viernes, 24 de agosto de 2012

INGER HAGERUP [7.531]



Inger Hagerup

Noruega (1905-1985) Nació en Bergen. Estudió Idiomas. Poeta y Crítico Literario.  Debutó como Poeta en 1945. Escribió Teatro y Literatura infantil. Fue traductora de Emily Dickinson.  


LA PESTE

Icemos una bandera negra sobre los países
y dibujemos una cruz en nuestra puerta,
pues una gran peste asola la tierra.
Ha recorrido la árida tierra de Africa
sobre pies amarilleados por la fiebre.
Ha desfilado por las calles de Berlin
al compás de tambores y música de viento.
En los conventos de España ha contado como los ancianos
el deslizante rosario de las ametralladoras,
y en las afueras de Madrid escondió su terrible rostro
en una máscara de gas último modelo.
Ha echado sobre sus apestosas heridas la capa del dictador
y ha cubierto su vientre hinchado con una casulla roja de obispo.
Un día la nombraron catedrático en Jena.
Y ella habló con una boca picuda y astuta detrás de sus libros.
En Shangai ahorcó a trescientos cuíes que pedian pan
y cuando tuvo la oportunidad de arrancarle las unas
a un viejo judio, se partió de risa.
Ha mirado a los seres humanos con ojos sanguinolentos
golpeándoles la ceguera, para que ya no cultiven cereales en la tierra.
sino granadas en las fábricas
para que ya no construyan ciudades alzadas hacia el cielo,
sino que las quemen
para que ya no saluden a su hermano
sino que lo maten.
Icemos una bandera negra sobre los países
y dibujemos una cruz en nuestra puerta
a causa de la gran peste.

Traducción: Francisco J Úriz




Detalle de un paisaje invisible de noviembre 

En cierto descampado un país de niebla llamado Yo
-y allí no quedan caminos- encontré una vieja señal.

Su carcomida flecha señalaba ciénagas
y kilómetros y más kilómetros de niebla.

Inútilmente intento descifrar un signo, adivinar un nombre.
La lluvia ha borrado lo que fuese que indicaba la señal.

Y hacia allí es hacia donde sé que caminé una vez.
¿Cuándo desapareció? ¿Cuándo me perdí?

Voy a tientas entre la niebla hacia esa palabra
que me haría acertar con el camino de vuelta.

En un país de niebla llamado Yo
hay una señal sin camino que me impide partir



Oda a las verduras

Pesadamente cargados como guerreros victoriosos
volvemos diariamente de nuestro huerto a casa.
A las verdes hordas de las coles las hemos liquidado,
hemos separado sus gruesas cabezotas del cuerpo con un afilado cuchillo
y las hemos puesto en cestos.
El risueño abanico de las zanahorias lo arrancamos cuidadosamente,
y luego cosechamos los sangrientos soles de los tomates.
Bajo fértiles bosques de hojas dentadas
estallaron los pepinos como peludos dedos de niños.
Ahora nadan en recipientes de cristal
para ofrecer a nuestros paladares avinagrada dulzura en invierno.
De las flores de mariposa de las judías verdes surgieron
arqueados barcos vikingos con minúsculos rosarios de escudos en la borda
(vagamente camuflados bajo la tensa piel de la vaina de los guisantes).
Hibernan ahora en panzudos frascos de cristal.
La frías flores de la coliflor, atildadamente apretadas como el ramillete
de novio de los años noventa
se mezclan con redondas cebollitas y minúsculos pepinillos en el frasco.
El colinabo se yergue a medio camino de la tierra
en su afán de servicio y fastidiosa riqueza vitamínica.
Lo dejamos sin ceremonias en el rincón más oscuro del sótano
donde sabremos encontrarlo de nuevo
cuando los días se hagan cortos y oscuros.
Pero las patatas, fértiles como un chino del distrito del hambre,
las cogemos a cientos, sí, a miles, de la tierra de nuestro huerto.
Porque la patata, ese curtido proletario de nuestros sótanos,
resucita cada día dorada y humeante
convertida en el sólido centro
en torno al que se unen el arenque salado y la jarra del agua
sobre el hule de nuestra mesa.

Inger Hagerup en Flukten til Amerika (1942), incluido en Poesía nórdica (Ediciones de la Torre, Madrid, 1999, ed. y trad. de Francisco J. Uriz).


