SALGADO MARANHÃO
Salgado Maranhão (Caxias, Brasil 1953 ) es un poeta y compositor brasileño.
José Salgado Santos estudió Comunicación en la PUC (Pontificia Universidad Católica) de Río de Janeiro, donde ha vivido desde 1973.
-Compositor letrista, tiene canciones grabadas por varios artistas como Amelinha, Elba Ramalho, Ney Matogrosso, Paulinho da Viola, Rosa Marya Colin, Vital Farias, Zizi Possi. En 1999, recibió el Premio Jabuti, el premio literario más alto en Brasil. Ganó en 2011 con el libro A cor da palavra, el premio de la Academia de Letras BRASILEÑA, categoría poesía.
Obras
Ebulição da Escrivatura (antologia poética, 1978 );
Encontros com a Civilização Brasileira (poemas e ensaios)
Aboio ou a Saga do Nordestino em Busca da Terra Prometida ( cordel , 1984 );
Os Punhos da Serpente ( 1989 )
Palávora ( 1985 )
O Beijo da Fera ( 1996 )
Mural de Ventos ( 1998 , Prêmio Jabuti 1999)
Sol sanguineo (2002)
Solo de gaveta (2005)
A pelagem da tigra (2009)
A Cor da Palavra (2010)
ANTOLOGÍA DE POESÍA BRASILEÑA, edición de Jaime B. Rosa. Organización Floriano Martins y José Geraldo Neres. Muestra gráfica y portada Hélio Rôla. Edición bilingüe Português - Español. Valencia, España: Huerga & Fierro editores, 2006. 247 p 13,5x21,5 cm.
DE LAS COSAS
Las cosas huérfanas de luz
asaltan nuestros azules
dispersos. Las piezas vivas
—lavas de sombra a la deriva—
zumbanen el humano paisaje
junto a la cadena de montaje
del deseo. (¿O centellear
que el— poder de las cosas lanza?)
malla que nos cierra las pestañas,
vida, tienda de utensílios,
víveres. ¿Dónde otros rumbos
a los que en el tejido osen
roer el hilo de plomo,
de los que de cosas se cosen?
[Trad. António Alfeca]
DAS COISAS
As coisas órfãs de luz
assaltam nossos azuis
dispersos. As peças vivas
- lavas de sombra à deriva -
zoam na humana paisagem
rente à linha de montagem
do desejo. (Ou cintilando
que o poder das coisas lança?)
Tralha que nos cerra os cílios,
vida, loja de utensílios,
víveres. Onde outros rumos
aos que no tecido ousem
roer o fio de prumo
dos que de coisas se cosem?
FEROZ
Intento esculpir la letanía
de los pájaros
y las palabras muerden
la inocencia. Se aferran
a Io que es de piedra
y perdida.
(Canto al corazón y todo es víscera
como en la sabana.)
Rastrojos de espera
y crímenes;
ínsights de locura
y súplica; voluptuosidades insolubles
me acosan en la página
en blanco
como bandido bárbaro
o mar revuelto
para romper el canal
del poema.
Nada me rescata.
No sé si soy quien muere
o quien mata.
FERO
Tento esculpir a litania
dos pássaros
e as palavras mordem
a inocência. Aferram-se
ao que é de pedra
e perda.
(Canto ao coração e tudo é víscera,
como na savana.)
Restolhos de espera
e crimes;
insights de insânia
e súplica; volúpias insolúveis
acossam-me a página
em branco
qual bandido bárbaro
ou mar revolto
a rasgar a calha
do poema.
Nada me resgata.
Não sei se sou quem morre
ou quem mata.
EL TAJO NUTRICIO
Bailé en un matadero, cual sí la sangre de todos
los animales que a mi regreso pendían
degollados fuese la mía.
Luiz MIGUEL NAVA
Asisto a los bueyes colgados en las varillas.
Asisto a la soledad bermeja (a los retazos) en la
vitrina. El berreo que (¡aún!) respinga en la piedra
lisa. Y el espectro de ángeles tatuados de sevicias.
Arrástrase la gula transeúnte ante el rumor de la
oficina de sangre nutricia. Esa sangre que en
nada se apiada de nosotros (o el instante en que la
cuchilla sublima nuestra parte coyote), aroma en
nosotros las fibras de la podredumbre impávida. Como si,
en lo íntimo, el matadero se evidenciara al tajar los
conductos, por donde chorrea nuestra santidad.
O AÇOUGUE NUTRIZ
Dancei num matadouro, como se o sangue de todos
os animais que à minha volta pendiam
degolados fosse o meu.
Luiz MIGUEL NAVA
Assisto aos bois dependurados nos varais.
