jueves, 18 de octubre de 2012

PEDRO TAMEN (8.091)




Pedro Tamen

Pedro Mario Alles Tamen (Lisboa, 01 de diciembre de 1934), es un poeta y traductor literario portugués.
Pedro Tamen estudió en la Facultad de Derecho de la Universidad de Lisboa, donde se graduó. Entre 1958 y 1975 fue director de la editorial Moraes y dirigió la Fundación Calouste Gulbenkian, de 1975 a 2000. Presidió el PEN Club Portugués (1987 - 1990) y fue miembro del consejo y presidente de la junta general de la Asociación Portuguesa de Escritores.

Obras 

Libros de poesía publicados:

POEMA PARA TODOS OS DIAS, ed. do Autor, Lisboa, 1956 (esg.)
O SANGUE, A ÁGUA E O VINHO, Moraes ed., Lisboa, 1958 (esg.)
PRIMEIRO LIVRO DE LAPINOVA, Moraes ed., Lisboa, 1960 (esg.)
POEMAS A ISTO, Moraes ed., Lisboa, 1962 (esg.)
DANIEL NA COVA DOS LEÕES, Moraes ed., Lisboa, 1970 (esg.)
ESCRITO DE MEMÓRIA, Moraes ed., Lisboa, 1973 (esg.)
OS QUARENTA E DOIS SONETOS, Livros Horizonte, Lisboa, 1973 (esg.)
AGORA, ESTAR, Moraes ed., Lisboa, 1975 (esg.)
POESIA 1956-1978 (incl. os livros anteriores e o inédito O APARELHO CIRCULATÓRIO; prefácio de Fernando
Guimarães), Moraes ed., Lisboa, 1978.
HORÁCIO E CORIÁCEO, Moraes ed., Lisboa, 1981 (esg.) - Prémio D. Dinis.
PRINCÍPIO DE SOL, Círculo de Leitores, Lisboa, 1982.
ANTOLOGIA PROVISÓRIA, Limiar, Porto, 1983.
ALLEGRIA DEL SILENZIO (a cura di Giulia Lanciani e Ettore Finazzi Agrò), Japadre editore, Roma, 1984.
DENTRO DE MOMENTOS (com reproduções de colagens de Fernando de Azevedo), Imprensa Nacional, Lisboa, 1984.
AS PALAVRAS DA TRIBO (antologia pessoal, conjuntamente com Fernando Guimarães, Mário Cláudio e Nuno Júdice; desenhos de José de Guimarães), Quetzal-Altamira, Lisboa, 1985.
DELFOS, OPUS 12, Gota de Água, Porto, 1987.
DELPHES, OPUS 12 & AUTRES POÈMES (traduction collective, Royaumont, revue et préfacée par Patrick Quillier), Les Cahiers de Royaumont, 1990.
TÁBUA DAS MATÉRIAS, Poesia 1956-1991, Tertúlia, Sintra, 1991; reed. Círculo de Leitores, Lisboa, 1995 - Prémio da Crítica; Grande Prémio Inapa da Poesia.
CARACÓIS (com Júlio Pomar), Quetzal Editores-Cerâmicas Ratton, Lisboa, 1993.
DEPOIS DE VER, Quetzal Editores, Lisboa, 1995.
VÉR VÍZ BOR (antologia org. por Pál Ferenc), ed. Íbisz, Budapeste, 1997.
GUIÃO DE CARONTE, Quetzal Editores, Lisboa, 1997 - Prémio Nicola de Poesia.
MAÎTRE ÈS-SANGLOTS (anthologie: traduction et préface de Patrick Quillier), ed. Le Taillis Pré, Châtelineau, 1998.
ЛИРНКА [Lírica] (antologia, incluindo Dentro de Momentos, Delfos, Opus 12 e outros poemas; tradução de Georgi Mitchov e Evelina Malinova), ed. Karina M, Sofia, 1999.
ESCRITA REDITA (disco-antologia: poemas ditos por Luís Lucas), Ed. Presença-Casa Fernando Pessoa, Lisboa, 1999.
MEMÓRIA INDESCRITÍVEL, ed. Gótica, Lisboa, 2000 – Prémio Bordalo da Imprensa; Prémio do PEN Clube português.
HONEY AND POISON: SELECTED POEMS (translated by Richard Zimler), Carcanet, Manchester, 2001.
RETÁBULO DAS MATÉRIAS, Poesia 1956-2001, Gótica, Lisboa, 2001.
CARONTE Y MEMORIA (traducción de Miguel Viqueira), Huerga y Fierro, Madrid, 2002.
CARONTE E MEMORIA (prefacio de Carlos Nejar), Escrituras, São Paulo, 2004.
XAРОН И ПАМЕТТА [Caronte e Memória] (tradução de Sidonia Pojarlieva e Vera Kirkova), ed. Adrassea, Sofia, 2005.
ANALOGIA E DEDOS, Oceanos, Lisboa, 2006 - Prémio Luís Miguel Nava, Prémio Inês deCastro.
O LIVRO DO SAPATEIRO, Dom Quixote, Lisboa, 2010.



