domingo, 26 de abril de 2015

MANUEL DE CASTRO [15.767]

Café Gelo



Manuel de Castro

Manuel de Castro Amorim y Cabrita ( São Sebastião da Pedreira, Lisboa el 17 de noviembre de 1934 - Lisboa, 12 de septiembre de 1971) es un escritor portugués.

Manuel de Castro: un cocodrilo

Manuel de Castro es otro poeta portugués olvidado por esos "hombres del saco" que se esconden detrás del llamado canon. Así se autorretrata el poeta en la encuesta con que E.M. de Melo e Castro y M. Alberta Menéres acompañan los poemas de cada uno de los incluidos en su Antologia da novíssima poesia portuguesa (Moraes Editora, 1971).

Nombre: Manuel de Amorim e Castro Cabrita

Nacimiento: Nació en 1934 en Lisboa. (Murió en la misma ciudad el 12 de septiembre de 1971)
Formación cultural, profesión, estado civil: Frecuentó el bachillerato. Casado.
Libros de creación poética: Paralelo W (1958), A estrela rutilante (1960)
Principales colaboraciones poéticas en periódicos y revistas: Piramide, KWY, Cadernos do Meio-Dia, Bandarra, &etc, Grijo, Diário de Lisboa.

Otras indicaciones que el autor considera útiles: El autor declaró no considerarse incluido en ningún Grupo Literario.

Poeta libre -como sus compadres, António Barahona (da Fonseca) y Luiz Pacheco, dos heterodoxos de quienes aquí ya hemos traducido alguna cosa-, refractario a las escuelas y los grupos, y que circuló por varias tertulias y publicaciones de la órbita surrealista en la Lisboa de los cuarenta y cincuenta, con la suficiente inteligencia para no quedarse nunca a vivir en ninguna. Su poesía, que pronto -parece- será reeditada, entronca con la de otro de los que, de aquellas tertulias delirantes robó el secreto en ascuas de la palabra: Helberto Helder.


Aquí queda mi versión de uno de sus poemas, tomado de la citada antología de Melo e Castro y Menéres.


ICH BIN EIN KROKODIL

Como si la fiebre me hubiese cegado, aquí permanezco, despierto y sin embargo quieto, hasta el momento en que algo vivo se agita (esto sucede diaria y regularmente), se agita sobre el pequeño lago artificial cercado por una alta valla metálica, donde desde hace algún tiempo (¿cuánto?) vivo encerrado.

Soy todavía bastante rápido; al caer en el agua, el alimento –carne putrefacta, sin el atrayente color de la sangre- produce un sordo “plof” y en un momento fulgurante me encuentro sobre la superficie del agua con mi boca muy abierta en el lugar donde se sumerge la dosis cotidiana de vida; al cerrarla, los dientes se encajan ruidosamente unos en los otros y el sonido se propaga por el minúsculo océano circundante. Regreso lentamente a la arena.

La carne. Es una materia que se instala en mí, provisoriamente, bien es cierto, pero que no obstante se incorpora al volumen que soy, perturbándolo, alterándolo. Hasta la defecación, hasta el uso total de aquel alimento, resulto aumentado, por así decir, otro.

Privado de luchas y largos movimientos, la situación es, pese a todo, confortable; y esta cantidad de calor, de alimento, aun corrupto e insípido, a ningún esfuerzo me obligan, excepto la breve zambullida, la velocísima deglutición.

Suenan ruidos, voces.

Inicialmente dejaba que mis ojos siguiesen una cierta curiosidad que los movía, lentamente, somnolientos, morosos, por sobre las cosas y la fútil agitación de los otros animales, principalmente aquellos, extremadamente vivaces e inquietos, que rodean, de vez en cuando, la alta valla metálica que da una dimensión a mi universo y una medida (relativa, relativa…) a mi cuerpo. Con todo, he acabado por acostumbrarme. Ahora las voces se han transformado apenas en un murmullo al fondo sonoro de mi continua somnolencia. Tibio, dormito.

