Lemos, em "Inventário do medo". São Paulo: Massao Ohno, 1997, p. 18.
Da resistência
Cantarei versos de pedras.
Não quero palavras débeis
para falar do combate.
Só peço palavras duras,
uma linguagem que queime.
Pretendo a verdade pura:
a faca que dilacere,
o tiro que nos perfure,
o raio que nos arrase.
Prefiro o punhal ou foice
às palavras arredias.
Não darei a outra face.
- Lara de Lemos, em "Inventário do medo". São Paulo: Massao Ohno, 1997, p. 22.
De súbito é o susto
De súbito é o susto
estampado no rosto
refletido no espelho
parado na garganta.
Invasores transitam
pelo quarto
desrespeitam o sono
em furor incontido.
Colocam algemas
em pulsos inocentes.
Contra palavras – há muros
contra lamentos, murros.
Levam jovens na mira
de fuzis reluzentes.
- Lara de Lemos, em "Inventário do medo". São Paulo: Massao Ohno, 1997, p. 9.
Legado
Para Laury Maciel
Recuso-me a herança
deste poço vazio
deste lodo legado
em negligências.
Engulo a seco e calo.
Aposto em cada poema
— único engenho
ainda não vencido.
Proponho rubros jogos
olhos atentos
para o imaginário.
Ases de puro ouro
— naipes que guardo
para meu incêndio.
- Lara de Lemos, em "Adaga lavrada". Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; São Paulo: Massao Ohno, 1981.
Poema
Para isso vim...
Não, não foi para isso que cheguei.
Vim para dar-te o pássaro, inédito de vôos,
que há em mim.
Vim para secar o pranto
desse alguém que não és, mas que sonhei.
Vim para ver-te como queria que fosses
– tão indizível em mim. Tão indizível!
Vim para o refúgio da noite
e o doloroso presságio das manhãs.
Vim – campo, rosa, nuvem, pedra,
rio adormecido, luz.
Para isso vim e perdi-me.
- Lara de Lemos, em "Poço das águas vivas". Porto Alegre: Globo, 1957, p. 13.
Quero-me inteira
Ah! Que terrível mutilação
Esse ter que nos dar assim
Todos os dias!
Dar-nos aos pedaços
- um pouco a um,
um pouco a outro,
sem que fique nada
de verdadeiramente nosso
em nós.
Pertencemos
aos que nos afagam por hábito,
aos que nos possuem com os olhos,
aos que nos esperam sensatos,
aos que nos amam doidos
e, afinal, aos que nos querem
como nós não somos.
Quero-me eu,
completa, autêntica, cheia de abandono
pertencendo-me sem nenhuma clemência
para com a alheia expectativa.
Eu, para dar-me ou negar-me
sem explicações, falsos pudores
ou inúteis justificativas.
Não é o melhor nem o mais fácil
o que peço.
Quero-me rir ou chorar
para viver ou morrer. Inteira.
- Lara de Lemos, em "Poço das águas vivas". Porto Alegre: Globo, 1957
Se por acaso
Para Wanda
Se, por acaso, um pássaro
pousar de leve no teu ombro
recebe-o com ternura, poupa o pranto.
Sou eu quem te visita
em meio a escombros
sou eu quem volta
para teu assombro.
A vida escorre entre os dedos
O fim me foi proposto,
eu decido:
é tempo de partir,
ainda que cedo.
Ouvir sem ouvir
ou ser ouvido:
partir antes de ter vivido.
- Lara de Lemos, em "Passo em falso". Porto Alegre: Instituto Estadual do Livro, 2006.
Simples investigação
Interrogam-me o rei e o seu vassalo.
As perguntas são tantas
que tropeçam num mar de
insanidades.
Respondo o que sei
o que não sei, invento.
A impaciência do rei
não permite que eu
cale.
As palavras acossam
torturam
grisalham as fontes
encurralam.
Fácil perguntar.
Difícil responder
quando se perde o próprio
calendário.
Me exumam.
Sem memória ou futuro
sou apenas duas mãos unidas
por algemas.
- Lara de Lemos, em "Adaga lavrada". Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; São Paulo: Massao Ohno, 1981, p. 36.
Vidafora
Para Alice Ruiz
Tudo o que vivi
vidafora
pranto, cansaço
pressentimento
febre tersã
terçol, torcicolo
tropeço
dor de corte
dor de dente
dor de vazio
de abandono
de ferida
do apostema
foi semente
deste verso.
Foi adubo
do poema.
- Lara de Lemos, em "PalavrAvara". Rio de Janeiro: Philonbiblion, 1986.
Vida não vivida
Espero o fim da façanha.
O ocaso dos tiranos
a abolição dos mandatos
a bicicleta dos cegos
a vinda do ser biônico.
Espero o fim da patranha.
A supressão dos impostos
a queima das promissórias
a vitória nas diretas
o carnaval em agosto.
Espero o fim dos cucanhas.
Proibição das trapaças
manhãs de falas abertas
a praça para os profetas
o fim dos tecnocratas.
Espero o fim da esperança.
E vem, que te aguardo ainda
nesses linhos de aconchego,
em braços de puro embalo,
em plumagens de mornura,
em claras nuvens de espuma.
Enquanto não me descobres
me perco em falas menores,
me reparto sem vontade,
tropeço pedras amargas,
naufrago secretos mares.
- Lara de Lemos, em "Adaga lavrada". Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; São Paulo: Massao Ohno, 1981.
IV - Trazes os olhos derramando estrelas
A Cecília Meireles
Trazes os olhos derramando estrelas.
Foges de ti por tudo o que te cerca.
Teu roteiro é a Rosa-Ventania
apontando além de tuas fronteiras.
Nos limites do mundo crias espaços
por onde segues crente e arrebatada,
repartindo teus dias, teus abraços,
teu jardim, tuas fontes, teus segredos.
Renasces a cada morte prematura
com tesouro maior e mais profundo,
à grandeza do amor acostumada.
Inventando canções enternecidas,
prossegues com teu cântaro de sonhos
reverdecendo em cada madrugada.
- Lara de Lemos, em "Canto breve: poesia". Porto Alegre: Difusão de Cultura, 1962.
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