Alice Sant'Anna
(Rio de Janeiro, Brasil 1988)
ausencia
para ti tengo escritas con calma
cartas en un cuaderno azul
arranco de la espiral y no cuelgo
por pereza o ni muerta
tengo miedo de la espera
durante días o semanas un animal horrible
(especie de raposa) me perseguirá
por dentro, o seré yo misma
(¿un ratón?) carcomiéndome
mientras la respuesta no llega
pierdo mucho tiempo tratando
de dar nombres a los bichos
que suben la cortina del cuarto
CASA NUEVA
mamá decidió
que nos vamos a mudar
a nuestra propia casa
pintar todo de blanco
cambiar los muebles de lugar
vivimos en este departamento
desde que nací
las paredes
los cuadros
el mismo sol en el colchón
FRANÇOISE
de novecientos veinticinco
rollos de fotos, algunos clichés: françoise
hace la maleta para venir a verme
a parís, dice que le gusta esto sólo en invierno
en verano se pone demasiado caluroso y los pies
se hinchan. crema curativa en los dedos
un beso que sana, françoise
carga su cámara por todos los cafés
de la ciudad, pide el menú y astuta va
al baño, gran admiradora
de azulejos y jabones. le saca una foto
también al croque madame, ya en la mesa
cuando vuelve, agujerea la yema
con el tenedor y le parece muy gracioso el
amarillo coloreando pan jamón plato.
françoise hace origami con la servilleta, se sube
a la bici y acompaña la velocidad
de los coches, aprieta botones uno cinco tres ocho
contraseña correcta y la puerta se abre con un plac,
françoise sube las escaleras chardon lagache
92 revestidas de alfombra, empapelado
crema, y suelta las bolsas en el sofá.
françoise siempre dice que fue un día
de aquellos
Sobre a autora
Alice Sant'Anna nasceu no Rio de Janeiro, em 1988. Estreou com o livro Dobradura (Rio de Janeiro: 7Letras, 2008). Seu próximo livro, selecionado pelo Programa Petrobras Cultural (ainda sem título), está no prelo. Lançou também as plaquetes Pra não ficar na gaveta e Bichinhos de luz, em tiragens limitadas. Seus poemas estão em várias antologias, como a espanhola Otra Línea de Fuego – Quince poetas brasileñas ultracontemporáneas, organizada por Heloisa Buarque de Hollanda e traduzida por Teresa Arijón. Seu livro Pingue-Pongue, em parceria com Armando Freitas Filho, foi lançado no ano passado.
costelas de adão
não serve de nada a janela
a não ser para amparar do vidro do carro
a estrada que escapa veloz
e separar a montanha do céu noturno
na linha que divide o escuro do ainda mais escuro
você no banco um pouco mareado
estar perto não quer dizer muito
enquanto ainda não se chega lá
olhar pela janela uma tontura
a mesa que espera em casa
firme em suas quatro pernas
sustenta o vaso verde e nele
duas costelas de adão
as folhas estão prestes a irromper do vaso
assim que a luz for acesa
são fogos de artifício
estourando na fotografia
a sandália nova branca com dedos
que se refestelam do lado de fora
como crianças que sabem o verão que vem
de repente a chuva mingua os planos
da calça jeans com sandália de dedos
uma combinação entre-estações
para não se sentir nem tão lá nem tão
cá os dedos curvados corcundas
como crianças tristes que sabem
o toró que se aproxima as unhas recém-cortadas
que planejaram se mostrar sobre a cadeira de rodinhas
que nada a água inundou a sexta
da janela os bambus se movem muito
chegam a parecer desesperados
as folhas penduradas são cabelos colados
que gritam novas rugas onde nada havia
a bola branca entrou manchando
toda a sala de branco
de luz do inverno
que não esquenta, mas se não
sentíssemos nada não usaríamos casacos
pois a luz já convenceria do calor
aqui nessa casa a luz entra
por trás de bambus
bambus amarelos, alguns pendem
e as folhas pairam no ar às vezes
mexem para provar que não são fotografia
tem dias que a arrumadeira
por descuido deixa a porta do banheiro aberta
quando vai tratar de outra coisa
em outro canto a porta aberta
permite que eu entre no banheiro antigo
onde os visitantes não têm acesso
já que a porta fica sempre fechada
por um minuto posso ver secretamente
a banheira com a torneira dourada em forma de ave
e o espelho com ferrugem no entorno
tudo isso me dá um imenso prazer
a casa à noite, ninguém a habita
caminho sozinha
entre paredes de vidro
um enorme rabo de baleia
cruzaria a sala nesse momento
sem barulho algum o bicho
afundaria nas tábuas corridas
e sumiria sem que percebêssemos
no sofá a falta de assunto
o que eu queria mas não te conto
é abraçar a baleia mergulhar com ela
sinto um tédio pavoroso desses dias
de água parada acumulando mosquito
apesar da agitação dos dias
da exaustão dos dias
o corpo que chega exausto em casa
com a mão esticada em busca
de um copo d’água
a urgência de seguir para uma terça
ou quarta boia e a vontade
é de abraçar um enorme
rabo de baleia seguir com ela
POEMA INÉDITO
a sombra do avião atravessando
a copa das árvores não carrega ninguém
que se despeça ou tome chá
água fervida em bule de ágata
na sombra do avião não há quem acorde
com os pés pendurados pra fora do colchão
não há ninguém que uma vez tenha se assustado
com o sangue do nariz
colorindo de vermelho a cama
em plena madrugada a sombra do avião
não faz sentir saudade nem pena
nem vontade de ir com ele e cruzar
a copa ou o quarto
pode apenas olhar pra baixo
quem vê a sombra do avião
na copa entre as asas
19/04/12
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