Pedro Du Bois
Balneário Camboriú, Santa Catarina, Brasil
Poeta e contista.
OUVIR
Ouço o barulho
alguém precede ao tempo
e o entulha
com obras imaginárias
a atmosfera se encarrega
da oxidação do fato
ouço o grito do pássaro
e alguém prossegue seu trabalho
em obras imaginadas
a praia
salitre sobre a área
se encarrega da posteridade.
OIR
Oigo el barullo
alguien precede al tiempo
y lo abarrota
con obras imaginarias
la atmósfera se encarga
de la oxidación del hecho
oigo el grito de pájaro
y alguien prosigue su trabajo
en obras imaginadas
la playa
salitre sobre el área
se encarga de la posteridad.
Traducción: Alberto Acosta
RESTOS E SOBRAS
Nada resta
do destino
vendido em pouco
peso
preso
aos compromissos
o ressurgido grito
se ausenta
a anomalia das vertentes
secam ventres
e se despedem em luzes
o medo esconde a face
e as lágrimas secam
ao vento.
RESTOS Y SOBRAS
Nada resta
del destino
vendido en poco
peso
preso
a los compromisos
el resurgido grito
se ausenta
la anomalía de las vertientes
secan vientres
y se despiden en luces
el miedo esconde la cara
y las lágrimas secan
al viento.
Traducción: Alberto Acosta
CENTRO
Sendo centro sofre
as modificações: raça submetida
ao cansaço no trabalho,
o espaço invadido por insetos,
o pedaço consumido pelo inimigo,
a vontade insaciável de estar
presente, a súbita morte.
Perde a identidade caótica
de ser humano: desconhece
a dimensão arbitrária onde se encontra.
Sendo centro, não percebe as bordas
e vaga o vazio onde se incomoda.
Sobre o universo pairam dúvidas
de acobertamentos: centro
distanciado em tempos.
CENTRO
Siendo centro sufre
las modificaciones: raza sometida
al cansancio en el trabajo,
el espacio invadido por insectos,
el pedazo consumido por el enemigo,
el deseo insaciable de estar
presente, la muerte súbita.
Pierde la identidad caótica
de ser humano: desconoce
la dimensión arbitraria donde se encuentra.
Siendo centro, no percibe los bordes
y vaga por el vacío donde se incomoda.
Sobre el universo planean dudas
de encubrimientos: centro
distanciado en tiempos.
Traducción: Alberto Acosta
LUGARES
Evito os lugares
altos
busco na planície a certeza
de estar cercado
conheço da terra a altura
necessária ao estabelecimento
dos limites
no alto o pássaro transita
em declínio. No chão a fera
ostenta a vontade
- pertenço ao solo inconcluso
das certezas incomunicáveis.
LUGARES
Evito los lugares
altos
busco en la planicie la certeza
de estar cercado
conozco de la tierra la altura
necesaria para el establecimiento
de los límites
en lo alto el pájaro transita
en declive. En el suelo la fiera
ostenta la voluntad
- pertenezco al territorio inconcluso
de las certezas incomunicables.
Traducción al español: Ana Muela Sopeña
TER
Tem o motivo: livro marcado
na página do meio. Metade
devorada em traço. O sinal
sublinhando a frase. Eu te amo
diz o personagem. E tu morres
em mim. Desnorteado tem o ensejo
de se fazer longe no estático
monumento aos mortos. O amor
avança páginas de palavras
na dominação dos personagens.
Tem a razão elencada em cisma.
Sismo: a gradação da tragédia.
VÃO
Enquanto sonho esperanças vãs
desencontro o árduo caminho
além da curva derradeira
debruçado ao restante da paisagem
anoiteço sons desprestigiados
em sonhos determino o anárquico
senso dos encobrimentos.
PRIMEIRA VIAGEM
Faço as malas: papéis amassados
papéis rasgados
cópia autenticada
da certidão de ir embora
atestado de carreira
contra recaídas
tampões de orelhas
tesoura de unhas
o bigode raspado
no disfarce
estrago o papel da bala no fazer
o desenho inimaginável do barco
embarco e saio
atrás de mim
as malas estalam
em primeira viagem.
ARCABOUÇO
No arcabouço
destino
dias estruturados: sou trapezista
e me lanço
ao concreto
espaço
o arcabouço origina
a materialidade dos fatos
desatino a passagem
do corpo sobre o arame: vento
na minha ultrapassagem
no arcabouço remetido
aprofundo a voz
no dizer verdades.
VERDEJANTE
Verde consentido: árvores replantadas
e a folha retirada. O caderno guarda
a recordação do dia anterior: lembra
o verde acometido ao desespero. Ir
embora. Ser a notícia. O silêncio.
Acobertar a folha
esbranquiçada
em sua ilusão
derradeira.
ESPINHA
Retiro a espinha do peixe
espinho a mão
na flor
o espinhaço quebrado
ao assim mesmo
das ordens desconstituídas.
Reprovo o pão ingerido
como providência na ânsia do ar
faltante.
(Do peixe o espinho retirado
se aloja a contento: bastante
para a sufocação).
EMBLEMÁTICO
Repito o lema em voz alta
reparto o tema em gritos
reconduzo o cego ao lado
na incerteza no caminho:
exijo a reposição da perda
nos desencontros repetidos
em palavras de recolhimento.
PARTIDA
O motor ligado
o câmbio
os pés deslizam pedais
de ir embora
a imagem retrovista
avisa da tristeza
o limpador do parabrisa
espalha lágrimas pelo caminho.
VOCÊ
Em esquinas diversas deixo
a minha vida. Tenho o bastante
de você: juventude e beleza na certeza
da permanência ao quebrar o destino
em mesmos trajetos. Repito.
Não choro as perdas:
há você e na sua presença
divido o tempo no espaço
permitido entre mãos e pernas.
Reflito nos carros em velocidades
inconsentidas a imagem de você: lustro
o espelho no derradeiro reflexo. Guardo
o pano na recordação de você.
SERES
Com o irmão troca palavras
senhas e sinais
criptografados em tempos idos
o irmão surpreendido
o irmão surpreso: o surto psicótico
no reconhecimento
o irmão vem de longe em visita
trazendo o passado entrevisto.
Na mala repousa o cisco
no olho do dia da partida.
Quebra o segredo
e deságua em abraços.
No hay comentarios:
Publicar un comentario