ÁNGELA MELIM
Poeta y traductora. Nació en Porto Alegre año 1952. Vive en Rio de Janeiro.
Obra poética: As mulheres gostam muito (1970), O vidro e o nome (1974), Das tripas coração (1978), Vale o escrito (1981), Poemas (1987), Mais dia menos dia (1996).
De
Heloisa Buarque de Hollanda
Otra línea de fuego - Quince poetas brasileñas ultracontemporáneas.
Traducción de Teresa Arijón. Edición bilingüe.
Málaga: Maremoto; Servicio de Publicaciones, Centro de Edciones de la Diputación de Málaga, 2009. 291 p
Cosas así, pardas
Canario, pato, chucherías
cosas así, nombres — Rita
cosas así pardas, mestizas
de pequeño porte
cosas de fibra
aunque de aspecto desvalido
cosas pardas vivas
pulsantes
un poema así.
Coisas assim pardas
Canário-da-terra, marreco, chinfrim
coisas assim, nomes — Rita
coisas assim pardas, mestiças
de pequeno porte
coisas de fibra
embora os jeitos desvalidos
coisas pardas vivas
pulsantes
um poema assim.
Mi tierra
De mi tierra quedó
el foso
estas raíces al aire
desarboladas
el temblor
buscando en vano.
Un estanque
frío
hojas oscuras.
Calle sin playa
río sin puerto.
Tunda de cinto
cresta baja.
El ojo — ¿azul de mi tierra?
Los vuelos
de Varig. Ciudades:
uniones, desenlaces.
Palabra en la punta de la lengua.
Nada es natal.
Álbum
Detrás del alambrado los azulejos
el verde opaco del cloro
la pileta de los bancarios
vos de piernas cruzadas
pasando crema
sonriendo.
El recreo colectivo
el descanso proletario
el minuto inmortal
que la instantánea congeló.
El examen obligatorio
para entrar al paraíso
la ducha con jaboncito
el médico de turno.
No me olvido, está en el álbum:
con un solo dedo de la mano
me derretías.
La paja del trigo
no se separa:
la unión hace
al misterio —tremendo—
tierra trigo paja buey
yountodo.
O trigo do joio
não se separa:
a união faz
o mistério —tremendo—
terra trigo joio boi
eumtoodo.
la cosa es ir haciendo, algo bonito, por placer y no, como salga,
como sea, mejor con palabras, puedo, pensar en T, pensar en comas,
en A, shockeado con el último poema, dice que es fuerte, escribir al tun tun
y mandar para que alguien, que yo conozca, que no conozco, lo reciba,
sacar Ia dirección de la guia, lo que venga, por correo, algo público,
circulando, Copacabana, Méier, Água Branca, leyendo; mandar por
correo, muestra si gustas.
negócio é ir fazendo, coisa bonita, de prazer e não, como der e
puder, com palavras posso melhor, pensar no T, pensar em vírgulas,
no A, chocado com o último poema, disse que é forte, escrever ao léu
e mandar pra alguém receber, que eu conheça, que não conheço, pegar
endereço no catálogo, o que aparecer, pelo correio, coisa pública,
circulando, Copacabana, Méier, Água Branca, lendo: mandar pelo
correio, mostre se gostar.
UM AMOR IMPOSSÍVEL
(para Márcia)
Amanhã
este fogo cresce.
Amanhã, tremor
Amanhã, suspiro.
Insiste
um amor impossível
amanhã.
Insiste,
sim.
Um amor impossível pode ser amanhã.
UM NAVIO
“Quanta paz em baixo, na raiz do mundo…”
(V. Woolf)
A solidão é um navio.
Só o que me move é a pá da solidão
o leme.
Se não gozo
suspiro
cristas suspensas
pedras de sal
fiapos de mar –
a maior boca
a mais
voraz.
Mas no seu fundo longínquo
âncora
os leitos de areia e seus lençóis limpíssimos
os peixes cegos
a paz.
RABO DE GALO
Medo com amor.
Um drinque.
Rabo de galo.
