Luis José Junqueira Freire
Poeta brasileño nacido en Bahía en 1832 y muerto en la misma ciudad en 1855. A los diecinueve años ingresó en un monasterio de la orden de los Benedictinos, aunque, tras un año de sacerdocio, se secularizó en 1854 y regresó a su ciudad natal tras perder la vocación y con serias dudas existenciales. El último año de su existencia lo pasó en Bahía hasta que una afección cardíaca le segó la vida, cuando tan sólo contaba veintitrés años, en 1855.
Poeta de la llamada "segunda generación", sus Poesías completas fueron publicadas en Río de Janeiro en 1944, y en ellas se incluye Inspirações do claustro (1855), así como algunos textos inéditos. Su obra rezuma pesimismo, erotismo y religiosidad a partes iguales, a pesar de lo aparentemente contradictorio de todas ellas. En definitiva, es una obra poética caracterizada por un marcado interiorismo.
Sobre el poeta escribió Homero Pires Junqueira Freire, sua vida, sua época, sua obra (1929).
LOCO
No, no está loco. El alma solamente
le rompió un eslabón de su materia.
Piensa mejor que tú, piensa más libre,
más se aproxima a la esencia etérea.
Pequeño halló el cérebro que tenía;
sus ideas no cabían en El.
Y su cuerpo luchó contra su alma,
y en esa lucha fué vencido aquél.
Fué la repulsa de los dos contrarios:
verdaderamente, un duelo insano,
el choque de dos fuerzas poderosas;
fué lo divino en lucha com lo humano.
Está más libre ahora. Algún atillo
se le solto del nudo de la inteligência;
se le rompió el anillo de la prisión de carne;
está más libre ahora em su propia esencia.
Ahora es ya más espírito que cuerpo;
ahora es un ente que pasó la cima;
es más que un hombre vano, hecho de barro:
es un ángel de Dios, que Dios anima.
Ahora sí que el espíritu, más libre,
subirá a las regiones más supremas;
al descender, podrá decir al hombre
las palabras de Dios, también eternas.
Y vosotras, almas terrenas, que la matéria
os asfixio u os redujo a bien poço,
no le entendeis, por eso, las frases santas
y, em zumba, le llamáis, por tanto: — Loco.
No, no está loco. El alma solamente
le rompió um eslabón de su materia.
Piensa mejor que tú, piensa más libre,
más se aproxima a la esencia eterna.
Traducción de Renato de Mendonça
LA HUÉRFANA EN LA COSTURA
Ela lhe ensinou a levantar suas mãos puras
e inocentes para o céu, a dirigir seus primeiros
olhares a seu Criador.
Flechier
Era mi madre bonita,
Era mi única dicha,
Era mi único amor,
Su cabello era tan rubio,
Ni una cinta de oro
Tendría tanto esplendor.
Sus madejas lucidas
Tan extensas le caían
Que lê besaban los pies.
Cuando me oía mis quejas
En sus áureas madejas
Me venía ella a envolver.
También cuando toda fría
Mi alma se estremecía,
Cuando ausente estaba el sol,
Su alargada cabellera
Como hebras entibiadas
Me servían de chalón.
Mi madre era bonita,
Era mi única dicha,
Era mi único amor.
Sus ojos era suaves,
Como trinares de aves
En la choza del pastor.
Tan bella mi madre que era!
— Yo me acuerdo tanto de ella,
De cuanto en ella existió!
Tengo en mi pecho guardadas
Esas palabras sagradas
Y el rizo que ella me dio.
A mis pasos vacilantes
Ella por largos instantes
Con los suyos enseñó.
Mis lábios mudos y quietos,
Entreabiertos por sus dedos,
Me pronunciaron: — Dios!
Después — cuando despertaba,
Cuando la aurora despuntaba,
Siempre su mano me dio.
Rabiando por la voz de ella
Yo repetía sincera
una preciosa oración.
Mi madre tan bella que era,
— Yo me acuerdo tanto de ella,
De cuanto en ella existió!
Era mi madre bonita,
Era mi única dicha,
Era mi único amor,
Estos puntos que yo imprimo,
Estos versitos que rimo,
Ella me los enseñó.
Las vocês que yo pronuncio,
Los cantos que balbuceo,
Fue ella quien los formó.
Mamita — dime esta vida,
también dime estas fatigas,
estas lanas enredadas:
Mamita dime este canto,
Mamita dime este llanto,
iDímelo todo mamá!
Mi madre tan bella que era,
Yo me acuerdo tanto de ella.
De nada suyo me olvido.
Era mi madre bonita,
Era mi única dicha,
Todo era, el todo mío.
Traducción de Adán Méndez
Extraído de VISIÓN DE LA POESÍA BRASILEÑA. Edición bilíngüe. Selección y prólogo de Thiago de Mello. Traducción de Adán Méndez.
