VIRGÍLIO MAIA
(Norte Lemon Tree, Brasil 07 de marzo de 1954) es un abogado, poeta y escritor brasileño.
Egresado de la Universidad Federal de Ceará, está dedicado a la poesía y la etnografía. Está conectado con el movimiento heráldico, siguiendo las tradiciones del noreste. Miembro de Ceará Academia.
Es hermano de Napoleón Nunes Maia Filho y Luciano Maia.
Obras
Poesía
Palimpsesto ( 1992 )
España: doce ciudades y uma aldeã ( 1993 )
Via-Sacra Sertaneja ( 1996 )
Inscrição mural ( 1996 )
Palimpsesto & Outros Sonetos ( 1997 )
Estandartes da Tribo de Israel ( 2001 )
Cartilha ( 2002 )
Timbre ( 2002 )
Recordel ( 2004 )
Etnografía
Álbum de Iniciação à Heráldica das Marcas de Gado (1992, revisto e ampliado em 2004).
De
Virgilio Maia
PALIMPSESTO
& outros sonetos
Fortaleza: UFC; Casa de José de Alencar, 1996
La ciudad docena
Era una noche llena de jardines.
yo te soñé conmigo, mi ciudad,
tu cementerio, luces y confines,
tus muros blancos y tu castidad.
Y pudo ver, soñé, sin que imagines,
todos los potros de la soledad.
Tus mujeres celosas, querubines,
los arcanos del mal, de la bondad.
Oí fragancias de cosas ya remotas,
calles desiertas, las huellas rotas,
el pasado de moros y judíos.
La Cruz, la inmensa Cruz, su gloria:
el Creciente, la Estrela y la memória
de las tres oraciones y un solo Dios.
La aldea
Su nombre no diré, que aquella aldea
muy callada la traigo en mi memória.
Solo quiero olvidarla y toda idea
de unos tiempos sin luz y rara gloria.
Olvidar, olvidar. Es vanagloria
traerla, ahora, acá donde fondea
esperanza pequeña de mi historia
sobre una mar tan gris que ya se ondea.
Triste aldea: quedose en la muy ancha
y seca soledad de La Mancha,
en el polvo amarillo Ella se pierde.
Pero sopla su nombre a los molinos
el mismo aire que toca a leves linos:
quizás Miguel Esteban o Villaverde.
Aranjuez
Calladas soledades de Castilla:
murmullos pedregosos del cristal
que es alcandora, es lámpara divina,
alburente naranjo, almohadilla.
Es la luna que pasa, que se brilla
en su trilla celeste, colosal,
mientras el viento sopla el robledal
con un bermejo olor de banderilla.
Se escucha por los Aires Dulce nota
que a azahares se junta y se alborota
entre las ciegas cuerdas del testigo
del menester de amores y jaezes.
Rozan las rosas de floridos meses
cinco puñales de Joaquín Rodrigo.
Teruel
Los toros encendidos en sus patas
clavan la tierra en trepidar de estrellas,
en trasnochadas coplas de centellas
tejidas de marfil y tibias platas.
Aldebarán se duerme en las botellas:
es espejo de muy remotas actas
de coraje, de honor y de las gratas
bruñidoras de espadas y de huellas.
Es leyenda de dos tristes amantes;
Llenos de noches – pero deslumbrantes;
es reflejo del rudo rubro rito
de las hirvientes espuelas y peleas;
de los acesos fuegos de las teas;
de caballos de acero y de granito.
Amanecer en una ciudad de España
Albahaqueres se duermen en las ventanas
azules de la calle más callada,
mientras se escucha el agua derramada
desde un jarro lloroso en las fontanas.
Hay un fragor de luz y porcelanas,
cuando la noche se hace madrugada
y se rompe la luz anaranjada
dibujando infinitas filigranas.
Los duendes se van, la petenera
cesa sus coplas de oro y de madera.
El sol Lanza los brazos a las parras,
estrechando sus muslos y sus senos.
Brilla la vida y el día ya sin frenos,
canta em la voz de todas las guitarras.
VIRGÍLIO MAIA
VIRGILIO Nunes MAIA nasceu em Limoeiro do Norte, Ceará, Brasil, em 7 de março de 1954. Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Ceará (1980), é advogado militante. Poeta, letrista de músicas, contista bissexto e xilógrafo. Incursionou também pela etnologia com o livro Álbum... e pelo notável Rudes Brasões – Ferro e Fogo das Marcas Avoengas (2004).