Traducción de XOSÉ LOIS GARCÍA


LOS DÍAS

3

En aquel tiempo, vivir era la mejor cosa del mundo.
Cuando hacía sol todos veían
y los hombres eran niños más allá de los montes.
Era una planicie, grande como conviene a todas las planicies
y llana porque todo estaba en su sitio.
En aquel tiempo habíamos sido criados y éramos iguales a las
                                                        hierbas y a las flores.
Tú,
tan perfecta que era imposible no ser tú,
tan erguida como júbilo de golondrina,
tu estabas a mi lado, naturalmente fresca,
y no había motivos ni razones porque sabíamos todo.
Nuestra teología era el beso del niño más próximo
y el acostarnos en la tierra con hojas de la misma planta,
apacibles, limitados conscientes.
Mirando hacia arriba, el cielo se abría y todos los ángeles
                                      venían a sentarse en el borde
y reían como nosotros con pequeñas carcajadas.
Yo cantaba canciones más bellas de lo que puedo expresar
y me oías en silencio y con ojos abiertos, exactamente como
                                                        a todos los sonidos.



LA SANGRE

10

Mil veces hombre, mil veces grito,
mil veces hora en que, mil veces,
fue todo, de nuevo y para siempre, nacido y consumado.

Nosotros oímos el murmullo de la tierra:
en aquél día, la esperanza de su vientre,
la soledad difícil de las profundidades,
el raro espacio que se oculta bajo las rocas,
los restos que un cataclismo nos dejó
— giran al frente la Faz,
se volvieron sorprendidos, cuando de repente
un nuevo líquido los toco y recorrió
y trajo a la luz de la tierra; cuando, anunciado,
se produjo una lenta agitación, santa fecundación.



MUCHO MÁS QUE PLAYA

                   para Antonio Ramos Rosa

Ondea, asume, rememora,
abriga la espuma
con corazón disperso.
Una herida abierta
afirma y cede a la siembra temprana.
Completa, palpa, roza
tu cuerpo al cuerpo de ella,
de la ya llorada aunque viva muerte.



AHORA, ESTAR

9

La luz que viene de las piedras, de la intimidad de la piedra,
tu la coges, mujer, la distribuyes
tan generosa y a la ventana del mundo.
La sal del mar recorre tu lengua;
no están de más en ti las cosas demás.
Mejor que todo, el vuelo de los insectos,
la llave del momento en que comienza el canto
del ave o de la cigarra
— la mano que esto dirige con el mismo gesto hiere
la cuerda de lo que em ti hace acordar
los ojos densos de cada día uno solo.
¿Quién está salvando en esta respiración
boca a boca real con el universo?


13

Penetra libre el brazo totalmente abierto,
que yo a ti me entrego, acepto, te recibo,
cual solitario espera hechicero beso de grulla
y asciende y se vacía:
oh muerte.

