miércoles, 24 de octubre de 2012

NEIDE ARCHANJO [8195]


NEIDE ARCHANJO nació en São Paulo (San Pablo), el 15 de septiembre de 1945. Abogada por la Facultad de Derecho de la Universidad de São Paulo. En 1959, creó y articuló el movimiento Poesía en la Plaza (exposición semanal de poemas en carteles en la  Feria de Arte de la Plaza de la República, en San Pablo). Ha publicado Primeiros Ofícios da Memória (1964), O Poeta Itinerante (1968), Poesia na Praça (1970), Quixote, Tango e Foxtrote (1975). 

Tiene trabajos incluidos en las antologías Poesía del Brasile d´Oggi (Palermo, 1968) y Poesía Brasileira Moderna – A Bilingual Anthology (Washington, 1972). Para Domingos Carvalho da Silva, “el poder de traducir en poesía los sentimientos personales es realmente raro, pero Neide Archanjo parece ser una autora dotada de ese poder mágico”. Parfa Luís Lobo, “Neide Archanjo es una poeta para quien la poesía es necesaria”. Para todo lector de poesía, o para todo poeta, los poemas de Neide Archanjo son indispensables, inevitables. Pues su poesía es densa, tensa, intensa, envolvente, aliciente, apasionada, como en el limite de sí misma.


TRADUCCIÓN Y NOTA INTRODUCTORIA DE
ADOVALDO FERNANDES SAMPAIO



TRES POEMAS

1

Las personas quieren saber
cómo hago poesía.
¿Es inspiración?
¿Escribo fumando
a máquina o a mano?
¿Soy romántica moderna?
Ay, mis amigos
ésa no es la boca
para la confesión.
Poesía es estado de gracia
y el poeta un ángel  exterminador
decidido a cualquier muerte
muerto en cualquier ángulo
pasible de muchas muertes
de aquéllas de corazón
de aquellas claras
lindas muertes
resueltas fulgurantes
donde el amor se cumple
concluso incluido incluso.
Mientras proyecta hondo
la amplitud de su vuelo
el poeta mata y muere
frente a frente
pistola y muerte en la mano.


         (De Poesia na Praça, 1979)





2

La carta llegó
y desde entonces ella está conmigo
en los bolsillos
encima de la mesa
debajo de la almohada
al lado de la cama.
Y este recuerdo me duele.
Las cartas son lentas tardías
porque los correos no aman.
Pero ¿cómo decir, por ejemplo,
que esta carta
es un acontecimiento único
en mi universo
una cosa linda
que llega interrumpiendo la vida
que me hace sentir feliz
sin que yo sepa
que estoy siendo feliz?






3

Yo me mataría en Lisboa
mirando el viejo cuarto de hotel
las ventanas ovales
y Allá fuera los tejados descoloridos.
Yo me mataría en Lisboa
pensando en el otro margen
como cosa vivida
y ya perdida
pues el amor pasa
y nosotros nos quedamos.
Yo me mataría en Lisboa
si tuviese que escribir cartas
en una lengua que no sé
cerca de un chafariz
de agua muy antigua.
Yo me mataría en Lisboa
cuando necesitase un diccionario
para componer esas cartas
en si mismas tan complejas
y tímidas ridículas
las cartas de amor.
Yo me mataría en Lisboa
si pasase las tardes en el Rocío.
Y entonces si fuera mayo
o abril
ahí si
seguramente
yo me mataría.

                   (De Quixote, Tango e Foxtrote, 1975)

Extraído de la obra
VOCES FEMENINAS DE LA POESÍA BRASILEÑA
Goiânia: Editora Oriente, s.d.





BUCÓLICA

Ser uma árvore
plena de silêncio
ainda que sob os ramos
o pássaro da infância
ressuscite as tardes brancas
a meninas e as tranças.




PROFUNDAMENTE

Estão todos sentados esta noite.
Estão todos sentados.

A velha mesa respira
mas nadas se aquieta.

Estão todos sentados
mortos e sentados.

E este amor não basta
para carpir os beijos os nomes
os retratos.




SOMOS NÓS

E há que se viver
alguma coisa nova
algo como um vento
sobre o mar
superfície branda
alto navegar.

