ADEMIR DEMARCHI
Nacido en Maringá (Paraná, Brasil) en 1960. Reside en Santos, Doctor en Literatura Brasileña, es editor de BABEL - Diario de Poesía, traducción y crítica. Es el autor de
Os mortos na sala de jantar (Realejo Livros, 2007) y recopilador de Passagens – Antologia de Poetas Contemporâneos do Paraná (Imprensa Oficial do Paraná, 2002).
A LA MANERA NEGRA
la manera negra, como un portal
de tenue tiniebla represa en un dique
la luz oculta, silenciosamente vociferante
se abre en hendiduras por donde se filtra
por donde vacía como un seco líquido
por donde grita afinando un rugido infinito
hasta tornarse lúgubre y envolvente
sonando un canto de terciopelo
Traducción del Autor
À MANEIRA NEGRA
a maneira negra, como um portal
de tênue treva represa num dique
a luz oculta, silenciosamente vociferante
abre-se em frestas por onde se filtra
por onde vasa como um seco líquido
por onde grita afinando um urro infinito
até tornar-se lúgubre e envolvente
sonando um canto de veludo
PRIMERA GUERRA BIOLÓGICA
en la batalla de Kaffa
en la rusia del siglo XIV
los tártaros atacaron la ciudad
bien instalada ella resistió lo que pudo
diezmando parte de la horda
hasta que
mudando de táctica
con el uso de catapultas
los tártaros lanzaron
por encima de las murallas
los cadáveres de sus soldados
muertos por la peste bubónica
Traducción del Autor
PRIMEIRA GUERRA BIOLÓGICA
na batalha de Kaffa
na rússia do século XIV
os tártaros atacaram a cidade
bem instalada ela resistiu o que pôde
dizimando parte da horda
até que
mudando a tática
com o uso de catapultas
os tártaros lançaram
por cima das muralhas
os cadáveres dos seus soldados
mortos pela peste bubônica
LA VASIJA
de una vasija seca
ya ornada por el tiempo
cuando nada más de ella se espera
un líquido bostezo la anima
y se derrama con la brisa
que sopla y en ella penetra y canta
Traducción del Autor
A BOTIJA
de uma botija seca
já ornada pelo tempo
quando nada mais dela se espera
um líquido bocejo a anima
e se derrama com a brisa
que sopra e nela penetra e canta
e passeios na floresta
Porto Alegre: ébilis, 2008
nietzsche por um átimo
nietzsche por um átimo
do alto da escarpa mirando as pedras
encobertas pela névoa
mais uma vez desgarrou-se do mundo
e sentiu-se pegureiro de nuvens
pastando no ar do abismo
tal como ele, o pastor lá embaixo
sentado na grama mas com o olhar
atravessado etéreo seus pequenos animais,
teve deles a visão de serem nuvens,
pequenas nuvens no pasto ôntico e ótico
oriente próximo
após a senha a sanha do prover vizir
e suas mônadas páginas nômades
o deserto eternamente móvel
eletroniza-se nos gãos/bits de areia
miragens informacionais
dunas moventes de dados gélidos
oásis-sites
cameloe-mails
cimitarras in time
incenses tolos
vestais virtuais
e sedutores portais
o hipogrifo sobre o túmulo
o hipogrifo súbito agitou as asas
alçando vôo de sobre o túmulo
em direção ao céu desejando-o seu
abaixo de seu corpo, apontando pelas garras
uma imensa calma de lápide
vasta manta no horizonte visto e vasto
não aceita a sina de triste monumento
voando tenta libertar-se de seu jugo de ornamento
determinado em vão em vôo persiste
imagem que paira presa sobre outra ampliada
imantando todos os túmulos num único espanto
a rã de bashô
velha lagoa cristalizada
de bashô salta a rã
na paisagem estilhaçada
De
OS MORTOS NA SALA DE JANTAR
Santos, SP: Realejo Livros & Edições, 2007
AMAZÔNIA
in memoriam
descansa em paz
no chão
e nos móveis da sala
MISSA
morto presente
vivos ausentes
POR ENTRE OS TÚMULOS
passeio
distraído
por entre os túmulos
às vezes noto perdido
alguém que carrega
o próprio corpo
por sobre os ossos
de todos os mortos
AFINAL, MAIS UM NEGÓCIO
o homem
é o único animal
que armazena seus mortos
e faz disso um negócio
Pirão de sereia . Santos, SP: Realejo Livros & Edições, 2012. 268 p. 16x23 cm. Capa: Antonio CC. S. Almeida. Edição comemorativa dos 50 anos do poeta, com apoio da Secretaria de Cultura, Prefeitura de Santos.
NATUREZA MORTA
na natureza morta do quarto
diante da escrivaninha onde escreve ô artista
está uma cadeira de ferro, negra como um signo
de pernas abertas e escancaradas
remete à aranha velha e peluda de louise bourgeois
proibida ao pai e oferecida ao público vulvicida
forrada de psicanálise pêlos felpudos e farpas pontiagudas
sobre um tapete iluminado por um sol ludecente e quente
cercado de parênteses e sombras expressionistas
numa parede um jogo de dardos envenenados - pigmeus
noutra a estante num vazio abismado de livros
um volume de poemas aberto num lance de dados insofismáveis
objetos de todos os passados possíveis e imagináveis
um trem de madeira um calhambeque um elefante de marfim
a ave de origami amarelada pelo tempo
incrustada num bonsai voando em direção aos livros
animais silvícolas sonhados por indígenas
uma caneta tendo por base uma capela
um relógio parado, outro movente no único ruído roendo e ruindo
o tinteiro parker ao lado de revistas de peter e ken
e uma palma de mão espalmada pálida de mármore
tatuada com flores sobre a qual um globo terrestre
em miniatura dorme num ninho de cinzas dos cubanos fumados
irmanados com os manuscritos frescos e os já velhos
de manchas de tinto ainda e para sempre inéditos
inalcançáveis de serem lidos por seus olhos que se arrastam até aqui:
DA INCAPACIDADE DE SENTIR LUTO
amas parasita, diz e diz, não hesita:
o amor, errante, além de tudo cego
feito um imenso morcego negro
que, imerso em trevas, só vê o ego
ouves senão por apupos meigos
inflação económica de si mesmo
insuflada por espelhos vesgos
e promessas de paraísos temos
no vazio de si inflas de ilusão
e epifania um Pai de aluvião
que cadencie carnificina e gozo
o ego cego que tem por coração
blindado e oco veloz do ai se esvazia
veloz esqueces crimes e imune à punição
desobrigas-te de tudo
e até do luto
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