AGE DE CARVALHO
(Belém do Para, Brasil 1958) Su poesía, extramuros de la lírica brasileña, adquiere su importancia por la fuerza y originalidad verbal y de sentidos (de investigación y construcción lingüística, de «penetración», según Julio Castañon Guimaráes), en la medida en que sintoniza con las abisalidades poéticas de Paúl Celan y de Ferreira Gullar, en un conquistado espacio propio. La palabra poliédrica de su poesía tím-
brica es referencia de radicalidad innovadora. Sus últimos poemas sin libro en-
fatizan estas características hacia una mayor síntesis.
OBRA POÉTICA: Arquitetura dos ossos, 1980, y A fala entre paréntesis, 1982 (con Max Martins); Arena, areia, 1986; Pedra-Um, incluido en Ror, 1990.
(Belém, Brasil 1958) Formado em arquitetura, trabalha como designer gráfico. Mora em Viena, Áustria. Reuniu em ROR (1980-1990) (Duas Cidades e Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, 1990), seus primeiros livros, publicados em editoras paraenses – Arquitetura do ossos, A fala entre parêntesis (renga com Max Martins) e Arena, areia –, e um inédito, Pedra-um. Posteriormente, publicou Móbiles, com Augusto Massi (7Letras). Os poemas aqui publicados encontram-se em ROR.
[(Belém, Brasil 1958) Llicenciat en arquitectura, treballa de dissenyador gràfic. Viu a Viena, Àustria. Reuní en ROR (1980-1990) (Duas Cidades e Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, 1990), els seus primers llibres, publicats en editorials de l'Estado de Pará - Arquitetura do ossos, A fala entre parêntesis (renga amb Max Martins) i Arena, areia –, i un inèdit, Pedra-um. Posteriorment publicà Móbiles, amb Augusto Massi (7 Letras). Els poemes aquí publicats es troben en ROR.]
Tradução de Adolfo Montejo Navas*
Aquí, en mi país
irremediablemente nordeste* y miserable
a la luz eléctrica de mi siglo,
bajo todos los alfabetos del miedo y del hambre;
aquí,
entre el hombre y el hombre
(como dos sistemas totales
en un universo de aguas inacabado)
aquí vivo.
De Arquitetura dos ossos (1980)
BOCA
la mía y la tuya:
el imán de las lenguas lanza promesas,
letra-sobre-letra
A la vera
la tempestuosa mano de la rasura
subyace
negra en el plural de los pelos,
a la búsqueda del sello más profundo,
honda.
De Arena, areia (1986)
* En el original nordestino, referencia geográfica y social al mismo tiempo noreste de Brasil que sufre sequía y duras condiciones de vida.
HACER CON, HACER DE
Estar, entre
estrellas y piedras,
interrumpido
Resto de
hierbas, tiempo, entre dientes
se detiene
la palabra-rehén
ristra.
De Pedra-Um (1989)
SANGRE-SHOW
Ése el tiempo—
en-siempre de la serpiente,
su recobrado sentido
circular en la glebas
de la sangre.
Suelo,
subcutáneo, suelo-
aquí se apaga
la vena vida/obra,
aquí la cobra
(intra-
coma
venenosa) insinúa
entre ramas brillantes
su eterno s:
aquí, se-es.
Revista Inimigo Rumor, 7 (1999)
*De Correspondencia celeste. Nueva poesía brasileña (1960-2000). Introducción, traducción y notas de Adolfo Montejo Navas. Madrid: Árdora Ediciones, 2001 – Obra publicada com o apoio do Ministério da Cultura do Brasil.
*Nota: o tradutor Adolfo Montejo Navas é amigo comum nosso com Wagner Barja, e o convidamos a participar da exposição OBRANOME 2 no Museu Nacional de Brasília, durante a I Bienal Internacional de Poesia de Brasília 2009. Montejo Navas prometeu-nos suas traduções ao castelhano e só na Espanha, em viagem, é que conseguimos os originais que estamos divulgando parcialmente no nosso Portal de Poesia Ibeoramericana, com os agradecimentos.
Aqui, em meu país
irremediavelmente nordestino e míserável,
à luz elétrica de meu século,
sob todos os alfabetos do medo e da fome;
aqui,
entre o homem e o homem
(como dois sistemas totais
num universo de águas inacabado),
aqui vivo.
De Arquitetura dos ossos (1980)
BOCA
a minha e a tua:
o ímã das línguas lança promessas,
letra-sobre-letra
À vera,
a tempestuosa mão da rasura
subjaz
negra no plural dos pêlos
à procura do selo mais profundo,
funda.
De Arena, areia (1986)
FAZER COM, FAZER DE
Estar, entre
estrelas e pedras,
interrompido
Resto de
ervas, tempo, entre dentes
detém-se
a palavra-refém,
réstia.
De Pedra-Um (1989)
SANGUE-SHOW
Esse o tempo—
em-sempre da serpente,
seu recobrado sentido
circular nas glebas
do sangue.
Chão,
subcutáneo, chão—
aqui se apaga
a veia vida/obra,
aqui a cobra
(intra-
vírgula
venenosa) insinua
entre ramas brilhantes
seu eterno s:
aqui, é-se.
