(foto Claudio Maccherani)
Fernando Costa Andrade
Poeta y prosista angolano nacido en 1936 en Huambo, murió en Lisboa en el año 2009. Utilizó también varios seudónimos, como Angola Andrade, Angola Nando, África y Flavio Paiva Silvestre, entre otros. Como activista político, recorrió varios países de Europa dando conferencias y escribiendo poesía. Interpretó varios papeles en el MPLA y después de la independencia fue secretario del presidente de la información. Ha publicado numerosas obras de poesía, que se destacan: Tierra de Acacias Rubras (1961), Poesía con Guns (1975), Libro de los Héroes (1977) y Cunene la carrera hacia el Sur (1981).
MULATO
Pertenezco a la generación que ha de vencer
e intenta abrir nuevos caminos
sobre el mundo.
No paro ni me canso
ni me asusto
ni tan siquiera grito
las voces que el silencio enronqueció.
Nací igual que un mensaje
con raíces en todos los continentes…
Me hicieron capaz de amar
y de crear
me cargaron los hombros
de certezas
y me dieron el coraje de superar
impedimentos
Pero soy apenas Hombre
igual a ti hermano de todas las europas
y a ti hermano que transparentas
las áfricas futuras.
(Traducción de Rogelio Martínez Furé)
LA DISTANCIA
En el camino hay hambres
y sembrados de mandioca
hambres insaciables valerosas
fugas de hambre
desiertos como huellas viejas
de animales
y hambres
arenas y ríos y peces
y árboles caídos
ruinas entre arbustos
y hambres
humos prohibidos y colmenas secas
solitarias borracheras de amargura
y deseo en compañía de un tronco viejo que arde
lentamente.
(Traducción de Santiago Kovadloff)
COSTA ANDRADE
Francisco Fernando da Costa Andrade ou simplesmente Costa Andrade, também conhecido por Ndunduma wé Lépi, nome de guerra adoptado nos tempos da guerrilha no Leste de Angola, durante os idos anos 60 e 70, é natural do Lépi, localidade situada na actual província Huambo, onde nasceu há 64 anos, em 1936, portanto. Fez os estudos primários e liceais na cidade do Huambo e Lubango.
Por razões que se prendiam com a falta de universidades ou outras escolas superiores na Angola colonial, como acontecia na generalidade com os jovens da sua geração, Costa Andrade encontrava-se em Portugal, nas décadas de 40 e 50, com o objectivo de, em Lisboa, realizar estudos de Arquitectura.Com Carlos Ervedosa, foi editor da Colecção Autores Ultramarinos da Casa dos Estudantes do Império, que desempenhou um papel decisivo na divulgação das literaturas africanas de língua portuguesa, especialmente da literatura angolana.
Tem colaboração dispersa em várias publicações periódicas. Publicou textos sob vários pseudónimos, sendo o mais recente o heterónimo Wayovoka André. Além de Portugal, fixou residência por longos períodos de tempo do seu exílio em países como Brasil, Yugoslávia e Itália, onde, além de prosseguir os estudos, desenvolveu uma intensa actividade de conferencista.
É membro fundador da União dos Escritores Angolanos. Entre os vários pseudónimos que usou, destacam-se Africano Paiva, Angolano de Andrade, Fernando Emílio, Flávio Silvestre, Nando Angola. A versatilidade de Costa Andrade, confirma-se com a sua já conhecida faceta de artista plástico. Mas tal prova acima de tudo uma personalidade, um escritor, um artista que se encontra em permanente busca de materiais e matérias para o trabalho criativo, avultando na sua história pessoal a arte do compromisso e da ruptura ao mesmo tempo.
Da sua bibliografia, em que se inscrevem obras de poesia, ficção e ensaio, destacam-se, entretanto, pelo seu número as obras de poesia.
Obra: Terras das Acácias Rubras (1960, Lisboa, Casa dos Estudantes do Império),; Tempo Angolano em Itália (1962, São Paulo, Felman-Rego),; Armas com Poesia e uma Certeza (1973, Cazombo-DEC), ; O Regresso e o Canto (1975, Lobito, Cadernos Capricórnio); Poesia com Armas (1975, Lisboa, Sá da Costa); Caderno dos Heróis (1977, Luanda, União dos Escritores Angolanos); No Velho Ninguém Toca (1979, Lisboa, Sá da Costa); O País de Bissalanka (1980, Lisboa, Sá da Costa); O Cunene Corre para o Sul (1981, Luanda, União dos Escritores Angolanos), entre outros.
Fonte da biografia: www.colegiosaofrancisco.com.br
AUTOBIOGRAFIA
Não existe mais
a casa onde nasci
nem meu Pai
nem a mulambeira
da primeira sombra.
Não existe o pátio
o forno a lenha
nem os vasos e a casota do leão.
Nada existe
nem sequer ruínas
entulho de adobes e telhas
calcinadas.
Alguém varreu o fogo
a minha infância
e na fogueira arderam todos os ancestres.
CELA COMUM
I
É preciso estar-se convencido de estar vivo
para estar vivo
mesmo que as paredes falem,
embrutecido o olhar.
Mas quantos são
o que vivendo
sabem que viver
é ter presente a terra recusada?