E depois,
sem cortar os pulsos,
suportar o pomo dourado da vida
coisa perigosa
porta sem saída.




O INESPERADO

Estou ficando só
diante do mundo
diante dos amigos
e pior
diante do amor.

Estou ficando só
diante de Deus.

Mas não era
para isso acontecer
mais tarde
nem mais tarde?




ESCREVENDO

As palavras fenecem
descem à tumba
rejuvenescem.
Enganam a ponta do lápis
o escritor
e o teclado do computador.

As palavras são déspotas
exigem escolhas apaixonadas.

Corremos ao encalço
mas pronunciadas
ei-las fora do laço.




AMOR DE PERDIçÃO

Era um fluir de formas
essência grave e leve
era a ordenação do caos
a harmonia breve.

Era o poema
encostado no muro
qual flor vadia
que entre ramas se esquecia.

Era o poeta
lambendo a página
em que o poema
encantado se escrevia.




De
AS MARINHAS
Rio de Janeiro: Salamandra, 1984
                          

                    
CANTO 1 - Preamar
(...)
Quero que águas
inundem este poema
como o sangue inunda o corpo
barco que navega.

E serão as águas claras
                   dos momentos claros
as águas escuras
                   dos momentos escuros
convulsas turvas aneladas
frias mornas paralisantes
calmas largas salinas
portuárias
águas   águas   águas.

Sem estação exata para nascer
as águas nascem:
no céu
                   nuvens
na terra
                   lírios
no ser
                   lágrimas  suor
                   saliva  esperma
                   catarro  urina
                   e sangue.




         CANTO II – Litorais

(...)

Olhar amanhecido
inquieta espero
o rosto mítico das palavras

Pois existe uma palavra
virgem de sentido
insondável
guardada num regaço que ignoro.
Um nome que custa falar
não sei se veneno
vida
ou a solidão da palavra silêncio
em lápis-lazúli
esculpida e secreta.

Não tenho ainda
a linha d´água do poema
nem encontrarei
o conhecimento socrático de mim mesma.
         Apenas sei o que me falta:
         um grande mar sereno
onde o coração pudesse mergulhar em paz.

(...)

Destas escadas itinerantes
vejo um paquete
que aponta na barra
e logo penetra nas manchas
azuis e verdes que tingem as águas.
Imenso o oceano respira
e é bom estar aqui
junto dele.

                   Pastoreio as ondas
                   que, como carneiros, se alçam
                   infantes e brancas.


Ontem andei pela baixa com Fernando Pessoa.
Chovia e fomos olhar o cais.
As águas do rio que é mar
falavam versos
coisas indizíveis a molhar nossa fantasia.
Escotilhas abertas de navios imaginários
deslizavam e pessoas nos saudavam de longe.
Para onde iam?
No meio do rio seus vultos
apressavam a memória
fazendo vir à tona um rosto coletivo
uma pessoa plural
na qual estávamos incluídos nós
e a nossa pequena solidão.

Este cheiro velho
vindo de toda parte
bate contra as palavras.
Não há novas terras nem um novo oceano
O que há é este domingo aflito
Que me põe dentro de mim mesma.
De portas trancadas.
De costas para o mar.







De
CÂNTICO PAR SORAYA
Uma Princesa Sefardita
CANTIQUE À SORAYA
Une Princesse Séfarade
Traduit du brésilien par Vèronique Basset
texte bilíngüe / texto bilíngue
Paris: Eulina Carvalho; São Paulo: A Girafa, 2006.
ISBN85-89876-90-X

Após o esperado volume com a poesia reunida, publicado em 2004, Neide Archanjo nos brinda com o Cântico para Soraya -Uma Princesa Sefardita. 0 percurso nos permite identificar os diferentes olhares da poeta, por um lado e, por outro, o amadurecimento, expresso numa economia de recursos para desvelar emoções intensas.
Diria que, em seus últimos poemas, Neide Arcbanjo atinge o ponto mais alto de seu lirismo, na esteira maior da lírica grega:Safo. Sentem-se, contudo, os ecos do Cântico dos Cânticos, quando utilizando processos metonímicos e metafóricos, a autora evoca o corpo da amada, comparando-o aos frutos, flores, cheiros e sabores do jardim das Delícias, num sincretismo com os jardins de Sefarad, cenário dos encontros amorosos por Sevïlha, Córdoba e Granada ou pelos degraus de Jirona.
Esta revitalização lírica dos sentidos pelo olhar feminino nos harmoniza com a mãe Terra, da qual o homem pos-moderno está extraviado.
Leonor Scliar Cabral