Virgílio Maia é um talhador, um tecelão, um ourives do verso em sua imagem submersa em textos de fina e (por razão estética) de rude tessitura. Sua Cartilha impõe um leitura quase litúrgica, de perder o fôlego, pela emoção que suscita em sentido cabalístico, axiomático. O poeta Francisco Carvalho já havia feito jus ao efeito da obra sobre o leitor incauto: “poesia desse quilate não é iguaria para o paladar de iniciante”. Mas é justo dizer que sua poesia é iniciática, de alfabetização poética, é fundante de significados transumanados. Seus versos são densos, contidos, sintéticos, emblemáticos: sextilhas, quadras e sonetos em que a fôrma e a forma se irmanam em conteúdos/inscrições imanentes. Como o poeta mesmo reconhece: “é pergunta que chega a qualquer mito”. Antonio Miranda
De
Virgílio Maia
3 ROMANCES
Fortaleza: Nas oficinas de Vladimir Marão, 2010.
30 p. Tiragem de duas grosas
Escolhemos um dos Romances, a seguir:
ROMANCE:
MARIALVA E VALENTIM
No centenário do nascimento de Rachel de Queioz. 1910-2010
As HISTÓRIAS contadas no romance Memorial de Maria Moura, de Raquel de Queiroz, têm sua secura lítica irrigada por um comovente veio de ternura: o caso de Marialva e Valentim.
Sem se importarem muito com as mortes, os tiros, os incêndios, as traições ou com os amores menores do enredo, os dois mergulharam na própria paixão. A passagem em que Marial-
va recebe, mandado por Valentim, o bonequinho de madeira que traz pintados no rosto dois grandes olhos verdes e no peito um coração vermelho traspassado por um punhalzinho, é cena, como dizia Pedro Nava, cuja evocação é uma esmagadora oportunidade poética. Foi aí, em tomo disso, que teci este pequeno romance, modesta homenagem a Raquel de Queiroz e ao amor de Valentim e Marialva.
PALAVRAS DE VALENTIM
Vou, mas volto. Marialva.
Vou caminhar muitas terras,
vou passar por tantos vales,
subindo e descendo serras,
vagando por povoados,
pelas feiras e bodegas,
andando por esse mundo
sem direito de ter pressa,
tendo só por companhia
as cordas desta rabeca,
a poeira das estradas
e o chouto da burra velha.
Vou vagar, é que eu preciso
de pagar uma promessa.
Mas carrego nos meus olhos
o verde que com certeza
é o mesmo que fíca aqui,
na cor dos teus, à espera
do dia em que poderei,
finda então a minha reza,
regressar ao teu sorriso
que desde agora me enreda.
Vou, mas volto Marialva.
E vamos deixar que cresça
este ramo de saudade
que entre nós dois se segreda.
MARIALVA CISMA A SÓS
"Vou/mas volto. Marialva".
Minha alegria se alegra
lembrando as palavras dele,
ditas assim, com firmeza,
quando por aqui passou
o bom Valentim Pereira.
Era belo saltimbanco,
mas pagava uma promessa
de mendigar pela estrada
colhendo tristes moedas
para o Senhor do Bonfim,
tocando triste rabeca.
"Vou, mas volto. Marialva".
Disse assim e foi-se nesta
estrada quase sem fim,
comprida de muitas léguas,
deixando guardada em mün
esta saudade que pesa
e o verde dos olhos verdes
que desde então me tem presa.
"Vou, mas volto. Marialva".
Passou-se o tempo da ferra,
passou-se o tempo das frutas
e Valentim não me chega.
"Vou, mas volto. Marialva".
Palavras que são promessa.
Passou-se o tempo das chuvas,
passou-se o tempo da seca,
passou-se o tempo, passou-se
já tanto tempo de espera.
ALGUMA PROSOPOPÉIA
A rua daquela vila
estava todinha cheia
da muita gente que foi
pra festa da padroeira.
Era tanta gente que
se assemelhava a uma feira,
havendo até cantadores
disputando uma peleja.
Fui pra lá mais meus irmãos
todos feitos de madeira,
folguedos para meninos,
bonecos pra brincadeiras,
que um carpinteiro nos fez
com taliscas de primeira.