Revista Inimigo Rumor, 7 (1999)
O CÍRCULO na areia, o
que no
grão de
grande
há,
sim sens, não tens
a fala sem sentido
que é
isto: menos que
isto, isso
3
As bananeiras indecentemente alvoroçando suas pernas
amplamente às serpentes de pluma: antros
do inferno: as formações cruéis, passando: nuvens
É que vens nu, e as nuvens te amoralçam
assanham ecos, sonham o silêncio atrás dos muros
Mais alto a fala do sol de ensina às pedras
te insinua às sombras (que estão nos antros
— fendas noturnas)
Claro-escuro
de linguagens subterrâneas, ânus
para a fala de dois espíritos:
Escritura,
filtro de luz, as marcas inscritas no crânio
da palavra, verão de alfabetos esquecidos,
sílabas, louras mitologias manchadas no muro
Que existe/insiste escuro para manhãs, amanhos, aventuras:
A Ilha do Tesouro, a mala do defunto, o escaravelho
— a fala
se amofina estéril e lisa, espuma
ao gozo de neblinas
Veio,
veio Áries, as forças,
a espiral,
do cifrado chifre e um número
de ouro, Quatro, herdado
de ti,
Um-pai,
pastoreando agora o carneiro
dourado para fora
do quarto,
perdida a córnea
palavra, pós-operatória,
que, soprada,
talvez, talvez
levasse
a ti.
Corcovado
à Nelci Frangipani
Uma última vez
antes de subirmos,
braços abertos sobre
a flora brava, aqui
em baixo, onde colho
a despedida –
o tempo
só de abraçar
o abricó-da-praia,
meu amigo,
enquanto tu, trezentas
e terrena, davas
comida aos gatos.
POEMA COMPLEMENTAR SOBRE O RIO
A José Maria de Vilar Ferreira
O rio consagrado: a vazante
lembrança que escoa em maré
baixa e retorna — água escura
— na preamar
O rio sagrado: invólucro do céu
e margem, e duas margens
dos caboclos amantes. O rio
passado: cismando na crisma, paresque
dumas lembranças que trabalham a solidão:
o paralelo das margens, uma igara partida,
as águas sujas que sempre voltam.
A CADELA
Caminhava grave pela casa
a cadela.
A cabeça quieta era sua altivez
quadrúpede no centro da cozinha.
Caminhava. Os olhos, costelas,
o mar de ossos, o coração
pardo e lento – caminhava.
A manhã debruçava-se pela janela: cristais no pó,
o púcaro da china, horas de louça
batendo nas palavras na sala da casa.
A cadela caminhava, dura,
secular.
(Domingo dormia
prolongado como um funcionário feriado).
Vivera demais. Descansava à sombra,
perto do quarador.
Sonhava farta, invisível,
a cadela azul,
nua
(o sexo velho e molhado,
um caranguejo arcaico sob o rabo).
Dormia, vazia.
Outubro doía longe, na Ásia,
quando a Fuluca anunciou: "A Catucha morreu".
De
ROR (1980-1990)
São Paulo: Claro Enigma, 1990
IN ABSENTIA
E: ainda uma chance —
uma pedra se refolha
para o repouso,
o instante é
sempre presença
Ror de erros,
recolho repetidos
o que ainda me pertence
NISSO
que ascendeu
se revelou
e esqueceu
ponhamos uma pedra
SUMA
Quantas vezes
ainda por repetir?
Estão comigo, todas
de segunda mão,
não classificadas
ó anel
círculo mancha ervas
sombra relva irmã
estrela erro tumba
por companhia
pedra pedra pedra
A JOÃO CABRAL DE MELO NETO
só dizer
o que sei
e duvido saber, o sal
pela mão
do rio-sem
resposta —
um luxuoso dizer, de vagar sem onda
e vaga, fluvial, não aliterado;
um dizer repetido na diferença,
barrento, semi-dito, em Não fechado;
ou o não-dito, rios sem discurso,
nome por dizer ou dizer empedrado;
dizer sim o raro e claro do poema,
dizer difícil e atravessado, com margem
de erro
Pai / Pare
Minha mãe morreu as 48 anos / Ma mare va morir als 48 anys
PAI
PAI, uma pedra
distante
para chorar,
um argumentado lírio
jacente, sede clara
no jarro sem som,
e esta conversa arvorada
sobre a graça do branco –
“jóias da
mobilidade”
(in Mariane Moore)
início da primavera
MINHA MÃE MORREU AOS 48 ANOS
Minha mãe morreu aos 48 anos;
meu pai, aos sessenta. Uma pedra,
a cadela morreu dura.
Morreu o João: câncer;
o Carlito suicidou-se
(novo novo).
O Abílio morreu, nunca mais. A Márcia,
a Jane. O Zeca, no Rio.
O esqueleto do volkswagen enferruja
histórico numa praia da Paraíba.
(Enfrento prematuro a idade
onde meus dentes estarão num álbum
e perdidos para sempre
(não sei aonde não sei aonde, meu deus!)
e terei uma lembrança e uma cadeira,
próxima à janela).
[PARE]
PARE, una pedra
llunyana
per a plorar,
un argumentat lliri
jacent, set clara
en el pitxer sense so,
i aquesta conversa arborada
sobre la gràcia del blanc-
"joies de la
mobilitat"
(in Mariane Moore)
inici de la primavera
[Traducció de Joan Navarro]
[MA MARE VA MORIR ALS 48 ANYS]
Ma mare va morir als 48 anys;
mon pare, als seixanta. Una pedra,
la gossa va morir durament.
Va morir el João: càncer;
el Carlito es va suïcidar
(jove jove).
L'Abílio va morir, mai més. La Márcia,
la Jane. El Zeca, a Rio.
L'esquelet del volkswagen es rovella
històric a una platja de Paraíba.
(Afronte prematur l'edat
on les meues dents estaran en un àlbum
i perdudes per a sempre
(no sé on no sé on, déu meu!)
i tindré un record i una cadira,
prop de la finestra).
[Traducció de Joan Navarro]
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