Ladrões e assassinos
mendigos e drogados
um velho murmura as suas rezas
e o poeta jovem
preso no átrio da sua faculdade
canta as flores úmidas
das noites importadas;
não despertados ainda
não acordaram para a noite
que os domina.
II
Não há navios negreiros nas baías,
o mercado da venda dos escravos
é parte da estratégia nova
que o país inteiro já tem dono
bebe whisky e chama-se yanquee.
(Poesia com Armas/70)
É grata
É grata esta certeza de encontrar
Após luas mais pesadas que cidades
Venceremos a palavra escrita em cada tronco do Maiombe.
Caia um braço as pernas fiquem pelas mulolas
Farrapos de pele nas espinheiras
Os olhos não!
Os olhos vejam
a ambicionada luz que se negara
antes de fevereiro
Teus lábios molhados de poesia
Condensada em gotas de cacimbo
cantam com os rios.
Túmidos estão os seios das mães e as folhas verdes
os mortos
agora já são vivos para sempre.
(Poesia com Armas/70)
A FLOR DA CHUVA...
... e a flor da chuva no capim
tem mais perfume
abertas bem abertas estão as mãos
para abraçar esta manhã sem nuvens
ontem (ñ importa já o pôr-do-sol nas buganvílias)
ontem (murchas estão agora as flores
das coisas que eram coisas nada mais)
ontem havia medo até no caminhar das rolas sobre a areia.
A poesia de hoje é a voz do povo
todo o mundo o mundo até de algum silêncio persistente
quer romper a mancha que da noite inda nos fala.
Oh admirável sangue a pulsar em cada estrela
o sol é negro e ilumina
a imensidão deste perfume
que nos traz a flor da chuva
o sol é negro e brilha dos vulcões
de cada peito independente.
Madrugada de fevereiro.
Sou angolano!
(Poesia com Armas/70)
LIMOS DE LUME
conto ainda
e já o conto
ai nos zeros
dos biliões
um milhão trezentos mil
cinco milhões e prossigo
oito milhões
ou dez?
os números também falecem
com o seu tempo a contar
ainda agora há pouco tempo
e tanto tempo passou passa o tempo
passará
passaria doutro modo?
Passe o tempo temporão
somos tantos e tão poucos
vem a paz demora ainda?
Quem espera pela demora?
é tempo de caminha!
(Edições ASA/89)
Poema quarto de um canto de acusação
Há sobre a terra 50 000 mortos que ninguém chorou
sobre a terra
insepultos
50 000 mortos
que ninguém chorou.
Mil Guernicas e a palavra dos pincéis de Orozco e de Siqueiros
do tamanho do mar este silêncio
espalhado sobre a terra
como se chuvas chovessem sangue
como se os cabelos rudes fossem capim de muitos metros
como se as bocas condenassem
no preciso instante das suas 50 000 mortes
todos os vivos da terra.
Há sobre a terra 50 000 mortos
que ninguém chorou
ninguém...
As Mães de Angola
caíram com seus filhos
Terceira gota
Oh meu país de areias brancas,
meu país de mar
meu país de povo
eu quero ser espuma
menino de sonho alado
na roda das casuarinas
meu país de nuvens brancas no azul
meu país de sol
meu país de povo
eu quero ser de pedra
firme no gesto aberto
da conquista de horizontes
meu país tão novo
areias novas na praia
nuvem clara no azul
meu país de povo
algodoais que sangravam
povo antigo e sempre novo
menino a vogar que sou
vida que à vida se dá
só não consigo entender
porquê que só as areias
porquê que só as nuvens
porquê que os algodoais?
sendo brancos são tão nossos?
Porquê, oh meu país,
que um qualquer lugar comum
recusa ao meu irmão
filho da minha mãe
que seja do meu país
a sua brancura pequena?
Amor entre ferrolhos
Amor de lágrimas florido na cruel distância
amor do grito sufocado na garganta estraçalhada
amor do abraço que prolonga a pausa de morrer
Quem tão terrível inventou o mel de amor
para entremeá-lo de escarpas de salitre
E cravá-lo de punhais de afastamento?
Quem tão horrendo e tão arrefecido
fez do calor de um beijo a despedida
adeus que roça a morte do luar?
Oh!, amor saudade silêncio a voz chorada
caleidoscópio de muralhas fantasia
pudesse reduzir o céu a uma gota!
Ferrolhos de tanto amor amado!
O velho pergunta ao destino
O velho pergunta ao destino
o que será da neta de dois anos
sulcos profundos
ravinas gretando a face
de guerras vividas nos dias todos
da vida.
Não tem resposta nem casa nem um leito nem remédios
(D. Moisés ou a Missão já estão distantes)
revolve o contentor e dorme em papelão
O esqueleto de um prédio e outros prédios
buracos e lagoas águas pútridas
cansados de silêncio e de quietude
mina a raiz penetra os ossos
gera a revolta e com ela tudo o resto
o velho cala no olhar o brilho antigo
Luanda é o poeta ou o poema?
Luanda é o poeta ou o poema?
poema que nasce na Mutamba
e se aperta no mais cheio maximbombo
do Cazenga dos Ramiros ou da Funda
que importa a linha e o destino
se Luanda vai no verso
e no canto da sereia ?
Luanda é um poema que se canta ou pinta
e se dança em ritmos amantes e viscosos
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