miércoles, 24 de octubre de 2012

EMIL DE CASTRO [8197]





EMIL DE CASTRO nació en Mangaratiba, BRASIL el día 7 de Enero de 1941. Abogado, escritor, poeta e historiador. 

Lecionou vários anos no Colégio Mangaratiba, onde se iniciou na literatura escrevendo no jornal estudantil O Marimbondo. Sua primeira publicação num jornal de grande porte foi no Jornal do Comércio, publicando logo após na revista Leitura. Seu primeiro conto foi publica­do na revista Singra. suplemento do jornal Correio da Manhã. Daí em diante passou a publicar em diversos jornais e revistas literários do Rio de Janeiro e de outros estados. Como prefeito de Mangaratiba, deu apoio integral à cultura de modo geral, criando centros culturais, bibliotecas, a Fundação Mário Peixoto. Cadernos de História Municipal. No Rio de Janeiro. fundou e dirigiu o jornal  Poesia etc.

Foi deito Procurador do Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro, em duas diretorias diferentes. Obteve, entre outros, os prêmios Fernando Chinaglia, da UBE-RJ ­literatura infantil, com o livro Histórias do vovô Pajé; Poetas-advogados, da OAB­- Niterói; e Prêmio Incentivo, da Biblioteca Nacional, pelo livro Jogos de armar. São seus livros de poesia, entre outros: O relógio e o sono, 1969, Habitação em campo urgente, 1973, Aprendiz do nada, 1992, Calidoscópio, 1992, Estação de partida, 2002, Poemas, 2002, Reserva do sonho, 2003, Código do terra, 2003, 50 poemas Escolhidos pelo autor, 2004.

Entre seus livros de ensaio e história, destacam-se: Jogos de armar: ávida do solitário Mário Peixoto, 2000, e Igreja N. S da Guia de Mangaratiba 200 anos, 1995. Premiado em vários concursos literários. Participou da Antologia dos novíssimos , org. por Walmir Ayala; de Poetas novos do Brasil, do INL; da Revista de Cultura Brasileña, publicada na Espanha pelo poeta e hoje acadêmico (ABL) Alberto da Costa e Silva. 


Selección de WALMIR AYALA publicada originalmente en la REVISTA DE CULTURA BRASILEÑA
N. 39, JUNIO 1975 por la Embajada del Brasil en España



ATARDECER DEL SUEÑO

Lo esencial no es
construir en el muro
el casto edificio del suicidio
ni hacer planos definitivos
para la generación pacificada
o plantar melancolía en el cementerio.

Lo esencial no es
morir en la vida
y ser pasto del misterio,
sino atravesar la puerta del sueño
y penetrar en el reino de las palabras.






POEMA

Antes del anochecer quiero regresar
al bosque donde quedaron mis pasos
y sentarme en la tierra como quien no
vive el tiempo del primer amor. Y
al llegar andaré entre el limo de la
madrugada paseando el ayer niño
que fui en la ventana abierta al vacío.
Las brisas me peinarán con sus abrazos
y nada impedirá que me instale en el Camino 
donde es seguro que morir, tal y como
la vida me retuvo entre escombros.






VESPERAL DO SONHO

O essencial não é
construir na amurada
o casto edifício de suicídio
nem registrar planos definitivos
para a geração pacificada
ou plantar melancolia no cemitério.

O essencial não é
morrer na vida
e ser pasto de mistério
mas penetrar no reino das palavras.




POEMA

Antes de anoitecer quero regressar
Ao bosque onde ficaram meus passos
e sentar-me na terra como quem não
vive o tempo de primeiro amar. E
na chegada andarei entre o limo da
madrugada passeando o ontem menino
que fui na janela para o nada.
Auras me pentearão com seus abraços
e nada evitará que me instale na es-
trada onde é certo que morrerei do jeito
que a vida me apanhou entre escombros. 




TERCEIRO MILÊNIO

Rasguei meus versos amigo Bocage.
Mas não acredito na eternidade.
Minhas vísceras deixei
Na mesa da sala de jantar
Como um troféu.

Agora entro na vida como cheguei desamparado
e nu: sou descendente de minhas angústias
e o que faço não me interessa
nem me serve de alguma certeza.
A única certeza é o trem
que flutua em minha direção.
O resto é o cheiro da graxa e do olé
que escorre do meu corpo
e a beleza do soneto aberto sobre a mesa
no fundo do meu peito
a bater sem parar.

9.11.99





O BÊBADO E A METÁFORA

O bêbado viu a lua na poça d'água.
Ele se viu lindo e imortal.
Era um bêbado dançando numa corda que se estendia
entre o mar e o céu.
O bêbado amou sua fantasia de arlequim
e viu sua alma bêbada dançando sobre a cidade.
Nem percebeu que ele era uma ilusão,
puro delírio de um poeta
e mergulhou em busca de sua beleza
e não se encontrou do
outro lado da vida.