El horizonte de que dispongo sufre únicamente modificaciones sutiles, casi imponderables, que se adhieren a esa peculiar posición en que me observo, intransmisible e integrada en los límites de mi existencia total y absoluta. Los objetos, esclavizados por la rutina de las gradaciones sucesivas de la claridad, viven con una paciencia que es también en cierto sentido mía, sometidos a mi atención letárgica y no obstante presente, presente, incapaz de moverlos y sin embargo receptiva y peligrosamente sensible. Envuelto en un aura de líquen y alta temperatura, una tibieza húmeda, salobre, espesa se va acumulando sobre mi piel, como si el tiempo esperase construir un barniz oscuro que me defienda de las mutaciones bruscas. Esta capa protectora es una señal de la mansa reconciliación que se desarrolla entre mí y el moroso universo silente del que participo. Arena, agua, el metal de los barrotes, las plantas acuáticas, los residuos de un exterior desconocido son hasta aquí arrastrados, los movimientos aparentemente absurdos de los animales excitados que me miran con una repugnacia oculta, todos esos elementos se disuelven en los pequeños matices bochornosos que dan tono a esta infinita vida de cocodrilo, de este reducido infinito de mi existencia de saurio, cuyos comportamiento, cualidad y alcance, absorben, respiran la envolvente luminosidad tibia y otorgan permanencia al perpetuo movimiento circular de todas las cosas.

(Traducción: Luis María Marina)
http://luismariamarina.blogspot.com.es




Clube dos Poetas Imortais: 
Manuel de Castro (1934-1971)

Conheci o Manuel de Castro no café Gelo, em 1958. Tinha um feitio difícil, passando facilmente de uma extrema afabilidade para uma agressividade também excessiva (ou vice-versa). Se fosse hoje, dir-se-ia que sofria de bipolaridade. Na época atribuíam-se estas coisas a razões mais prosaicas – ao excesso de álcool, por exemplo. Porque Manuel de Castro foi um grande poeta, era uma excelente pessoa, mas abstémio não era. À medida que o íamos conhecendo, ia dissolvendo-se a sua carapaça de formalismo ou de grande animosidade, e aparecia o verdadeiro Manuel – cordial, bem humorado, irónico, com grande capacidade de encaixe para aceitar críticas. Ria-se em prolongadas casquinadas que lhe faziam estremecer os ombros.
Eu não valorizaria nem a eventual bipolaridade, nem o real alcoolismo – diria que Manuel de Castro era uma pessoa tímida e sem jeito para o convívio. Não fazia concessões nem fretes – se lhe liam um poema e se ele não gostava, dizia-o logo de forma brutal e demolidora ou de maneira delicada, mas consistente, consoante estava em dia sim ou em dia não. Tinha uma personalidade vincada e, sobretudo, era um grande poeta a quem nunca foi dado o merecido valor.
Éramos muito amigos. Uma vez até andámos à porrada (e há lá melhor maneira de selar uma amizade!). Uma piada envenenada que ele disse sobre a «Pirâmide» e que eu levei a mal. Felizmente que estávamos ambos com os copos e, diz quem assistiu à cena, que a maioria dos murros acertou no vácuo. Ele tinha uma direita potente e aleijou os dedos nos azulejos da parede. Talvez mais sóbrio, esquivei-me a tempo e o Manuel andou com a mão ligada nos dias seguintes. Se me tem acertado, partia-me ao meio. Foi na festa de despedida do Café Royal, salvo erro, no fim de 1960 ou no princípio de 1961. Passou a ser um banco.
Com um outro amigo que apenas me lembro chamar-se Toninho, fomos uma vez acampar para o Zambujal, perto de Bucelas. Foi uma épica semana de copos e aventuras várias. Houve também, no Verão de 61, um agradável almoço em minha casa, perto de Carcavelos, com o Renato Ribeiro e a Fernanda, o Benjamim Marques e a companheira, de cujo nome não me lembro, do Manuel e a Natália, sua mulher, eu e a Helena, que tínhamos acabado de casar.
Depois saí de Lisboa. Poucas cartas escrevemos, pois não éramos de grandes epistolografias. Quando vinha a Lisboa, víamo-nos e pude ir apercebendo-me de que a doença iria levar a melhor (o Luiz Pacheco afirmava que foi uma espécie de suicídio, continuando a beber depois de saber que isso lhe seria fatal). Com 37 anos, morreu. Um amigo e um grande poeta que desapareceu.
Mas não da minha memória.