LOUCO
(Hora de Delírio)
Não, não é louco. O espírito somente
É que quebrou-lhe um elo da matéria.
Pensa melhor que vós, pensa mais livre,
Aproxima-se mais à essência etérea.
Achou pequeno o cérebro que o tinha:
Suas idéias não cabiam nele;
Seu corpo é que lutou contra sua alma,
E nessa luta foi vencido aquele.
Foi uma repulsão de dois contrários;
Foi um duelo, na verdade insano:
Foi um choque de agentes poderosos:
Foi o divino a combater com o humano.
Agora está mais livre. Algum atilho
Soltou-se-lhe do nó da inteligência;
Quebrou-se o anel dessa prisão de carne,
Entrou agora em sua própria essência.
Agora é mais espírito que corpo:
Agora é mais um ente lá de cima;
É mais, é mais que um homem vão de barro:
É um anjo de Deus, que Deus anima.
Agora, sim - o espírito mais livre
Pode subir às regiões supernas:
Pode, ao descer, anunciar aos homens
As palavras de Deus, também eternas.
E vós, almas terrenas, que a matéria
Ou sufocou ou reduziu a pouco,
Não lhe entendeis, por isso, as frases santas,
E zombando o chamais, portanto: - um louco!
Não, não é louco. O espírito somente
É que quebrou-lhe um elo da matéria.
Pensa melhor que vós, pensa mais livre,
aproxima-se mais à essência etérea.
SONETO
Arda de raiva contra mim a intriga,
Morra de dor a inveja insaciável;
Destile seu veneno detestável
A vil calúnia, pérfida inimiga.
Una-se todo, em traiçoeira liga,
Contra mim só, o mundo miserável.
Alimente por mim ódio entranhável
O coração da terra que me abriga.
Sei rir-me da vaidade dos humanos;
Sei desprezar um nome não preciso;
Sei insultar uns cálculos insanos.
Durmo feliz sobre o suave riso
De uns lábios de mulher gentis, ufanos;
E o mais que os homens são, desprezo e piso.
MARTÍRIO
Beijar-te a fronte linda
Beijar-te o aspecto altivo
Beijar-te a tez morena
Beijar-te o rir lascivo
Beijar o ar que aspiras
Beijar o pó que pisas
Beijar a voz que soltas
Beijar a luz que visas
Sentir teus modos frios,
Sentir tua apatia,
Sentir até répúdio,
Sentir essa ironia,
Sentir que me resguardas,
Sentir que me arreceias,
Sentir que me repugnas,
Sentir que até me odeias,
Eis a descrença e a crença,
Eis o absinto e a flor,
Eis o amor e o ódio,
Eis o prazer e a dor!
Eis o estertor de morte,
Eis o martírio eterno,
Eis o ranger dos dentes,
Eis o penar do inferno!
A ÓRFÃ NA COSTURA
Ela lhe ensinou a levantar suas mãos puras
e inocentes para o céu, a dirigir seus primeiros
olhares a seu Criador.
Flechier
Minha mãe era bonita,
Era toda a minha dita,
Era todo o meu amor.
Seu cabelo era tão louro,
Que nem uma fita de ouro
Tinha tamanho esplendor.
Suas madeixas lúcidas
Lhe caíam tão compridas,
Que vinham-lhe os pés beijar.
Quando ouvia as minhas queixas,
Em suas áureas madeixas
Ela vinha me embrulhar.
Também quando toda fria
A minha alma estremecia,
Quando ausente estava o sol,
Os seus cabelos compridos,
Como fios aquecidos,
Serviam-me de lençol.
Minha mãe era bonita,
Era toda a minha dita,
Era todo o meu amor.
Seus olhos eram suaves,
Como o gorjeio das aves
Sobre a choça do pastor.
Minha mãe era mui bela,
— Eu me lembro tanto dela,
De tudo quanto era seu!
Tenho em meu peito guardadas
Suas palavras sagradas
Co'os risos que ela me deu.
Os meus passos vacilantes
Foram por largos instantes,
Ensinados pêlos seus.
Os meus lábios mudos, quedos
Abertos pêlos seus dedos,
Pronunciaram-me: — Deus!
Mais tarde — quando acordava
Quando a aurora despontava,
Erguia-me sua mão.
Falando pela voz dela,
Eu repetia singela
Uma formosa oração.
Minha mãe era mui bela,
— Eu me lembro tanto dela,
De tudo quanto era seu l
Minha mãe era bonita,
Era toda a minha dita,
Era tudo e tudo meu.
Este pontos que eu imprimo,
Estas quadrinhas que eu rimo,
Foi ela que me ensinou.
As vozes que eu pronuncio,
Os cantos que eu balbucio,
Foi ela quem mos formou.
Minha mãe'. — diz-me esta vida,
Diz-me também esta lida,
Este retroz, esta lã.
