domingo, 27 de marzo de 2016

ELLEN MARÍA MARTINS VASCONCELLOS [18.326]


ELLEN MARÍA MARTINS VASCONCELLOS

Poeta Brasileña, natural de Santos. Graduada en Letras en la Universidad de São Paulo. Estudia la maestría en literatura latinoamericana contemporánea y su diálogo con la televisión y el cine. Trabaja como revisora y tradutora de textos. Profesora de portugués y español. 

Sus poemas fueron publicados en diversas revistas y antologías, incluyendo Anamorfoses (2014, editora Annablume - Brasil), y Frontera (2015, Lagrullita Cartonera - Chile). 

Autora del libro de poemas  Chacharitas y Gambuzinos , publicado por patois en dos idiomas (2015). 

Traductora del libro  Ângulo de guinada, del autor Ben Lerner, publicado en ebook pela e-galáxia (2015). 

Colabora editor Malla Fina Cartonera con el trabajo de traducción, entrevistas, artículos y en la línea de producción. También colabora con traducciones en la página de facebook de la  poesía de las Américas.



Escuchen la brasilera

Yo soy una chica rutera
me gustan las gasolineras
los baños de restaurantes
las ruedas llenas de grasa
los oídos llenos de cera
las rutas llenas de ratas
las heces llenas de tierra
las miradas llenas de sierras
de playas de playeras
de frentes de fronteras
y que no me siga nadie
por la calle o carretera
llevo balas en los ovarios
mi soledad es mi bandera
y en el día en que me muera
no busquen mi paradero
que derrita mis cenizas
un volcano en la cordillera.


No existe amor en São Paulo

Lamí tus dedos
como paleta mexicana
en la calle Augusta a las dos
de la tarde.
Devoré tus besos
entre el mar de gente
sedienta
en la Plaza de la República.
Mordí tus espaldas
mientras cantábamos
al son independiente
en un centro cultural.
Tragué tu hálito
como un sandwich de pierna
en la final de un partido
en la cancha de Pacaembu.
Bebí tu sudor
en el medio de un paseo ciclista
en una mañana de sábado
en el Parque Ibirapuera.
Mastiqué tus ojos
mientras esperábamos en la fila
del teatro
en la Casa Pompeya.
Comí tus piernas
con palomitas
viendo una película vieja
en la Muestra Internacional de Cine.
Engullí tu leche
mientras ardía
humo verde
en la Plaza Por-do-Sol.
Probé tu vientre
cuando el tren partía
en la Estación de la Luz.
Guardé tus restos
en un tupperware azul
en el fondo de mi
freezer.
Doné el refri
con todo dentro
por el facebook.



El efímero

En la sala de espera
del dentista
espera un señor
con un saco de sastrería
ser atendido
las revistas Caras en la mesa del centro
exhiben dientes blancos
y perfectamente en línea
en la silla izquierda
no hay nada
en la silla derecha
una adolescente toca el cielo de la boca con la lengua
mientras dice al padre
por un mensaje de texto
que será la próxima
del otro lado de la sala
la recepcionista bilingüe
come la uña
y busca promociones de pasajes aereos
a Cancún
en el baño
una mujer embarazada cepilla los dientes
con el dedo medio
en la puerta al lado
el dentista se prepara
alcohol gel, lienzo húmedo
pinzas esteriles
lava las manos con desinfectante
piensa en el culo de su mujer.
En diez segundos será otra cosa.




Mi despegue, tu aterrizaje

"Volver, vuelvo todos los años, pero no para quedarme. 
La pregunta para mí no es por qué no vivo en la Argentina
 sino por qué vivo en México. 
Y la respuesta es muy simple: 
Porque estoy enamorado de mi mujer, 
eso es todo". (Juan Gelman)

siete mil cuatrocientos cuarenta km
entre la lluvia ácida de la Ciudad de México
y la tierra seca de São Paulo

que se caiga el avión en la tormenta
así volamos sin paracaidas
y de ojos abiertos

que el destino de nuestro viaje ciego
sea las manos dadas
entre dos astronautas jugando rayuela.