Ni mal ni bien, ceniza penetración
en el pecho de servicio de este día.
Conmigo a quien me di yo doy,
confío la mano malo tenida,
la sonrisa entre puertas,
la voz no recordada.
En ti, mi Blanco, muerte,
yo deposito la vida.


OS DIAS

Naquele tempo, viver era a melhor coisa do mundo.
Quando nascia o sol as pessoas viam
e os homens eram crianças para além dos montes.
Era uma planície, grande como convém a todas as planícies
e plana porque tudo estava certo.
Naquele tempo tínhamos sido criados e éramos iguais às
ervas e às flores.
Tu,
tão perfeita que impossível não seres,
tão erguida como um riso de andorinha,
tu estavas ao meu lado, naturalmente fresca,
e não havia motivos nem razões porque sabíamos tudo.
A nossa teologia era o beijo da criança mais próxima
e o deitarmo-nos na terra como folhas da mesma planta,
gratos, reduzidos, conscientes.
Olhando para cima, o céu abria-se e todos os Anjos
vinham sentar-se no rebordo
e riam como nós pequenas gargalhadas.
Eu cantava canções mais belas do que não tendo palavras
e ouvias-me em silêncio e de olhos abertos, exatamente
como a todos os sons.


O SANGUE

10

Mil vezes homem, mil vezes grito,
mil vezes hora em que, mil vezes,
tudo foi , de novo e para sempre, nascido e consumado.

Nós ouvíamos o murmúrio da terra:
naquele dia, a esperança do seu ventre,
a solidão difícil das profundas,
o raro espaço que se oculta sob as rochas,
os restos que um cataclismo nos deixou
— viram de frente a Face,
voltaram-se surpresos, quando de súbito
um novo líquido os tocou e percorreu
e trouxe à luz da terra; quando, anunciado,
se perfez um lento marulhar, santa fecundação.



MUITO MAIS QUE PRAIA

         para Antonio Ramos Rosa

Ondeia, assume, rememora,
abriga a espuma
em coração disperso.
Uma ferida aberta
afirma e cede à sementeira cedo.
Perfaz, tacteia, roça
teu corpo ao corpo dela,
da já chorada inda que viva morte.


AGORA, ESTAR

9

A luz que vem das pedras, do íntimo da pedra,
tu a colhes, mulher, a distribuis
tão generosa e à janela do mundo.
O sal do mar percorre a tua língua;
não são mais em ti as coisas mais.
Melhor que tudo, o vôo dos insectos,
o ritmo nocturno do girar dos bichos,
a chave do momento em que começa o canto
da ave ou da cigarra
— a mão que tal comanda no mesmo gesto fere
a corda do que em ti faz acordar
os olhos densos que cada dia um só.
Quem está salvando nesta respiração
boca a boca real com o universo?


13

Devassa livre o braço todo aberto,
que eu te me entrego, aceito, te recebo,
qual solitário espera mago iço de grou
e ascende e se esvazia:
ó morte.

Nem mal nem bem, cinza penetração
no peito de serviço nesse dia.
Comigo a quem me dei eu dou,
confio a mão mal tida,
o sorriso entre portas,
a voz irrecordada.
Em ti, meu banco, morte,
eu deposito a vida.



OS NAUTAS

Para a Maria Gabriel

Quando até sobre o tarde navegavam
a luz que dentro vinha sobrepunha
a lantejoula aguda de outro sol
ao passo opaco, idêntico, cercando
os braços intranquilos, a surpresa
que só de pressentida lhes doía.

Ao frio sal que sob os pés sentiam
e à escuridão mais fundo, ao sonolento
e bruto som da corda e da madeira,
às dores de fome e ao gemido fraco
duma saudade parda, à solidão
sem espelho, à gula insaciada, ao medo

— a tudo combatia uma paixão
neles tão nova, nevoenta outrora,
qual a de ver, de ver de olhos abertos
até sentir no roçagar dos dedos,
a mínima paisagem, mais total
que os montes lerdos, pátrios e trocados:

a crispação da vela, o peixe lento
de súbito surgindo, ignotas flores,
cores purulentas, vasto e escasso espaço
para estrídulos pássaros abertos
e outra vida mor,
e ainda bruma
que não sabem se é deste ou doutro sonho.