Minha mãe! — diz-me este canto,
Minha mãel — diz-me este pranto,
— Tudo me diz: — minha mãe! —
Minha mãe era mui bela,
— Eu me lembro tanto dela,
De tudo quanto era seu!
Minha mãe era bonita,
Era toda a minha dita,
Era tudo e tudo meu.
Morte
(Hora de delírio)
Pensamento gentil de paz eterna,
Amiga morte, vem. Tu és o termo
De dois fantasmas que a existência formam,
— Dessa alma vã e desse corpo enfermo.
Pensamento gentil de paz eterna,
Amiga morte, vem. Tu és o nada,
Tu és a ausência das moções da vida,
Do prazer que nos custa a dor passada.
Pensamento gentil de paz eterna,
Amiga morte, vem. Tu és apenas
A visão mais real das que nos cercam,
Que nos extingues as visões terrenas.
(...)
Amei-te sempre: — e pertencer-te quero
Para sempre também, amiga morte.
Quero o chão, quero a terra — esse elemento;
Que não se sente dos vaivéns da sorte.
Para tua hecatombe de um segundo
Não falta alguém? — Preenche-a tu comigo.
Leva-me à região da paz horrenda,
Leva-me ao nada, leva-me contigo.
Miríadas de vermes lá me esperam
Para nascer de meu fermento ainda.
Para nutrir-se de meu suco impuro,
Talvez me espera uma plantinha linda.
Vermes que sobre podridões refervem,
Plantinha que a raiz meus ossos ferra,
Em vós minha alma e sentimento e corpo
Irão em partes agregar-se à terra.
E depois nada mais. Já não há tempo,
Nem vida, nem sentir, nem dor, nem gosto.
Agora o nada, — esse real tão belo
Só nas terrenas vísceras deposto.
(...)
Publicado no livro Obras Póstumas (1868*). Poema integrante da série Contradições Poéticas.
Teus Olhos
Que lindos olhos
Que estão em ti!
Tão lindos olhos
Eu nunca vi...
Pode haver belos
Mas não tais quais;
Não há no mundo
Quem tenha iguais.
São dois luzeiros,
São dois faróis:
Dois claros astros,
Dois vivos sóis.
Olhos que roubam
A luz de Deus:
Só estes olhos
Podem ser teus.
Olhos que falam
Ao coração:
Olhos que sabem
Dizer paixão.
Têm tal encanto
Os olhos teus!
— Quem pode mais?
Eles ou Deus?
Publicado no livro Poesias Completas (1944). Poema integrante da série Poesias Esparsas.
Sonho
Era um bosque, um arvoredo,
Uma sagrada espessura,
— Mitológica pintura
Que o romantismo não faz.
Era um sítio tão formoso,
Que nem um pincel romano,
Nem Rubens, nem Ticiano
Copiariam assaz.
Ali pensei que sonhava
Com a donzela que me inspira,
Que põe-me nas mãos a lira,
Que põe-me o estro a ferver;
Que me acalenta em seu colo,
Que me beija a vasta crente,
Que me obriga a ser mais crente
No Deus que ela julga crer.
Sonhei com a visão dourada,
Que todo o poeta sonha,
— Idéia gentil, risonha,
Tão poucas vezes real!
Que só, com o peito abafado,
Se vai de noite em segredo
Contar no denso arvoredo
Ao cipreste sepulcral.
Mas, despertando do sonho,
Que aos homens não se revela,
Achei comigo a donzela,
Me apertando o coração,
E ainda presa a meus lábios,
Entre um riso, entre um gemido,
Murmurou-me ao pé do ouvido
— Que não era um sonho, não. —
E não mais, enquanto vivo,
Deixarei esta espessura,
— Mitológica pintura
Que o romantismo não faz.
Era um sítio tão formoso,
Que nem o pincel romano,
Nem Rubens, nem Ticiano
Copiariam assaz.
Publicado no livro Obras Póstumas (1868*). Poema integrante da série Contradições Poéticas.
À Morte de Garrett
No doce arranco
Que o céu lhe abrira,
Garrett ouvia
Seus próprios carmes
De terno amor.
E aos brancos lábios
Franco, improviso,
Lhe veio um riso
Em vez de angústias,
Em vez de dor.
Morreu poeta,
Ledo e gostoso:
Morreu ditoso,
Cingido, ornado
Dos cantos seus.
Lá foi com os anjos,
Que o inspiraram,
Que o sublimaram,
Cantar saudades
Ao pé de Deus.
Cantai, donzelas
Da pátria dele,
Cantai aquele
Hino de amores,
Hino gentil.
Ouvi que entoam
Seu hino etéreo
Em som funéreo
As belas virgens
Do meu Brasil.
(...)
Publicado no livro Obras Póstumas (1868*). Poema integrante da série Contradições Poéticas.
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