A PESTE

I

Levantemos uma bandeira negra sobre os países
e desenhemos uma cruz na nossa porta,
pois uma grande peste assola a terra.
Percorreu a árida terra de África sobre pés amarelados
    pela febre.
Desfilou pelas ruas de Berlim
ao compasso de tambores e música de vento.
Nos conventos de Espanha disse como os anciãos
o deslizante rosário das metralhadoras,
e nos arredores de Madrid escondeu o seu terrível rosto
numa máscara de gás último modelo.
Atirou sobre as suas empestadas feridas as capa do ditador
e cobriu o seu ventre inchado com uma casula vermelha de bispo.
Um dia nomearam-na catedrática em Jena.
E ela falou com uma boca bicuda e astuta atrás dos seus livros.
Em Xangai enforcou trezentos escravos que tinham pedido pão
e quando teve oportunidade de arrancar as unhas
    a um velho judeu
largou à gargalhada.
Olhos os seres humanos com olhos sanguinolentos
ferindo-os com a cegueira,
para não cultivem cereais na terra,
mas granadas nas fábricas,
para que não construam cidades levantadas até ao céu,
mas as incendeiem,
para que não saúdem o seu irmão,
mas o matem
– – –

     Levantemos uma bandeira negra sobre os países
e desenhemos uma cruz na nossa porta,
por causa da grande peste.

Jeg gikk meg vill i skogene, 1939



AS REDES DE FERRO

Três irmãs pálidas
dançam sem som à luz da aurora boreal.
Três irmãs pálidas
com vestidos de prata.
Onde põem os seus pontiagudos tacões
morre a última flor,
cai a folhagem amarelenta retinindo no chão,
quebram-se as valentes espadas das espigas.

Três irmãs pálidas
dançam sem som à luz da aurora boreal.
Na manhã seguinte restam as caudas dos seus vestidos de prata
sobre os prados orvalhados.


Jeg gikk meg vill i skogene, 1939



EU SOU O POEMA

Sou o poema que ninguém escreveu
Sou a carta que sempre se queimou.

Sou o caminho que ninguém tomou
e o som que nunca soou.

Sou a oração dos lábios mudos
Sou o filho de uma mulher não nascida,

uma corda que nenhuma mão estendeu
uma fogueira que ninguém acendeu.

Acordai-me! Redimi-me! Levantai-me já
da terra e disponha, de espírito e corpo e alma!

Mas quando rezo, só respostas incompletas.
Eu sou as coisas que não ocorrem nunca.

Jeg gikk meg vill i skogene, 1939




ODE ÁS VERDURAS

Pesadamente carregados como guerreiros vitoriosos
voltamos diariamente do nosso horto a casa.
Às verdes hordas das couves liquidámos,
separámos as suas grossas cabeças do corpo com uma aguçada
    faca
e colocámo-las em cestos.
Ao risonho leque das cenouras arrancámo-lo cuidadosamente,
e logo recolhemos os sangrentos cachos dos tomates.
Sob férteis bosques de folhas denteadas
explodiram os pepinos como peludos dedos de crianças.
Agora nadam em recipientes de vidro
para oferecerem aos nossos paladares avinagrada doçura no inverno.
Das flores de borboleta do feijão verde surgem
arqueados barcos vikings com minúsculos rosário de escudos na
    borda
(vagamente camuflados sob a tensa pele da bainha das ervilhas).
As frias cores da couve-flor, elegantemente apertadas como o ramalhete
nupcial dos anos noventa
misturam-se com redondas cebolinhas e minúsculos pepinos no frasco.
O nabo ergue-se a meio caminho da terra
no seu afã de servir e fastidiosa riqueza vitamínica.
Deixamo-los sem cerimónia no canto mais escuro do sótão
onde saberemos encontrá-lo de novo
quando os dias se fizerem curtos e pardacentos.
Mas as batatas, férteis como um chinês do condado da fome,
recolhemo-las aos centos, sim, aos milhares, da terra do nosso horto.
Porque a batata, esse curtido proletário dos nossos sótãos,
ressuscita a cada dia dourada e fumegante
convertida no sólido centro
à volta do qual se unem o arenque salgado e o jarro de água
sobre a toalha da nossa mesa.

Flukten til Amerika, 1942



 A MINHA AMADA CHEGOU A CASA ONTEM

A minha amada chegou a casa ontem
com brancos flocos de neve no cabelo.

A minha amada não é minha.
De outro é o seu coração.

Também a minha amada foi enganada.
Amargamente ontem a noite chorava

no sonho, quando me disse:
meu amor, quero-te tanto!

Videre, 1945



CREIO

Eu creio em muitas coisas. No sangue. No fogo.
Creio em caminhos onde não é possível perdermo-nos.
Creio nos sonhos dos que pertencemos.
Caminho às cegas. Não me leves a casa.
Deixa que a noite me guie sempre até adiante.
Em algum lugar na escuridão há uma porta entreaberta.
Em algum lugar num limite entre corpo e alma,
um lugar onde o próprio tempo diz detém-te
– lá onde talvez ardesse o meu coração?

Não me escutes. Todas as minhas palavras
são perigosos profetas, falsas pistas.
Sou muito diferente do que tu acreditas.

Videre, 1945



TAMBÉM O AMOR TEM QUE MORRER

Mata-me, disse ela, porque de qualquer modo
nos possui a morte.
Antes que ser abandonada pela vida
prefiro eu abandoná-la a ela.

O amor também tem que morrer
e não voltar jamais.
Meu amado, deixa-me ir em frente,
deixa-me morrer antes do amor.

