Maria Velho da Costa
Maria Velho da Costa, Lisboa, 26 de junio de 1938, es una escritora y poeta portuguesa. Galardonada con el Premio Camões en 2002.
Maria Velho da Costa se licenció en Filología Germánica, fue profesora de enseñanza secundaria y miembro de Associação Portuguesa de Escritores (Asociación Portuguesa de Escritores), entre los años 1973 a 1978 fue miembro de la dirección y Presidente. Realizó el curso de Grupo-Análisis de la Sociedade Portuguesa de Neurología e Psiquiatria (Sociedad de Neurología y Siquiatría). Fue lectora del Departamento de Portugués y Brasileño del King's College, Universidad de Londres, entre los años 1980 al 1987.
El Estado Português le otorgó tareas de carácter cultural: fue Adjunta del Secretario de Estado de Cultura en 1979 y Adjunta de Cultural en Cabo Verde de 1988 a 1991. Desempeñó también funciones en la Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses (Comisión Nacional para las Conmemoraciones de los Descubrimientos Portugueses) y trabaja actualmente en el Instituto Camões.
Desde el año 1975 colaboró de manera regular en guiones cinematográficos, particularmente en las películas de João César Monteiro, Margarida Gil y Alberto Seixas Santos.
Consagrada, ya en 1969, con la novela Maina Mendes, se volvió más conocida después de la polémica en torno de las Novas Cartas Portuguesas (1972), obra en que se manifesta una abierta oposición a los valores femeninos tradicionales. Esta publicación claramente antifascista y altamente provocativa para el régimen, llevó a sus tres autoras ante el tribunal, pero el 25 de abril interrumpió las condenas a que estaban sujetas las denominadas 3 Marías: Maria Velho da Costa, Maria Teresa Horta y Maria Isabel Barreno.
Las tesis de reivindicación femenina ya expuestas en Novas Cartas Portuguesas, se incrementan, en su obra, un inconformismo en cuanto a los cánones narrativos, ese inconformismo se puede verificar también en sus ensayos.
Fue galardonada, en 1997, con el Premio Vergílio Ferreira, de la Universidad de Évora, por el conjunto de su obra.
HUMANIDAD
Lo encontró tirado a la puerta de la casa
le pasó por encima,
al avanzar el coche.
Por la tarde, cuando regresó, él continuaba allá,
la cabeza contra el tercer escalón.
Tenía la sangre seca, los ojos abiertos.
Lo rodeó y cerró la puerta.
No encendió las luces,
bajó el sonido de la televisión
Versión de José P. Serrato
HUMANIDADE
Encontrou-o caído à porta de casa.
Passou-lhe por cima,
a caminho do carro.
À tarde, quando regressou, ele continuava lá,
a cabeça contra o terceiro degrau.
Tinha o sangue seco, os olhos abertos.
Contornou-o e fechou a porta.
Não ligou as luzes,
reduziu o som da televisão.
Revolução e Mulheres
Elas fizeram greves de braços caídos.
Elas brigaram em casa para ir ao sindicato e à junta.
Elas gritaram à vizinha que era fascista.
Elas souberam dizer salário igual e creches e cantinas.
Elas vieram para a rua de encarnado.
Elas foram pedir para ali uma estrada de alcatrão e canos de água.
Elas gritaram muito.
Elas encheram as ruas de cravos.
Elas disseram à mãe e à sogra que isso era dantes.
Elas trouxeram alento e sopa aos quartéis e à rua.
Elas foram para as portas de armas com os filhos ao colo.
Elas ouviram falar de uma grande mudança que ia entrar pelas casas.
Elas choraram no cais agarradas aos filhos que vinham da guerra.
Elas choraram de verem o pai a guerrear com o filho.
Elas tiveram medo e foram e não foram.
Elas aprenderam a mexer nos livros de contas e nas alfaias das herdades abandonadas.
Elas dobraram em quatro um papel que levava dentro uma cruzinha laboriosa.
Elas sentaram-se a falar à roda de uma mesa a ver como podia ser sem os patrões.
Elas levantaram o braço nas grandes assembleias.
Elas costuraram bandeiras e bordaram a fio amarelo pequenas foices e martelos.
Elas disseram à mãe, segure-me aí os cachopos, senhora, que a gente vai de camioneta
a Lisboa dizer-lhes como é.
Elas vieram dos arrebaldes com o fogão à cabeça ocupar uma parte de casa fechada.
Elas estenderam roupa a cantar, com as armas que temos na mão.
Elas diziam tu às pessoas com estudos e aos outros homens.
Elas iam e não sabiam para onde, mas que iam.
Elas acendem o lume.
Elas cortam o pão e aquecem o café esfriado.
São elas que acordam pela manhã as bestas, os homens e as crianças adormecidas.
Maria Velho da Costa, in Cravo. Lisboa: Moraes, 1976
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