Helena Parente Cunha
(Salvador, Bahía, Brasil 1930). Poeta, narradora, traductora, investigadora, ensayista, crítica literaria y, desde 1979 hasta su jubilación, profesora en la Facultad de Letras de la Universidad Federal de Río de Janeiro, de la cual actualmente es Profesora Emérita. Sus libros de poesía son: Corpo no Cerco (1968); Maramar (1980); Poemas de uma Viagem ao Japão (1995); O outro lado do dia (1995); Além de estar (2000); Cantos e cantares (2005); Caminhos de quando e além (2007); Impregnações na floresta. Poemas amazônicos (2013) y Poemas para a Amiga e outros dizeres (2014)
Estos poemas forman parte de la antología “Palabras del Inocente”, realizada por Alfredo Pérez Alencart para Editorial Edifsa y la Fundación Salamanca Ciudad de Cultura y Saberes.
BLOQUEO
¿dónde sopla ahora el viento
que llevaba lo que yo decía?
¿dónde se perdieron los nombres
que tuvieron tantas cosas?
¿dónde quedaron las cosas
que mi voz fue llamando?
¿y mi voz
cómo así sustraída?
gusto de piedra
en la saliva de mi lengua
las palabras me emparedan
donde hubo mi boca
BLOQUEIO
onde sopra agora o vento
que levava o que eu dizia?
onde se perderam os nomes
que tantas coisas tiveram?
onde ficaram as coisas
chamadas em minha voz?
e minha voz
como assim subtraída?
gosto de pedra
na saliva em minha língua
as palavras me emparedam
onde houvera minha boca
GEOMETRÍA
Paralela al espejo
avanzo
en los puntos
y en las líneas
que me trazan
las cóncavas manos
donde
me elipso
en la risa horizontal
mi rostro
vertical al
llanto
GEOMETRIA
paralela ao espelho
avanço
nos pontos
e nas linhas
que me traçam
as côncavas mãos
onde
me elipso
no riso horizontal
meu rosto
vertical ao
pranto
VENIDA
vengo no sé
vengo de qué sombra
caminando cómo
abrazando niebla
vengo tal vez
de perdido dónde
buscando por qué
yo vengo noche
de remoto aqui
rastreando tiniebla
que nace de mí
VINDA
venho não sei
venho de que sombra
caminhando como
enveredando névoa
venho talvez
de perdido onde
buscando porque
tateando através
eu venho noite
de remoto aquém
rastejando treva
que nasci de mim
ANILLO DE VIDRIO
bajo los arcos de las arcadas
escondí mi anillo
el anillo que no te di.
bajo el arco del arcoiris
puse la red encantada
para mi sueño de vidrio
sobre las cuerdas del arco
recordé remotos tonos
reflejé perdidos hilos
despierto sin mi anillo
hice eco en el último color
me arqueo quebrado vidrio
ANEL DE VIDRO
sob os arcos das arcadas
ocultei o meu anel
o anel que não te dei
sob o arco do arco-íris
armei a rede encantada
para o meu sono de vidro
por sobre as cordas em arco
recordei remotos tons
refleti perdidos fios
acordo sem meu anel
ecoei na última cor
me arqueio quebrado vidro
EFÍMERO DÍA
En mi efímero día
las horas son tan de repente
que no sé cuándo anochece
en el fenecido jardín
donde las auroras de antaño
anunciaban
centelleos de sol al cenit
El afilado filo de las horas
me rasga las líneas de la mano
y me enmaraña
en las mallas del tiempo ido
y por venir.
EFÊMERO DIA
No meu efêmero dia
as horas são tão de repente
que não sei quando anoitece
no fenecido jardim
onde as auroras de outrora
anunciavam
reverberações de sol a pino
O afiado fio das horas
esgarça-me as linhas da mão
e mim emaranha
nas malhas do tempo ido
e por vir
SOBRE EL SUEÑO
cuántas naves a la espera de puertos
más allá del mar que avistamos
y de otros que nunca supimos
entre el cielo encima del mar
y el otro sobre este cielo
cuántos vuelos a la espera de alas
entre los sueños que soñamos
y el sueño que nos soñarán
cuántos sueños por despertar
SOB O SONO
quantas naus à espera de portos
além do mar que espreitamos
e de outros que nunca soubemos
entre o céu acima do mar
e o outro acima este céu
quantos vôos à espera de asas
entre os sonhos que sonhamos
e o sonho que nos sonharam
quantos sonos por acordar
HELENA PARENTE CUNHA
Nasceu em Salvador (BA), em 1930. Poeta, ficcionista, tradutora, professora universitária, pesquisadora, ensaísta e crítica literária. Em 1954, com bolsa de estudos da CAPES, especializou-se em Língua, Literatura e Cultura Italiana em Perúgia (na Itália). Seus primeiros escritos foram publicados no Suplemento Literário do jornal Estado de São Paulo, na revista Tempo Brasileiro, na Revista Brasileira da Língua e Literatura, entre outros. Em 1956, deu inicio aos seus trabalhos de tradutora de obras da língua italiana. Trabalha, desde 1968, na Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Estreou, em 1960, com o livro de poemas Corpo do gozo, premiado no Concurso de Poesia da Secretaria de Educação e Cultura da Guanabara, em 1965. Outros livros de poesias da escritora: Corpo no cerco, editora Tempo Brasileiro, 1978, com apresentação de Cassiano Ricardo; Maramar, editora Tempo Brasileiro, 1980; O outro lado do dia, editora Tempo Brasileiro, 1995; e Além de estar, editora Imago, 2000 (reúne seus livros de poesia anteriores, além de trazer material inédito). A poesia de Helena Parente Cunha tem o mérito de iniciar no país um avanço em relação ao Concretismo — experiência que iria desaguar no movimento neobarroco, principalmente com o poema “Além de estar”.
Salomão Sousa
ALÉM DE ESTAR
vesti-me com a luz pendida
nas espumas que mais brancas
nas ondas que mais ondas
descontei o meu ficar
nas pedras depois das pedras
meu deixar-me por deixar
nos azuis de mais que azul
meu estar-me além de estar
CREPUSCULAR
perpendicular
ao caminho
insisto
andar
circunscrita
na hora
duro
o percurso
horizontal
cheguei
para
me crepuscular
RETRATO
de agora a mil horas
o meu retrato
ainda estará aqui
quem aparece
onde pareço?
pouso de passagem
na fotografia
atrás do quadro
que me contorna
desapareço
quem comparece
na própria face?
poso de novo
(me encontra pronta
cada hora que mil)
de agora a mil horas
quem perece
no meu retrato
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