Patria word reference

Yo fui a vivir en otro lado
y acá si me preguntan qué hago aquí solo digo vine
si allá me preguntan a qué fui no digo nada
hago el amor veinticuatro horas por día
siete días de la semana
y nadie más que tú tiene nada que ver con eso
pero quién querrá vivir del otro lado cuando hay tanta vida de éste
y si me preguntan si quiero irme de aquí digo nunca sola
solo vuelvo allá si voy contigo, solo vuelvo si allá
viviré tanto y tan bien como aquí
Soy extranjera en mi propio país.




Frasco de segredos.

Depois de um dia de muito calor, antes de tomar banho, passo o dedo indicador direito no meio dos seios, a palma da mão esquerda no pescoço, e coço o couro cabeludo com todas as unhas. E no nariz, quando levadas as extremidades dos membros superiores até ele, fica uma mescla de vários cheiros bons, e meus. Depois ela desaparece e quando saio da ducha, dentro do banheiro só sobra vapor. E intimidade.




Bestiária

É noite
se enterra o silêncio

Minha cabeça cansada
não sabe escolher o lado onde repousar
no travesseiro
cruza o quarto
vai a janela
e vê voar uma bandeira
solitariamente sentimental
que lentamente
também vai
ao encontro
do chão

Assim morre um pássaro
ou sonho?

É noite
se enterra o silêncio

Assim morre o pássaro
ou um sonho?




Em punho

Sempre saio
com um apito no bolso
um canivete na bolsa
dinheiro no tênis
rg na calcinha
são tantas as mensagens pra mim mesma

e o medo de olharem pra mim
o medo de me notaram sempre
que passo por alguém
que me assusta
faço cara de dor
e falo sozinha

passos rápidos
procurando um ansiolítico
na mochila das formigas

a velha calça cargo
com seis bolsos
pra levar o aluguel
a imobiliária não entende
quando saco duzentos reais de cada tênis
cem de cada bolso
ninguém entende
são as doze quadras mais longas da cidade
caminho com meu punho
fechado
fazendo força

Todo sigilo é pouco
eu sei
todo homem é louco
eu também sou
homem digo
e fico pensando em cada coisa

só o homem sentado na calçada
me dá
o olhar que dou
para aqueles que não me passam medo

não quero ficar louca
não quero ficar louca
não quero ficar na rua
lá vai outra louca na rua
repito
tantas vezes até voltar pra casa
com os pés quentes
e as notas
e o rg molhado

estará o perigo acontecendo agora?
estará o perigo
acontecendo onde?
pergunto enquanto
em punho
ainda ando.




Ser neta

Nunca pude saber
se seu pai quis ser meu avô
porque seu filho nunca quis ser
meu pai.



Classificados: Massa insurgente 
busca vanguarda revolucionária.

Requisitos obrigatórios:
Liderança, espírito de equipe, lista ativa de contatos com variados grupos oprimidos, autonomia e dinamismo. Fundamental saberes na área de gestão de pessoas e experiência com gerenciamento de conflitos. Excelente dicção, fluência em 3 línguas, capacidade de trabalhar sob pressão. Disponibilidade para viajar.

Conhecimentos indicados:
Retórica, história geral, educomunicação, principais correntes críticas filosóficas e sociológicas, literatura universal, geopolítica atual, manejo de armas. Desejável especialização em revolução russa e movimentos proletários.

Documentos necessários:
Um manifesto coerente e perspicaz que dialogue com a conjuntura da América Latina.
Carta de propostas a curto e largo prazo.
Curriculum com indicação.
CNH.

Funções:
Responsável por transmitir informação de maneira objetiva para as delegações, liderar o comitê executivo.
Coordenar as reuniões com as diversas áreas (recursos humanos, relações públicas, tesouraria, meios de comunicação, limpeza, alimentação, cuidados médicos, fabricação e armazenamento de armas, tecnologia), assegurar que o trabalho intelectual siga em confluência com o trabalho manual.
Fiscalizar diariamente as ações das equipes de estratégia política e resolução de problemas imediatos, fornecer e coletar ideias criativas para o seguimento da revolução.
Gerenciar a desestruturação das instituições coercitivas legitimadas pelo sistema capitalista, garantir o bom andamento da luta de classes.