Den syvende natt, 1947



INSTANTE

Como uma última súplica estende-se a mão dela
entre os copos chamando a dele.
No mais há bastante silêncio entre os dois,
silêncio bastante após a sua última valsa.
O coração sabe-o já, ainda que a mão deixe de suplicar:
Tão inapelável como a própria morta
é quando um corpo deixa de amar
e se despede sem palavras de outro corpo.

Sånn vil du ha meg, 1950



O MENINO LOUCO

Ao menino louco da casa ao lado
tinham-no preso. À noite ouvíamo-lo
a uivar. E eu sussurrava à minha almofada:
Obrigado, meu Deus! Ao menos eu estou livre.

O menino louco já não grita.
No entanto o grito acorda-me
nas noites negras sem estrelas.
Então não é o menino. Sou eu.

Fra hjertets krater, 1964



DETALHE DE UMA PAISAGEM INVISÍVEL DE NOVEMBRO

No meio do país de névoa que se chama eu
há um velho sinal de trânsito sem caminho.

Ali está assinalando com a sua carcomida flecha
até aos pântanos e quilómetros de neblina.

Em vão procuro nomes e sinais.
Nevões e chuvas tudo apagaram.

Ali esteve uma vez o caminho para que me encaminhava.
Quando desapareceu e quando me perdi?

Vou às cegas como um invisual até essa palavra
que me indicaria o caminho da minha casa.

No meio do país de névoa que se chama eu
há um sinal sem caminho que me assusta.


Fra hjertets krater, 1964

Versão minha - © Amadeu Baptista



Mauren 

Liten?
  Jeg?
  Langtifra.
  Jeg er akkurat stor nok.
  Fyller meg selv helt
  på langs og på tvers
  fra øverst til nederst.
  Er du større enn deg selv kanskje?



I huset bortenfor

I huset bortenfor huset bortenfor huset
til snekker Kvikk
i rommet innenfor rommet innenfor rommet
til hans butikk
bak skapet bakenfor skapet bakenfor skapet
til hans madam
der ligger faren til bestefaren til bestefarfarens
søndags-kam. 




Lille persille

Lille Persille i hagen står
lysegrønn kjole og krusete hår.
Hvorfor så stille,
lille Persille?
Kanskje du ville
på ball i år?




Så rart

Så rart å være flaggermus
og flakse rundt fra hus til hus
og gå til sengs i trærne.
Men er det noen som forstår
hvordan den kan få sove når
den hanger etter tærne?

Så rart å være edderkopp
med nøste i sin egen kropp
 og spinne alle dage.
Men hvordan kan den gjemme på
så mange kilometer tråd
i slik en liten mage?




Lykke 

Hva lykke er?
- Gå på en gressgrodd setervei
i tynne, tynne sommerklær,
klø sine ferske myggestikk
med doven ettertenksomhet
og være ung og meget rik
på uopplevet kjærlighet.

Å få et florlett spindelvev
som kjærtegn over munn og kinn
og tenke litt på vær og vind.
Kan hende vente på et brev.
Be prestekravene om råd,
og kanskje ja - og kanskje nei -
han elsker - elsker ikke meg.

Men ennå ikke kjenne deg. 



Ventetid 

Min elskede er ikke her.
Og jeg danser ikke med ham.
Hos min elskede danser jeg uten klær,
fordi jeg vil være ham nær, nær, nær
i lykke og lyst og skam.

Min elskede er ikke her.
Det er ikke ham jeg kysser nå.
Hva venter han etter? Hva tenker han på?
Se, min munn er mørk av begjær.

Min elskede kommer og går.
Og kanskje han sprenger min port og mitt skjød
mens natten er sort som den sorte død.
Men når - når? 




Alt er så nær meg 

Alt er så nær meg
denne velsignede dag.
Svaberget ligger
åpent med rolige drag.
Havbrisen vugger
vennlig den duftende tang.
Alt er så nær meg
ennå en lykkelig gang.

Barndommens vekster
gror i hver fure og sprekk
med sine kjente
blide og rørende trekk.
Går her en liten
pike fremdeles hver kveld
og plukker blomster
og snakker høyt med seg selv?

Lenge var jorden
øde og himmelen tom.
Dypt i mitt hjerte
åpner seg rom etter rom.
Alt som er nær meg
gir meg et klarøyet svar.
Nå kan jeg rekke
hånden til henne jeg var. 



Vepsen 

I stripet badedrakt
og ør av dødsforakt
flyr den med hevet spyd
midt i sin egen lyd.

Et ondt og giftig stikk
det korte øyeblikk
av salig raseri.
Og så er alt forbi.




Jeg ville dø i natt

Jeg ville dø i natt. Jeg ville dø.
Men jeg var redd fordi jeg var alene
og mørket var en slik uhyre sjø. 

Hva skal jeg vel med timene og døgnet
og med min kropp når ikke du er her?

Jeg ville dø. Men døden var for nær.
Den så på meg med altfor store øyne
og hadde altfor svarte sørgeklær.





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