jueves, 3 de octubre de 2013

JOSÉ LUÍS MENDONÇA [10.647] Poeta de Angola



José Luís Mendonça

José Luís Mendonça nació en 1955, en Colungo Alto, província del Kwanza Norte, ANGOLA. Poeta y periodista. Colabora en diversas publicaciones de su país y en el Jornal de Letras, Arte e Idéias, de Portugal. Publicó los libros de poesía Chuva novembrina (1981), Gíria de Cacimbo (1987), Respirar as mãos na pedra (1991), Quero acordar a alva (1996), Se a água falasse (1997), Logaritmos da alma – Poemas de amar (1998) y Ngoma do negro metal (2000).  



El sexo de un ángel

Un paisaje triangular con victoriosos perros de pelea
recorre el alquitrán blanco de la lengua.
Cántico litúrgico de largos ríos submarinos.
Me sujeto de pie al barrote de sal viva.
Las cosas no suceden por casualidad
ni este tic-tac de la sangre minúsculo en la punta
de los dedos del mar ni esta prendería del ocio preciso
de la luz verde aborigen en cada mirada de alga.
Algo me dice que un día también me evaporaré
en el dorso profundo de las arenas. Seré un cuento hípico
sin palanganas en la cabeza
una mirada de peces muy negros
como el origen de la humanidad.
He de silenciar entonces todos los anuncios
sobre cómo estar en la tierra sobre cómo
reducir a polvo el precio de las lavanderías del alma
y ser el sexo sucio de espuma y de pasión
de un ángel a orillas de la playa.





En la línea del frente

a los combatientes angoleños

En la línea del frente
la bala
de tus huesos
acumula pólvora

y el cielo
habitado
por la luz de los muertos
emerge

de tu cuerpo
el sabor rectilíneo
de la piedra
el agua excesiva

despojos
del intrépido mar
bajo la aguda mirada
de los siglos





Anochece

Anochece. Soy un camino
asentado sobre este sentirme
piedra, oro y sangre.
Los días regresan a la sombra
de mi verso afilado.
Ancianas de tejidos rayados
olvidan tabaco en la estera
blanca de mi corazón.
Anochece sobre este sentirme
piedra, oro y sangre.

[Traducció de Joan Navarro]




O sexo de um anjo

Uma paisagem triangular com vitoriosos cães de briga
galga o alcatrão branco da língua.
Cântico litúrgico de longos rios submarinos.
Seguro-me de pé ao varão de sal vivo.
As coisas não acontecem por acaso
nem este tic-tac do sangue minúsculo na ponta
dos dedos do mar nem esse brique-a-braque do lazer preciso
da luz verde aborígene em cada olhar de alga.
Algo me diz que um dia ainda me evaporo
no dorso fundo das areias. Serei um conto hípico
sem bátegas de água à cabeça
um olhar de peixes muito pretos
como a origem da humanidade.
Hei-de calar então todos os anúncios
sobre como estar na terra sobre como
reduzir a pó o preço das lavandarias da alma
e ser o sexo sujo de espuma e de paixão
de um anjo na orla da praia.





Na linha de frente

aos combatentes angolanos

Na linha de frente
a bala
dos teus ossos
acumula pólvora

e o céu
habitado
pela luz dos mortos
emerge

do teu corpo
o sabor rectilíneo
da pedra
a água excessiva

despojos
do ardido mar
sob o arguto olhar
dos séculos





Anoitece

Anoitece. Sou um caminho
sentado sobre o sentir-me
pedra, oiro e sangue.
Os dias regressam à sombra
do meu verso afiado.
Velhas de panos riscados
esquecem tabaco na esteira
branca do meu coração.
Anoitece sobre o sentir-me
pedra, oiro e sangue.

José Luís Mendonça naceu em 1955, no Colungo Alto, província do Kwanza Norte. Poeta e jornalista. Colabora em diversas publicações de seu país e no Jornal de Letras, Arte e Idéias, de Portugal. Publicou os livros de poesia Chuva novembrina (1981), Gíria de Cacimbo (1987), Respirar as mãos na pedra (1991), Quero acordar a alva (1996), Se a água falasse (1997), Logaritmos da alma – Poemas de amar (1998) e Ngoma do negro metal (2000).  


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