Benefícios:
Desenvolvimento pessoal e profissional.
Pacote salarial atrativo.
Inclui três refeições diárias, moradia no local de trabalho, assistência médica.

Outras informações:
Trabalho de dedicação integral.
Não é necessária experiência anterior neste cargo.
Contratação imediata devido à proximidade com o colapso do capitalismo.

Interessados nesta vaga e que se encaixam no perfil, entrar em contato urgente com movimentos sociais, organizações políticas, mediadores de assembleias locais, líderes de ações populares, resistentes da causa operária e editores-chefes da imprensa de esquerda.




A poesia viverá
ainda que ninguém me escute
e veja a escuridão
ainda que a água siga subindo
e me doa o corpo
ainda que a rejeição se misture ao esquecimento
e nasça ratos
ainda que me peçam caos
e se abra um buraco no chão
ainda que eu morra na fuga

e alguém me chame
ainda que eu veja a luz
e a água siga baixando
ainda que me doa a alma
e o abraço se misture à memória
ainda que nasça flores
e me peçam silêncio
ainda que se faça amor no chão
e eu morra na espera
A poesia viverá




Ciências e Letras

Vejo um poema distante
que desaba
na mesma proporção
em que me aproximo
quando chego a um palmo de seu corpo
o poema não passa de um rastro
de um triz
de fiapo
agarrado
numa célula
da medula da ameba
num microscópio
de um cientista renomado
ganhador do prêmio Nobel
do ano passado.




Autorretrato

Pinta aquele que se vê
íntimo, nu
em simultâneo estrangeiro
onisciente, ínfimo
com direito a olhar a si
distinto
e ao mesmo tempo inteiro
Voyeur com um espelho
que fita o vivo e opaco
personagem-protagonista
fotografia de um pedestal vazio
porém adornado
Um corpo frio que se expande
e que nunca antes
houve outro igual
Finaliza a figura que o rebaixa a homem
e honra orgulhosamente
o nome
na assinatura de um poema.




Desaguo

Duas linhas cor-de-rosa
e outra vez o medo
do sangue
que sempre esteve por vir
e que eu termine
jogando um produto azul
para limpar o vaso.
Duas linhas cor-de-rosa
e outra vez o segredo
de blindar qualquer sorriso
antes do terceiro mês
e a espera eterna
de quem nunca viu
o sol nascer.
Duas linhas cor-de-rosa
e outra vez o silêncio
o luto por ninguém
às vezes tenho vontade
de estar só
às vezes só quero
que tudo não se parta.
Duas linhas cor-de-rosa
e a leitura do prospecto.
Me canso dessa escritura
sem relato.
É tão longe pedir
tão perto saber que não existe.



Crônica de uma fuga

O beija-flor
na hora do sexo
treme e resplandece
depois voa e desaparece.



O meio e a mensagem

Não cai uma gota
desde o ano passado
e na única emissora de rádio
com espaço para música clássica
não há previsão do tempo
mas depois do intervalo
o locutor sem esperança
derrama no ar 
As Quatro Estações
de Vivaldi.

Do outro lado
o ouvinte chora.




Se eu me sinto latino-americana?

Se roubam a prata como às uruguaias
Se me matam de fome como às peruanas
Se me secam de sede como às bolivianas
Se me arrancam a língua como às paraguaias
Se me tiram os olhos como às jamaicanas
Se me desaparecem as veias como às panamenhas
Se me queimam a pele como às dominicanas
Se me comem a carne como às brasileiras
Se me querem distante como às cubanas
Se me querem invisível como às guianas
Se me querem pequena como às equatorianas
Se me querem muda como às nicaraguenses
Se me querem surda como às salvadorenhas
Se me querem puta como às porto-riquenhas
Se me querem escrava como às mexicanas
Se me querem pobre como às haitianas
Se me querem morta como às guatemaltecas,
Sim, me sinto latino-americana
e inclusive depois de morta
seguirei sendo desta terra.






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