Assisto à solidão vermelha (aos pedaços) na
vitrine. O berro que (ainda!) respinga na pedra
lisa. E o espectro de anjos tatuados de sevícias.
Alastra-se a gula transeunte ante o rumor da
oficina de sangue nutriz. Esse sangue que em
nada se nos apieda (ou o instante em que a
faca sublima nossa porção coiote), recende em
nós as fibras da podridão impávida. Como se,
no íntimo, o açougue se despisse a esgarçar os
autos, por onde esguicha nossa santidade.
A COR DA PALAVRA
Rio de Janeiro: Imago; Fundação Biblioteca Nacional, 2009. 424 p
"Salgado Maranhão é um dos mais brilhantes poetas de sua geração e possui um trabalho de linguagem muito pessoal. "Sinergia" é a palavra que define sua poesia. Uma poesia de palavra, muito embora não ignore o real, pois o traduz em fonemas e aliterações. Que não hesita em ir além da lógica do discurso (ou do enlace com o plausível) se o resultado é o impacto vocabular e o inusitado da fala."
FERREIRA GULLAR
DELÍRICA III
Há um rasgo de arco-íris
entre meu cais
e a tua íris,
uma voragem de lâminas
e cetins.
Tramas tua química de azuis
em dorso esplêndido
rosnas a febre líquida
a inundar teus lábios ocultos.
O instinto fez-se mar revolto
e as convulsões de sangue e cio
acordam cavalos em teu haras.
Urge que o fogo avance os limites
urge que o tempo em temporal
desate a trama das águas.
DESAMANHECER
Para Andréia Paola
Agora,
na cidade da tua ausência
outro dia
desamanhece. E súplice
um grito escorre na paisagem.
Todos os lugares
são feitos do teu antes.
Da janela,
a noite chega
com as mãos vazias. E
tudo ao fim se esvai
em volta
como um tecido de ventos.
Só meu coração insiste
em erigir teu nome...
para além do esquecimento.
X. NADIRES
A sanha que aquece a raiz dos úmeros
enseja ao coração um disparate,
ao desvelar o que é de flor em fero,
ao se tornar fiel ao que lhe mate.
São forças que nos raptam a um sem número
de vezes e vieses e desates,
felizes perdedores desse embate;
nem no sonho que enlaça nossa íris
nessa teia de nadas e nadires
em que tudo se rende ao mesmo jogo.
Vem da palavra a sagração dos ritos:
esta relíquia de silêncio e gritos.
PUNHOS DA SERPENTE
Rio de Janeiro: Achiamé, 1989
(seleção de poemas do livro)
LAMBIDAS
as orquídeas que você
guardou em mim
viraram pasto de colibris,
viraram línguas enamoradas,
hospedaria de estrelas,
as lambidas que você deixou em mim,
marcaram mais que as dentadas,
beijinhos após o lanche
trepadas com chantilly.
o que há de grandioso
em tudo isso
é o que não se desgasta
com o tempo,
nem com a erosão da dor,
nem mesmo com o pulso aberto
em goles de tinta viva.
o que há de valioso
nisso tudo,
só se inflam e ferve
com a vida exposta
em plataformas de beleza e fogo,
com a boca triunfando em gargalhadas.
BROTO DE BAMBU
algum canto secreto me arrasta pra dentro de ti. viola
os meus direitos de pessoa física independente. logo
eu que nem quero o coração assim cavalo bravo, potro
remoendo as rédeas. mas você nem fica aflita
e finta em mim na certeza de já ter
visto o fim do combate. seu amor é coisa fina, é
cerâmica do Xingu, porcelana da China, broto de
bambu. quanto aos seus olhos, são os da serpente
quando tem fome.
SENTENÇA
faz muito tempo que eu venho
nos currais deste comício,
dando mingau de farinha
pra mesma dor que me alinha
ao lamaçal do hospício.
e quem me cansa as canelas
é que me rouba a cadeira,
eu sou quem pula a traseira
e ainda paga a passagem,
eu sou um número ímpar
só pra sobrar na contagem.
por outro lado, em meu corpo,
há uma parte que insiste,
feito um caju que apodrece
mas a castanha resiste,
eu tenho os olhos na espreita
e os bolsos cheios de pedras,
eu sou quem não se conforma
com a sentença ou desfeita,
eu sou quem bagunça a norma,
eu sou quem morre e não deita.