Chegamos lá bem cedinho,
no comecinho da festa,
e depressa armou-se banca
bem no patamar da igreja.
Um por um foram vendidos
pra meninos que se alegram.
Um por um foram levados
e eu fiquei só sobre a mesa,
mas lá do céu me fitava
minha madrinha tão bela.
Pois aí chegou um moço,
tendo à mão uma rabeca.
Tinha uns olhos grandes, verdes
em sua cara morena,
mas trazia no semblante
tristeza de fazer pena.
Pegou-me e pagou-me ao dono,
mas não se desfez da queixa
que a saudade imprime em quem
muito longe um amor deixa.
Guardado no seu alforje,
pude ouvir a noite inteira
doídos sons que tirava
com o arco, não na rabeca,
mas das profundezas d'alma
e d'alma das profundezas.
Limpo de qualquer pintura
todo o meu corpo assim era,
que da madeira branquinha
se viam todas as veias.
O moço dos olhos verdes
a um pintor me fez entrega,
de cujas mãos então trouxe,
pintado com cor vermelha,
desmedido coração
que rudo punhal espeta.
Traspassado coração
donde o amor, rubro, goteja.
Enormes dois olhos verdes,
que aos do moço se arremedam,
tenho agora no meu rosto.
São verdes, verdes de relva.
Pelo moço fui mandado,
por carinhosa encomenda,
e em menos de dia e meio
cheguei às Marias Pretas,
saudoso sítio onde mora
Marialva, uma princesa
por graça e por formosura,
por seu riso de donzela.
Marialva, a que me acolhe
no seu colo quando reza
e que se ri quando brinca
no peitoril da janela,
fazendo rodopiar
um bailarim nas mãos dela.
“Qualquer pessoa que conheça as trovas de Bandarra e tenha, por elas, a mesma admiração que tenho, ao ler esse “martelo-gabinete” de Virgílio Maia nota imediatamente como autor foi fiel ao espírito e à forma da poesia judaica e portuguesa de tradição messiânica; e como os dois autores dos “Estandartes”, lançando mão de elementos “arcaicos e populares” da nossa cultura, terminaram, paradoxalmente, fazendo uma arte cifrada mas de vanguarda.” Ariano Suassuna
BENJAMIM
Em Benjamim há um lobo que não dorme,
nascido em Canaã, banhado em pranto.
Filho do sul, no prisma do arco-íris
embalou-se nas cores do acalanto
que Jacó mussitava s mansas pedras
num momento de encanto e de quebranto.
SIMEÃO
O dia aponta dardos de topázio
às líticas defesas de Siquém.
Deus ouviu Simeão, o violento,
que sabe quando a força lhe convém:
saqueia e queima e mata e desbarata
até que sobre o chão sobre ninguém.
“É abrir o volume, ao acaso, e encher os olhos e os ouvidos com poesia de alta qualidade, feita de sentimento, muita arte e sólida cultura”. Sânzio de Azevedo
MAIA, Virgilio. Estandartes das tribos de Israel. Cerâmica Socorro Toquato. Martelo-gabinet Virgílio Maia. Apresentação Ariano Suassuna. Ensaio Natércia Campos. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2001. 48 p. ilus. 16x18 cm. Capa dura. Texto da contracapa: Leonor Scliar Cabral. ISBN 85-7480-065-1 Tiragem: 2000 exs.
A Casa do Saquinho
Décima com mote de domínio público
Já não se ouvem as pisadas,
os risos, as brincadeiras
e o cheiro das trepadeiras
hoje são coisas passadas.
Tinha as paredes caiadas,
em volta um jardim florindo.
Pois tudo aquilo está findo,
que do ontem restou um nada,
casa velha abandonada
que o tempo vai demolindo.
Rudes brasões
Meu avô imprimiu no couro vivo
de um boi brabo seu rústico brasão,
inflamada divisa do sertão,
que passou ao meu pai, qual aos meus tios.
A caatinga o forjou e lhe deu brilho;
as veredas do tempo, as diferenças:
para o meu, um puxete e essa pequena
flor na ponta que de outros o separa
quando, aos berros do gado, se declaram
ferro e fogo das marcas avoengas.
Pois das eras salvou-se uma relíquia:
um chocalho amarelo e meio tosco,
que por anos batia no pescoço
de uma vaca de nome Colombina.
Hoje dobra, dorido, às tão tranqüilas
solidões da fazenda em que tocou.
