Micheliny Verunschk
Poeta e historiadora brasileña nacida en Recife, Pernambuco en 1972.
Libros
Geografia Íntima do Deserto (2003)
O Observador e o Nada (2003)
A cartografia da noite (2010)
B de Bruxa: Bonnus bonnificarum (2014)
Nossa Teresa (2014)
Geografia Íntima do Deserto (2003)
El cuerpo amoroso del desierto
Tu cuerpo
blanco y tibio
(que debería llamar sereno)
es para mí
suave y doloroso
como las arenas cortantes
de los desiertos.
Qué importa
que ignores mi sed
si tu espejismo
es agua cristalina.
Y el espejismo agito con mil lenguas
y cada una es un pájaro
bebiéndola.
Pican mi piel
escorpiones de fuego y sol
con su veneno
y veo,
herida de deseo,
los granos tan leves
yéndose al viento.
La presencia dolorosa del desierto
Tu nombre es mi desierto
y puedo sentirlo
incrustado en mi propio territorio.
Como una perla
o un gesto en el vacío.
Como el amargo azul
y todo cuanto tiene de ilusorio.
Tu nombre es mi desierto
y es tan vasto.
Sus dientes tan afilados
sus soles rabiosos
y sus letras
(saetas de oro y plata
en mis labios)
son mi tercio de misterios dolorosos.
*Traducción de Mario Grande.
O Corpo Amoroso do Deserto
Teu corpo
branco e morno
(que eu deveria dezir sereno)
é para mim
suave e doloroso
como as areias cortantes
dos desertos.
Que importa
Que ignores minha sede
se tua miragem
é agua cristalina.
e a miragem eu firo com mil línguas
e cada una é um pássaro
a bebê-la.
Ferroam a minha pele
escorpiões de fogo e sol
com seu veneno
e vejo,
magoada de desejo,
os grãos tão leves
indo embora ao vento.
A Presença Dolorosa do Deserto
Teu nome é meu deserto
e posso senti-lo
incrustado no meu própio território.
Como uma pérola
Ou um gsto no vazio.
Como o amargo azul
e tudo quanto há de ilusório.
Teu nome é meu deserto
e ele é tão vasto.
Seus dentes tão agudos
seus sóis raivosos
e suas letras
(setas de ouro e prata
nos meus lábios)
são o meu terço de mistérios dolorosos.
Dúo
El violín
Abandonado a la sutil caricia
de la curva de la mandíbula
apenas finge
que vibra cuando
está en el ballet febril
de las puntas de los dedos.
(Tallado en noble madera,
el hijo de Eros
se entrega al gozo animal
por el humano sexo…)
Violonchelo
La loca dama, desnuda y salvaje
se recuesta y lucha
con su músico:
que manteniéndola
entre las piernas
va aprendiendo
músculo a músculo
el gemido denso
de madera ronca
la doma intensa
el sexo acústico.
*Traducción de Mario Grande.
Duo
O Violino
Entregue à sutil carícia
da curva do queixo
mal finge
que freme mesmo
é ao balé febril
da pontas dos dedos.
(Talhado em nobre madeira,
o filho de Eros
é dado ao gozo animal
Ao humano sexo…)
Violoncello
A louca dama, nua e fera
deita e luta
com o seu músico:
que a mantendo entre as pernas
vai aprendendo
músculo a músculo
o gemer denso
de madeira rouca
a doma intensa
o sexo acústico.
Rápido monólogo do caçador com sua caça
Trago
Pardos
Os olhos
De cobiça
Que atiro
Sobre ti,
Teu verbo/teu sexo:
Tua presa
de
marfim.
Cartório do 2º ofício
Cato os minutos,
Grãos de milho
Caídos na música
Datilográfica
Do relógio velho
Da parede;
Sementes loiras
De tão sonífera
Claridade
Que só os posso
Contemplar
Com os olhos
Semicerrados;
Óvulos de pó
Que ajunto
No bojo do avental
Para tentar
Saciar a fome
Desse galo voraz,
Desse expediente infindo.
Férias
A adstringência argilosa de tua carne
Pressupõe certas fúrias inauditas,
Iras cintilantes de matéria
Que desmentem toda metafísica.
Escrita em fogo e sal, a tua carne,
É experimentada em incoerentes heresias
( Poema linearmente metrificado
e também dissolutamente corrompido ).
Escrita em fogo e sal, a tua carne,
É carne-álgebra
Ou carne-geometria,
Carne ( e apenas carne )
Somente a carne —:
A carne sem qualquer filosofia.
Vampiro
A palavra
querida
do teu nome
é morcego
nas minhas
madrugadas
e consome
o meu sangue
e minha alma.
Consome:
que és incêndio
em minha casa...
Amiga
Amiga,
lavei os pratos,
mas a mágoa
mastigou-me
o inteiro dia
— esse pedaço
de carne crua
com nervos difíceis
aos dentes,
que sou —.
Se ao menos
eu pudesse banhar
meus pés
na bacia de ágata
do meu avô,
não perdoaria tanto
meus sentimentos
mesquinhos
e debruçaria-me
sobre o balcão
sem rir
e seria
mais triste e grave
e, claro, vestiria luto
por tudo
que foi morto
na minha e tua amizade.
Mas, como vês,
Não sei da bacia branca
donde eu sairia
apaziguada.
Memória
O meu pai
possuía uma das asas
muito negra
e dele herdei
estas estrelas na testa
e esta noite excessiva.
De minha mãe
lembro apenas
clarins e água
e que cantava
canções de janeiro.
As pedras brancas
do xadrez
deslizam suaves
sobre a asa muito negra
que foi do meu pai
e eis toda a lembrança
que tenho da pátria.
Inventário
O armário
esconde coisas insuspeitadas
sol
nudez
tintas
— essa coleção de peças íntimas.
O armário
esconde ideogras
e se chinesas,
e, num canto escuro,
uma cetra.
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