TORQUATO NETO
Nacido en Teresina, Piauí, Brasil en 1948. Se suicidó en 1972, en Río de Janeiro, Brasil. Importante poeta y letrista y del tropicalismo. Su contribución más importante a este movimiento son sus canciones reconocidas como Geleia geral. Además de Marginalia 2 o Mamae coragem.
Colaboró con Gilberto Gil, Caetano Veloso y Jards Macalé. Dejó importante material inédito reunido posteriormente en Os últimos días de paupéria. Siempre, en todos sus escritos, defendió y divulgó el trabajo de artistas de vanguardia, tanto de la música como de la poesía o el cine brasileño.
Su libro de poesía Os últimos dias de Paupéria (1973) se publicó póstumamente.
A seguir, textos extraídos de la revista venezolana (en la web) LA COMUNA DE BELLO. N. 2, abril 2014
Go Back
Você me chama
Eu quero ir pro cinema
Você reclama
Meu coração não contenta
Você me ama
Mas de repente
A madrugada mudou
E certamente
Aquele trem já passou
E se passou, passou
Daqui pra melhor, foi
Só quero saber do que pode dar certo
Não tenho tempo a perder
Go Back
Usted me llama
Yo quiero ir para el cine
Usted reclama
Mi corazón no contenta
Usted me ama
Pero de repente
La madrugada cambió
Y ciertamente
Aquel tren ya pasó
Y si pasó, pasó
De aquí para mejor, fue
Sólo quiero saber lo que puede dar cierto
No tengo tiempo a perder
Cogito
eu sou como eu sou
pronome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do impossível
eu sou como eu sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem novos secretos dentes
nesta hora
eu sou como eu sou
presente
desferrolhado indecente
feito um pedaço de mim
eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranqüilamente
todas as horas do fim.
Cogito
yo soy como soy
pronombre
personal intransferible
del hombre que inicié
en la medida de lo imposible
yo soy como yo soy
ahora
sin grandes secretos de antes
sin nuevos secretos dientes
en esta hora
yo soy como yo soy
presente
liberado indecente
hecho un pedazo de mí
yo soy como yo soy
vidente
y vivo tranquilamente
todas las horas del fin.
Pra dizer adeus
Adeus
Vou pra não voltar
E onde quer que eu vá
Sei que vou sozinho
Tão sozinho amor
Nem é bom pensar
Que eu não volto mais
Desse meu caminho
Ah, pena eu não saber
Como te contar
Que o amor foi tanto
E no entanto eu queria dizer
Vem
Eu só sei dizer
Vem
Nem que seja só
Para decir adiós
Adiós
Voy para no volver
Y donde quiera que yo vaya
Sé que voy solito
Tan solito amor
Ni es bueno pensar
Que yo no vuelvo más
De ese mi camino
Ah, pena no saber
Cómo contarte
Que el amor fue tanto
Y en el en tanto yo quería decir
Ven
Yo sólo sé decir
Ven
Ni que sea sólo
Para decir adiós
Três da Madrugada
Três da madrugada
Quase nada
Na cidade abandonada
Nessa rua que não tem mais fim
três da madrugada
tudo é nada
a cidade abandonada
e essa rua não tem mais
nada de mim...
nada
noite alta madrugada
na cidade que me guarda
e esta cidade me mata
de saudade
é sempre assim...