OS COMPANHEIROS
deixa eu fazer um parêntese,
pode alguém querer
tomar um cafezinho
enquanto eu conto uma piada:
falaram que os companheiros
comiam do mesmo grude,
lambiam a caçarola
cheirando o sexo de esmola,
tremiam no mesmo frio
da mesma noite assassina,
gemiam no mesmo açoite
da mesma nau da chacina,
falaram que um companheiro
esfaqueou o amigo do peito
e foi lavar as mãos
no botequim da esquina.
mas não vamos entrar em detalhes
de crimes passionais,
eu cá por dentro de mim
já trago uma dor tão grande
que nem cabe nos jornais,
e tenho plena certeza
que na casa dos amigos
os fuzis após o lanche
esperam a hora do arroto.
HISTORINHAS DO BRASIL
PARA PRINCIPIANTES
chegaram de canhões e caravelas chamando tupis de índios.
no primeiro dia brindaram ao redor da cruz, não conheciam
a terra, mas já eram donos. Mais tarde voltaram procurando
pedras, abrindo ruas, fundaram as capitanias das sífilis hereditárias.
DESLIMETES 10
(táxi blues)
eu sou o que mataram
e não morreu,
o que dança sobre os cactos
e a pedra bruta
— eu sou a luta.
O que há sido entregue aos urubus,
e de blues
em
blues
endominga as quartas-feiras
— eu sou a luz
sob a sujeira.
(noite que adentra a noite e encerra
os séculos,
farrapos das minhas etnias,
artérias inundadas de arquétipos)
eu sou ferro, eu sou a forra.
E fogo milenar desta caldeira
elevo meu imenso pau de ébano
obelisco às estrelas.
eh tempo em deslimite e desenlace!
eh tempo de látex e onipotência!
leito de terra negra
sob a água branca,
seu a lança
a arca do destino sobre os búzios.
e de blues a urublues
ouça a moenda
dos novos senhores de escravos
com suas fezes de ouro
com seus corações de escarro.
eh tempo em deslimite e desenlace!
eh tempo de látex e onipotência!
eu sou a luz em seu rito de sombras
— esse intocável brilho
De
SOL SANGÜÍNEO
Rio de Janeiro: Imago, 2002
“Numa dicção arraigadamente pessoal, Salgado Maranhão, em Sol Sangüíneo, atinge o (até agora) ponto máximo de sua obra, num conjunto coeso de poemas, em que a inteligência especulativa e a celebração da corporalidade do mundo se expressam com grande rigor metafórico”. ANTONIO CARLOS SECCHIN
DO ARBÍTRIO
Das estrias que a mão
esculpe
só o que brilha
sobrevive.
Nômade a manhã
despe o sol
à flor
da carne,
múltipla,
à vertigem da linguagem.
Não há comportas
nem caminhos
não há saaras
nem vienas
em tudo há rinhas
e arestas
de flores
e esquifes.
Em tudo entalha-se
ao revés
coisas que se mostram
e não se dão,
que só no verso vêem-se,
no peeling pelo avesso.
(Delitos que em seu exílio
transbordam de rubro
a lira
resenham através do júbilo,
rasuram através da ira.)
Sopra revanche de ritmos
no íntimo viés do não dito,
sopra o arbítrio dos dias.
DO RAIO
Nem o acre sabor das uvas
nos aplaca. Nem a chuva
nos olhos incendiados
devolve o que é vivido.
O magma que nos evapora
tange o rascunho das horas
sob um raio de suspense.
Nem o que é nosso nos pertence.
PERSONA
(...) e o que de nós transmigra
para o que não é palavra
e forma,
o que é informe
e ter sido
sob o solstício e o vento
sem legenda.
E no entanto lume
no verbo encarnado
sob a cesura que se esgarça
ao indefinível.
E no entanto é nome,
persona,
hologramas no vácuo
que são sem o Ser.
MARANHÃO, Salgado. A pelagem da tigra. Rio de Janeiro: Booklink, 2009. 80 p. 13x20,5 cm.. Desenho da capa: Franzx Mare. “Orelha” escrita por Astrid Cabral.
Pré-logos
O amor editou suas garras
em meu delírio:
móbile/
meteoro
a blefar
seu fogo rasante.
De algum rugir indomável
(submerso como o pulsar
das pedras) sinto
o vórtice
do seu brilho
na jugular.
Por isso grito
para que as palavras
me reconheçam.
Assombros, raios, névoa,
alastram-me
esta ambígua paisagem
dos olhos.
Tudo que rege
a grafia sísmica presente
no que dista
ou impalpável
como o esquecimento.
II.
Trata-se de fogo
indiferente
à combustão: caldeira
que se nutre
do que percute.
Um carpir rente ao nada,
um certo aqui/
alhures.
Ante o silêncio
que espreita
e a febre
que desacata os limites;
um reino se declara.
E o que busca
esse deus-erê
ao revés do que exorta, ó raio
que se desgarra
a sujar de luz a vida?
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