No metal do seu corpo se engastou,
posta ali a punção, armorial,
uma marca indelével, o ancestral
e incendiado brasão do meu avô.
MAIA, Virgilio. Recordel. Textos de Jorge Luis Borges, Maria de França, Guilherme de Aquitânia, Luis Câmara Cascaudo e Gonçalo Fernandes Trancoso cordelizados por Virgílio Maia. Cotia, SP: Ateliê Editorial; Fortaleza: Edições Poetaria, 2004. ISBN 85-7480-238-142 p. 20x20,5 cm. . “ Luciano Maia “ Ex. bibl. Antonio Miranda
AS HORAS SERTANEJAS
Não lhes direi do presente,
mas de um tempo que se foi,
do Sertão-do-nunca-mais,
do couro, de muito boi,
dos aboios, das cantigas
dos velhos carros-de-boi.
Aqui tenho por meu guia
um livro muito afamado,
redigido por grande homem
do nosso vizinho estado.
Luís da Câmara Cascudo,
um potiguar arretado.
Há de ser sempre lembrado,
pelo muito que escreveu.
Qual ele quase ninguém
nossas coisas percorreu,
anotando com carinho
tudo o que viu e o que leu.
Quase uma grosa nos deu
de preciosos estudos
sobre as mais diversas coisas,
até linguagem dos mudos,
obras por todos buscadas,
por mor de seus conteúdos.
Escreveu sobre os escudos,
os que Holandês invasor.
às nossas Capitanias,
sob o lábaro tricolor,
certo dia achou por bem
fazer-se de doador.
O tempo tudo destrói,
coisa alguma lhe resiste.
Passam os anos., passam os homens,
e passa o que mais existe,
e a vida se vai passando,
nos mostra o ponteiro em riste.
Embora não mais se aviste
o Sertão velho, avoengo,
vou lhe falar de um relógio
muito antigo e solarengo,
se rima Deus me mandar
aqui para o velho quengo.
No tempo do realengo,
o dos nossos bisavós,
era tudo mais tranqüilo
não havia quiprocós
sendo as coisas mais de jeito,
as cordas com poucos nós.
Não se tinham tantos prós
e contras como hoje em dia,
a vida passava calma.,
fluíam. sem correria,
as horas sem muita pressa,
bem lentas. sem agonia.
Do aboio fala. Senhores,
este canto em que o Sertão
se acalma, se põe dolente,
e que qualquer barbatão
ouvindo vai pro curral,
os olhos postos no chão.
Cacimba roubada, então,
é capítulo sem ruindade.
Um é bom, dois é melhor,
três é ruim... diz a verdade
o lusitano afamado,
Antônio Galvão de Andrade.
Esta obra de qualidade
traz em sua introdução
das horas os antigos nomes,
que se usavam no Sertão
e que agora eu cordelizo,
pedindo muita atenção.
Uma bela ilustração
a cada hora corresponde,
da lavra de mestre Audifax,
artista que não se esconde,
se se exibe um texto a ele
com um desenho responde.
Em seguida a estes sextetos cordelescos, Virgilio Maia nos brinda com uma série de versos e ilustrações de Audifax, remontagens a partir das já referidas Tradições ... do folclorista Câmara Cascudo. Reproduzimos a seguir a primeira das “horas”; as demais deverão ser buscadas no excelente livro RECORDEL (Cotia, SP: Ateliê Editorial; Fortaleza: Edições Poetaria, 2004). 141 p.
Soneto alado com cavalo branco
Trovejante trovão troou no céu,
a treva transformando em claro dia;
transumano contraste sucedeu,
transmudando pavor em alegria.
Foi aquilo verdade ou foi um sonho,
realidade vera ou fantasia,
quando inteiro Sertão tremeu medonho,
obedecendo antiga profecia?
Ao perpassar das éguas e das nuvens,
em crescente o cavalo pôs-se alado,
guerreiro fez-se, ao Norte e no passado.
Mastigando luares de marfim
na tarde foi -se, galopando aléns,
entre talos de doce gergelim.
Extraído de PALIMPSESTO & outros sonetos. Fortaleza: Casa de José de Alencar, 1996. 125 p. (Col. Alagadiço Novo)
Texto de VIRGILIO MAIA impresso sobre couro curtido nas Oficinas de Vladimir Marão, tipografia do autor, 2011.
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