HERZOG

        Sofrer é outro mau hábito.
       (palavras de Ramona em Herzog, de Saul Bellow)


A minha desforra são palavras.
Levanto-me de manhã amarrotado
pelo peso inclemente das mentiras
e vazo no real outro real
das letras que ninguém vislumbrará.
O pássaro que canta é uma palavra,
é uma carta escrita a este, àquele,
que me saiu do lápis da amargura;
tudo se refaria se jamais feita fosse
alguma coisa que a minha mão não desse.
Desforro-me sem gosto. Desforro-me sem gasto,
acorrentado ao que me vem de trás
e ao que virá e que não sei se quero.

            [in Analogia e Dedos, Oceanos, 2006]



NOÉ


Pronto, pronto, eu faço. Dá um trabalhão 
mas faço. Corto madeira, arranjo pregos, 
gasto o martelo. E o pior também: 
correr o mundo a recolher os bichos, 
coisas de nada como formigas magras, 
e os outros, os grandes, os que mordem 
e rugem. E sei lá quantos são! 
Em que assados me pões. Tu 
gastaste seis dias, e eu nunca mais acabo. 
Andar por esse mundo, a pé enxuto ainda, 
a escolher os melhores, os de melhor saúde, 
que o mundo que tu queres não há-de nascer torto. 
Um por um, e por uma, é claro, é aos pares 
- o espaço que isso ocupa. 

Mas não é ser carpinteiro, 
não é ser caminheiro, 
não é ser marinheiro o que mais me inquieta. 
Nem é poder esquecer 
a pulga, o ornitorrinco. 
O que mais me inquieta, Senhor,
é não ter a certeza,
ou mais ter a certeza de não valer a pena,
é partir já vencido para outro mundo igual. 

(Analogia e Dedos, 2006)



SÓ DOS MORTOS DEVEMOS TER CIÚMES 

Só dos mortos devemos ter ciúmes; acordar 
de entre as pedras doentes dolorosos 
que da beira das arribas nos atirem ao porto 
onde enfim se encontre a nossa angústia. 
Só eles lutam palmo a palmo pelo espaço 
em que já vertical erguemos nosso braço 
em busca de que sumo ou de que céu. É que só eles 
nos retiram da cama de que por nós foi feita 
a escolha: a macieza intensa que julgámos 
eterna, que nos parecia tão cordatamente 
entregue à nossa própria suma sumaúma. 
Só os mortos, horror, inda que vivos, vivem 
paredes meias com os nossos dedos, logo afastam 
os momentos ferozes que tocássemos, e as nuvens 
por sobre o mar dos olhos: é bem feito, 
dizem os meninos. Pois que dos vivos vivos 
a vida nos desvia e nisso nos conduz, assaz 
encaminhados pelo que vamos querendo. 
Só os mortos nos mordem, nos apontam 
a dedo frio e tenso, entorpecem desejos 
e, pois pior, só eles nos expulsam 
do vero som dos sinos numa entrega 
às palavras baldadas do comércio. 
A luta clara que sonhada fosse 
pela mão dada e limpa que nos dessem 
tropeça, polvo, com misérias nossas 
e enterra-te na pérfida, agoniada leira 
onde dominam eles nossas bocas e o sangue 
que nelas perpassasse. Só os mortos, 
invisíveis, letais, pesados entes, 
nos disputam a vida, e só por fim nos matam. 

(Agora, Estar, 1975)



A LUZ QUE VEM DAS PEDRAS 

A luz que vem das pedras, do íntimo da pedra, 
tu a colhes, mulher, a distribuis 
tão generosa e à janela do mundo. 
O sal do mar percorre a tua língua; 
não são de mais em ti as coisas mais. 
Melhor que tudo, o voo dos insectos, 
o ritmo nocturno do girar dos bichos, 
a chave do momento em que começa o canto 
da ave ou da cigarra 
— a mão que tal comanda no mesmo gesto fere 
a corda do que em ti faz acordar 
os olhos densos de cada dia um só. 
Quem está salvando nesta respiração 
boca a boca real com o universo? 