GÊNESE
segundo versículo
Eis o amor 
fenda
 que abre tua alma.
Sustentas 
 tesouros
 por tanto tempo guardados.
 Pareciam ouro.
Engano teu.
És uma pequena 
princesa sefardita.
Mal sabes da tua estória 
das falas da memória.
Mas agora 
nomeada estás.
E mais adiante saberás.

sexto versículo
O olhar de Soraya: 
ameixas tâmaras damascos.
 Desertos.
E mais adiante
 uma palmeira
 a flutuar





ÊXODO
quinto versículo
Queria possuir-te aqui.
 Por certo tua boca 
seria outra boca
 e tua cabeleira
 desenharia arabescos
 traços riscos contornos 
rendas nas quais
 eu mais me perderia.





EVANGELHO
décima parabola
Teu sorriso abre 
saudades da infância.
Quisera ser 
um dos teus brinquedos
 objeto de beijos
 suspiros
 e orgasmos.
Tua carne viva 
à minha espera.
Ah! e eu 
que tardei tanto...
Diante do sorriso da menina 
meu coração acorda 
como se algum azul 
acordasse esta manhã.




CÂNTICO PAR SORAYA



De
CÂNTICO PAR SORAYA
Uma Princesa Sefardita
CANTIQUE À SORAYA
Une Princesse Séfarade
Traduit du brésilien par Vèronique Basset
texte bilíngüe / texto bilíngue
Paris: Eulina Carvalho; São Paulo: A Girafa, 2006.
ISBN85-89876-90-X


Aprês le volume attendu de ses oeuvres complètes, publié en 2004, Neide Archanjo nous offre le Cantique à Soraya - une princesse séfarade. Nous y retrouvons les différents regards de l'auteure. Mais enrichis de la maturation que dénote l'économie des moyens utilisés pour porter les émotions au mieux de leur inrensité.
Dans ses derniers poèmes, Neide Archanj'o semble avoir atteint au point culminant de son lyrisme, se plaçant dans la lignée de la póète grecque, Sapho. On perçoit, dans le même temps, les échos du Cantique des cantiques, où métonymies et métaphores viennent évoquer le corps de l´aimée, qui se fait fruits, fleurs, saveurs, parfums du Jardins des délices ; mais aussi, par fusion syncrétique, jardins de Séfarade, théatre des rendez-vous amoureux de Séville, Cordoba et Grenade, gradins de Gérone.
Cette revitalisation lyrique des sentiments par un regard de femme, nous met en harmonie avec la Terre mêre, dont procède l'Homme post-moderne.
Leonor Scliar Cabral





GÊNESIS
verset 2
Voici l'amour
 fissure
 qui vient ouvrir ton âme.
Tu gardes
 des trésors
 si longtemps préservés.
 On aurait cru de l'or.
Tu te trompes.
Tu es une petite
 princesse séfarade. 
A peine connais-tu ton histoire
 les voix de ta mémoire.
Mais à présent
 tu es nommée.
Et plus tard tu sauras.

verset 6
Le regard de Soraya :
dattes prunes abricots. 
Déserts.
Plus avant
 palmeraie
 qui ondoie




EXODE
verset 5
C'est ici que j'aimerais te posséder.
 Assurément ta bouche
serait une autre bouche 
ta chevelure 
dessinerait des arabesques
des lignes des traits des contours
 dentelles en lesquelles
 plus encore me perdrais.





ÉVANGILE
dixiëme parabole
Ton sourire ouvre
 les saudades de l'enfance.
Je voudrais être
 tel de tes jouets
 objet de tes baisers
 soupirs félicités.
Ta chair vive
 a me languir.
Ah! et moi
 qui ai mis si longtemps...
Au sourire de la fillette
 mon coeur s'éveille
 a l'image de quelque azu
 qui eut levé ce matin-là.


http://antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/rio_de_janeiro/neide_archanjo.html

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