martes, 21 de agosto de 2012

7472.- RENATA CORREIA BOTELHO





Renata Correia Botelho nació en 1977 en S. Miguel, Azores. En 2001 publicó Avulsos, Por Causa (edição de autor, fora do mercado), en 2008 21 HAIKU COM ASAS, URBANO E CABRAS, en colaboración con Emanuel Jorge Botelho y Urbano, Galeria 111 (Lisboa) y en 2009 Um Circo no Nevoeiro (Averno). Ha colaborado en las  revistas Magma y Telhados de Vidro.


[Traducción de Joan Navarro]



fallamos en todo: entregamos
los libros al sepulcro
de los estantes, al amor

le dimos un regazo de horas
ciertas, dejamos de abrir
ventanas para oler la noche.

ya nada nos recuerda
que el poema sólo se forma
en el filo de la navaja.

[Um Circo no Nevoeiro, 2009]






tú que viste fiordos y corales,
que viniste de las palabras
subterráneas y de lo que queda

por decir, que aprendiste el silencio
en varias lenguas y lanzaste un día
la moneda al aire para engañar

a la muerte, ¿cuántos verbos
quieres más para recorrer
esta narrativa inútil?

[Um Circo no Nevoeiro, 2009]






dios en los lirios

                                     para mi madre

siento a dios, todas las noches, en los lirios
de Monet. miran por mi,
por esta sombra incierta que muere
poco a poco conmigo, cubren
de savia viva la oscuridad de la casa
y alejan los demonios
que se esconden en las grietas del sueño.

por la mañana, reúno los pétalos tiernos
caídos sobre la sábana, y rezo bajito,
con los gorriones, un verso blanco.

[Revista «Telhados de Vidro» nº 12, Averno (Lisboa), Maio/ 2009]






cuando prometemos dar a las horas
el silencio, me pongo en el canto
de la noche a la escucha del primer
ruido que nos denuncie, como
cobra que se esconde
en una silla de playa.  

[21 HAIKU COM ASAS, URBANO E CABRAS, 2008]








as amoras caídas e os limos
subindo a encosta, este dia
mudo e a solidão

dos barcos que largam do porto
enquanto dormes


*


o gato espia do telhado
a vida a partir
em cada comboio que passa,

o tempo que se arrasta
na dor metálica dos carris.

é feriado nas mãos,
trago uma canção triste
e o teu rosto no bolso.


*


o vento agita as sombras
na minha mão, lança-me
vultos, um nome em chamas, versos
afiados contra os dedos.

sempre pressenti a distância mínima
entre o poema e o medo
de não saber regressar a casa.


*


já ninguém nos toca à porta
a vender cerejas.

devíamos talvez lembrar
à terra o nosso nome

plantar sílabas frescas
que nos matem a sede

ter um pingo de esperança
na morte depois da vida.


*


falhámos tudo: entregámos
os livros ao sepulcro
das estantes, ao amor
demos um colo de horas
certas, deixámos de abrir
janelas para cheirar a noite.
já nada nos lembra
que o poema só se forma
no fio da navalha.


*


as mãos medindo a palmo
o desejo, esse engano
fundo e breve
que alarga a noite.


*


um seixo em cada mão e o mar
às costas. a tua ausência será
um calendário de pedras.


*


ponho entre aspas o teu nome,
metáfora arisca,
tão inútil como um circo
no nevoeiro.


*


o vento agita as sombras
na minha mão, lança-me
vultos, um nome em chamas, versos
afiados contra os dedos.
sempre pressenti a distância mínima
entre o poema e o medo
de não saber regressar a casa.

Poemas de Um Circo no Nevoeiro, Averno, 2009.





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