(Agora, Estar, 1975)



O MAR É LONGE 

O mar é longe, mas somos nós o vento; 
e a lembrança que tira, até ser ele, 
é doutro e mesmo, é ar da tua boca 
onde o silêncio pasce e a noite aceita. 
Donde estás, que névoa me perturba 
mais que não ver os olhos da manhã 
com que tu mesma a vês e te convém? 
Cabelos, dedos, sal e a longa pele, 
onde se escondem a tua vida os dá; 
e é com mãos solenes, fugitivas, 
que te recolho viva e me concedo 
a hora em que as ondas se confundem 
e nada é necessário ao pé do mar. 

(Daniel na Cova dos Leões, 1970)



NÃO TENHO PARA TI QUOTIDIANO

Não tenho para ti quotidiano 
mais que a polpa seca ou vento grosso, 
ter existido e existir ainda, 
querer a mais a mola que tu sejas, 
saber que te conheço e vai chegar 
a mão rasa de lona para amar. 

Não tenho braço livre mais que olhar 
para ele, e o que faz que tu não queiras. 
Tenho um tremido leito em vala aberta, 
olhos maduros, cartas e certezas. 

Neste comboio longo, surdo e quente, 
vou lá ao fundo, marco o Ocupado. 
Penso em ti, meu amor, em qualquer lado. 
Batem-me à porta e digo que está gente. 

(Daniel na Cova dos Leões, 1970)



REGANDO LENTAMENTE AS FLORES DO RISO

Regando lentamente as flores do riso, 
vou já de neve em neve e lume em lume, 
contornando a nordeste o paraíso 
em terrenos de pedras ou de estrume, 
com pequenas palavras na algibeira 
das calças que mantenho ainda frias 
da presença dos lares à minha beira.

E meto mãos e dentes nas vazias 
flanelas limpas para o flanar antigo, 
marcho directo e escasso, colocando
os pés azadamente. 
Não persigo 
ventos ou cores: sou pedro, zé, femando, 
nomes comuns, impróprios, que desdigo 
baixinho e surdo, curto, enquanto ando. 

(Daniel na Cova dos Leões, 1970)



NÃO FALO DE PALAVRAS

Não falo de palavras, nem de goivos, 
mas de horas atadas ao pescoço. 
Poema verdadeiro é sermos noivos: 
saber tirar a pele e o caroço 

ao grito entre a morte e outra morte 
que nos mantenha lassos e despertos 
até que venha o talhe que nos corte 
e nos retire os poços e desertos. 

Por isso, meu amor, o que te dou, 
beijo beijado em corpo claro e vivo, 
é mais que o verso que te dizem, ou 
aliterante, agudo ou conjuntivo. 

Colado a tudo, mesmo a contragosto, 
o rio inventa o verso, e não assim 
como se ao espelho visse o próprio rosto, 
mas tu além-palavra, ao pé de mim. 

(Escrito de Memória, 1973)


AGORA ABANDONADO SEM SENTIMENTO ALGUM 

Agora abandonado sem sentimento algum 
de ter valido a pena ou de não isso, 
de olhos abertos mais, assumo e amo, 
encordoado como não sei que bicho, 
de pé-coxinho como não sei que homem. 
Olho A e B, e a ti, porém contando 
com posição de mar roçando a praia alheia, 
tão marginal mas útil de outra forma, 
tão mar e marginal, desfeito mas fazendo. 
O lar sonhado não é aqui, mas onde 
não sonhe mais por ele. Vivo 
de pé, completo com aquilo 
que outro vento não tive que me desse, 
e mais ainda, com o que não tenho agora 
nem pretendo rever: o dia é grande, 
a morte igual, a voz silente. 
Não posso pedir mais que o dom da sede. 


(Horácio e Coreáceo, 1981)






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