Manuel de Castro, nasceu em 17 de Novembro de 1934 em Lisboa e faleceu, também em Lisboa em 12 de Setembro de 1971. Viveu os primeiros anos em Goa, onde o seu pai era encarregado do Governo e depois na antiga Lourenço Marques. Regressado a Lisboa e tendo perdido a mãe aos 6 anos, o pai enviou-o aos 8 anos para o Seminário dos Padres da Consolata. Sem vocação sacerdotal, fugiu do seminário. Autodidacta, interessou-se por diversos ramos do conhecimento – a literatura, a poesia, a filosofia, as línguas. Sabia sete idiomas para além do português., incluindo o alemão e o dialecto de Heidenheim, cidade em que viveu cerca de 4 anos e em que foi interprete da polícia e dos tribunais, face a quantidade de emigrantes ali existentes das mais diversas nacionalidades.

Em 1958 saiu o seu primeiro livro de poesia – «A Zona». Mais tarde publicou «Paralelo W» com capa de João Vieira, e «Estrela Rutilante». Colaborou na revista Pirâmide, com Alfredo Margarido, Ángel Crespo, Edmundo Bettencourt e outros grandes nomes da cultura portuguesa e internacional, nos Cadernos do Meio Dia, na Poesia 71, na Colóquio, na Árvore, na & ETC, na Contraponto…Foi incluído na Antologia do Surrealismo e o Abjeccionismo. Foi também integrado nas duas antologias da Novíssima Poesia Portuguesa da responsabilidade dos escritores Mello e Castro e Maria Alberta Menéres e ainda na do Humor Português que abrange escritores dos séculos XVIII a fins do século XX. Numa bienal de Paris entre 1963-66 foi considerado, com Carlos Drummond de Andrade, um dos melhores poetas da língua portuguesa. Do número 2 da Pirâmide, seleccionei um poema com o título de


Poema

A noite está líquida oclusa vegetal
é um corpo longilíneo e desmembrado
flui como um rio de si mesmo alheio
flui e envolve pressagiando cárceres
a noite tem hoje uma altitude especial
com aves negrejando lentamente
neste desintegrar-se de memória

e eu sou uma alucinação rítmica
com um tempo corpóreo a devorar
um mar excessivamente quieto na cabeça
excessivamente muscular e lúcido

a noite distribui pedaços de lua
aos farrapos na inconsciência dos prédios
sobre a cidade a cidade a cidade louca
que desvairou nas minhas mãos nos dedos
possuída de um candelabro antigo a partir-se
um lampadário cristalino e rutilante
a quebrar-se com súbitos estilhaços pela noite fora

viajo nitidamente pelo passado
na organização de um jogo de perigo:

o meu amor é a aquisição de uma técnica
um processo de transformação dos corpos
a prospecção dramática dos ritos
uma queda livre e vertical
um olhar imóvel sobre o mar
a oferta do tempo sem comércio nem ódio
fibra a fibra
do tempo crivado de buracos baleado
assassinado corrupto perdido

o meu amor é correcta magia dos sons
a ultrapassagem da noite
fulminante e arrebatada num círculo de fogo
coberta de engenhos de destruição
correndo extensamente sem peso

o meu amor é uma trovoada nas margens da noite
uma proposta veiculada a sangue
patrocinada pelos mortos deambulantes
e é ainda a carcaça húmida dos barcos
destroçados n’areia

a noite é um coral magnífico na noite

http://aventar.eu/2009/12/26/clube-dos-poetas-imortais-manuel-de-castro-1934-1971/





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