CARTÃO DE CRÉDITO

Há contas a pagar por roda vida.
Esgotei meus créditos na direta
razão de ser ausente.
Uma barata esmagada no vão da porta.
Não sou eu desculpem-me,
mas resta ainda a sensação de inseto
que corre nas minhas veias
e nem percebi que meu cartão de crédito
perdeu a validade.

9.11.99






A CARTOMANTE

Meu caminho está fechado
de punhais. Afiados dentes
de hienas que me espiam.
Riem de minha morte e
se banqueteiam com meus destroços.

São sete esquinas a minha vida:
alguém me espreita no beco
da noite. Apenas um número
me salvará de suas teias
nem a cana e nem a mosca
me salvam da certeza do amor
da dama vermelha da janela azul.  

Extraídos de VOZES NA PAISAGEM. ANTOLOGIA DE POETAS BRASILEIROS CONTEMPORÂNEOS I.
Org. Waldir Ribeiro do Val.  Rio de Janeiro: Edições Galo Branco, 2005.






GAZAL DO CAVALEIRO SÓ

Cavaleiro eu sou.
Não trago novas
das terras do além sul,
carrego na bolsa rezas
da procissão que passou
nas ruas do tempo douro.
Não trago notícias dela
mas tenho o cheiro no corpo
do quarto em que ela dormiu.
Não trago retratos comigo,
não tenho sequer um papel
da carta que a dona escreveu,
mas escondo uma saudade
da manhã que me colheu
nos gozos dos seus folguedos.

Cavaleiro eu sou.
Não cruzo armas nem sou rei,
mas chego do país da madrugada.
Não carrego ouro, prata, níquel,
ou outro qualquer tesouro,
mas tenho um jeito de andar,
que aprendi nas árduas lutas
do campo do tempo doutrora.
Cavaleiro de andadura nobre
venci batalhas que não tive
no sonho do sonhar sonhei.
Não carrego louros nem dobrões
nas dobras do punho do casaco, 
nem lauréis e rubis bordados
na costura do sapato de camurça,
mas sei o equilíbrio do silêncio.

Cavaleiro eu sou.
Não componho talhares
nas mesas soberanas dos castelos
nem meus passos rompem o corredor
na cadencia dos tambores,
mas atravesso rios e colho rosas
com o sabor da volta e da chegada.
Não narro histórias nem mitos
florescem nas minhas palavras
mas meus olhos registram cores
que as mãos não puderam reter.

Cavaleiro eu sou.
Não tenho terras nem castelo
ou pergaminho nos bolsos
mas trago nos olhos acesas
as paisagens do homem
na solidão do seu grito.
Cavaleiro de olhadura certa
andei por andar no mundo
no galope do vento norte
sem saber por que se morre.

Cavaleiro eu sou.
Não retorno da Espanha
nem venho do campo verde
do reino do mago Merlin,
mas viajo o dorso da noite
na confecção do universo.
Cavaleiro de armadura rota
compus um castelo no sonho
me coroei majestade
banhei meu corpo de almíscar
tranquei-me no quarto à chave
e amei o amor que fiz de mim. 






O TEMPO

O tempo não é nosso.
Nossa é a vontade vivê-lo
e de senti-lo
em toda plenitude
com o corpo e com a alma.
O tempo com sua vivência de crises
e guerras.
O tempo com sua certeza de rosas
e espinhos.
O tempo com seu feto calado
no aveludado do seu ventre.
O tempo com seus ponteiros
a marcar o sempre depois dos homens
e das coisas.
O tempo não é nosso.
Nossa é a vontade de não
sofrê-lo nas horas de senti-lo.






ANALOGIA

Mãos – um inadiável – desenho
no campo horizontal
da paixão.

Boca – um efêmero túnel
no campo horizontal
do amor.






SER POEMA

Ah impossível ser novamente vento
nas ruas.
Um sentido de mar no cais
com a ilha na carne.

Ah impossível ser pássaro
passeando plumas na calçada.
Um mastigar verde nas retinas
com o mundo na janela.

Ah impossível ser poema
com tanta gente morrendo.






A CARTOMANTE

Meu caminho está fechado
de punhais. Afiados dentes
de hienas que me espiam.
Riem de minha morte
e se banqueteiam com meus destroços.

São sete esquinas a minha vida :
alguém me espreita no beco
da noite. Apenas um número
me salvará de suas teias
nem a carta e nem a mosca
Me salvam da certeza do amor
da dama vermelha da janela azul





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