Ana, lembrei de você, do seu jeito.
Cada um é um.
Só si.
Associações, coincidências, perpasses…
estou procurando a palavra certa
para partes superpostas de duas esferas.
Interseção?
E solidão.
Ninguém.
Vai cobrir esse buraco, com flores do bem, com letras.
Taça, daí de beber.
O fraco é fundo acabou-se o mundo.
Morreu Diadorim.
Açoite, ricocheteia – estão erradas, não cabem aqui.
Em mim a paz passa depressa, assobia.
Eu peço que fique, imploro,
mas é assim, eu sei, amor e medo.
Com certeza
me segura
igual unha
meia lua
cabelo mínio
– pode voar
num sopro –
me segura pela cintura
as duas palmas macias
cala
aquela voz de longe, esguia
mulher cantando em alemão
a tela do rádio
bafejando com o som
aquilo cala –
não lembro se dormi
esta dor aqui, esta aqui
a mesma
– mola –
antigo martelo repetido o medo
me segura com certeza
para eu não
chorar.
(29.10.88)
MAIS DIA MENOS DIA
Ela fazia versos rimando hífens
— de tomara-que-cai azul-marinho —
mas me disse que não sabia onde acabava o poema.
Mais dia menos dia
dependendo da luz
transformado em cheiro um feixe me atravessa
(ou raio de outra coisa — montanha antiga, peixe,
que é fio
ou meada, idéia)
e a medalha apara
— Nossa Senhora do Loreto
protetora dos aviadores
no peito
ponto exato
que desata um rio
falso leito fofo
folhas decompostas
em poeirentas nuvens submarinas
morno em cima
em baixo frio.
Aí se pode morrer, é mole — um sino
fino, um dobre
um morro verde
o que não tenho
todo o ar do mundo.
Começa-se a morrer e um dia se termina.
1992
Para Mário
Ronca um motor:
uma viagem a céu aberto
estampa coqueirais
e azul.
Um inseto no sol —
asas —
bate o calor
DE Havana,
Aracaju.
É o verão que se abre.
Tarde, sorvete, amor, varanda
em taças de passado
a derreter.
(9.10.1986)
De
Angela Melim
DAS TRIPAS CORAÇÃO
Florianópolis: Editora Noa Noa, 1978
COISAS ASSIM PARDAS
Para Eduardo
Canário-da-terra, marreco, chinfrim
coisas assim, nomes — Rita
coisas assim pardas, mestiças
de pequeno porte
coisas de fibra
embora os jeitos desvalidos
coisas pardas vivas
pulsantes
um poema assim.
MANIA DE LIMPEZA
Raspa de limão
cheira seco:
assim
a lua limpa
alto relevo
que a letra afixa
no papel novo.
CICA
Com sal
ou com limão
fazem-se versos
precisos.
Arde
a ferida
e cura.
MELIM, Angela. Poemas . Florianópolis, SC: Editora Noa Noa, 1987. Florianópolis, SC, 1987. 20 p. 16x23 cm. Composto e impresso manualmente na oficina da Noa Noa. Capa de Cleber Teixeira (utilizando desenho de Goethe). Tiragem: 250 exemplares.
DAS DUAS UMA
Para Ana C.
Uma das suas.
Suave lembrança ensina. Não vou morrer até o fim.
Der e vier de garras afiadas, dentes na mão.
Seu livro solta folhas enquanto leio um poema chupado -
você disse isso.
Mais doce na manga o coração: duas antigas.
Antigamente, eu me sentia mais nova do que sou.
Isto me faz lembrar outra frase à porta da igreja.
Esta casa qualquer coisa assim .
aqui está para todos os homens.
To see, to rest, to pray.
E eu também nem nada.
Morri sem saber quem são os 3.
Mas os outros grandes... descobri! São reticentes.
É você
que está ali de roupa clara sorrindo ou fingindo ouvir?
Alguns estão dormindo de tarde.
Coisa ínfima,
quero ficar perto de ti.
No hay comentarios:
Publicar un comentario