triste madrugada
tudo é nada
minha alegria cansada
e a mão fria mão gelada
toca bem leve em mim
saiba:
meu pobre coração não vale nada
pelas três da madrugada
toda palavra calada
nesta rua da cidade
que não tem mais fim
que não tem mais fim
Tres de la madrugada
Tres de la madrugada
Casi nada
En la ciudad abandonada
En esa calle que no tiene más fin
tres de la madrugada
todo es nada
la ciudad abandonada
y esa calle no tiene más
nada de mí…
nada
noche alta madrugada
en la ciudad que me guarda
y esta ciudad que me mata
de añoranza
es siempre así…
triste madrugada
todo es nada
mi alegría cansada
y la mano fría mano helada
toca bien leve en mí
sepa:
mi pobre corazón no vale nada
por las tres de la madrugada
toda palabra callada
en esta calle de la ciudad
que no tiene más fin
que no tiene más fin
A RUA
toda rua tem seu curso
tem seu leito de água clara
por onde passa a memória
lembrando histórias de um tempo
que não acaba
de uma rua de uma rua
eu lembro agora
que o tempo ninguém mais
ninguém mais canta
muito embora de cirandas
(oi de cirandas)
e de meninos correndo
atrás de bandas
atrás de bandas que passavam
como o rio parnaíba
rio manso
passava no fim da rua
e molhava seu lajedos
onde a noite refletia
o brilho manso
o tempo claro da lua
ê são joão ê pacatuba
ê rua do barrocão
ê parnaíba passando
separando a minha rua
das outras, do maranhão
de longe pensando nela
meu coração de menino
bate forte como um sino
que anuncia procissão
ê minha rua meu povo
ê gente que mal nasceu
das dores que morreu cedo
luzia que se perdeu
macapreto zé velhinho
esse menino crescido
que tem o peito ferido
anda vivo, não morreu
ê pacatuba
meu tempo de brincar
já foi-se embora
ê parnaíba
passando pela rua
até agora
agora por aqui estou
com vontade
e eu vou volto pra matar
essa saudade
ê são joão ê pacatuba
ê rua do barrocão.
In: TORQUATO NETO. Os últimos dias de paupéria: do lado de dentro. Org. Ana Maria S. de Araújo Duarte e Waly Salomão. 2.ed. rev. e aum. São Paulo: M. Limonad, 1982
VAZ, Toninho. A biografia de Torquato Neto. Curitiba, PR: Nossa Cultura, 2013. 408 p.
LETRAS DE TORQUATO NETO MAIS CELEBRADAS!!!
GELEIA GERAL
Música: Gilberto Gil
Letra/ lyrics: Torquato Neto
Ouça a música / Oiga la música / Listen to the music:
http://letras.mus.br/torquato-neto/387442/
Um poeta desfolha a bandeira e a manhã tropical se inicia
Resplandente, cadente, fagueira num calor girassol com alegria
Na geléia geral brasileira que o Jornal do Brasil anuncia
Ê, bumba-yê-yê-boi ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê é a mesma dança, meu boi
A alegria é a prova dos nove e a tristeza é teu porto seguro
Minha terra é onde o sol é mais limpo e Mangueira é onde o samba é mais puro
Tumbadora na selva-selvagem, Pindorama, país do futuro
Ê, bumba-yê-yê-boi ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê é a mesma dança, meu boi
É a mesma dança na sala, no Canecão, na TV
E quem não dança não fala, assiste a tudo e se cala
Não vê no meio da sala as relíquias do Brasil:
Doce mulata malvada, um LP de Sinatra, maracujá, mês de abril
Santo barroco baiano, superpoder de paisano, formiplac e céu de anil
Três destaques da Portela, carne-seca na janela, alguém que chora por mim
Um carnaval de verdade, hospitaleira amizade, brutalidade jardim
Ê, bumba-yê-yê-boi ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê é a mesma dança, meu boi
Plurialva, contente e brejeira miss linda Brasil diz "bom dia"
E outra moça também, Carolina, da janela examina a folia
Salve o lindo pendão dos seus olhos e a saúde que o olhar irradia
Ê, bumba-yê-yê-boi ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê é a mesma dança, meu boi
Um poeta desfolha a bandeira e eu me sinto melhor colorido
Pego um jato, viajo, arrebento com o roteiro do sexto sentido
Voz do morro, pilão de concreto tropicália, bananas ao vento
Ê, bumba-yê-yê-boi ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê é a mesma dança, meu boi
LET´S PLAY THAT
Música: Jards Macalé
Letra/ lyrics: Torquato Neto
Ouça a música / Oiga la música / Listen to the music:
http://www.youtube.com/watch?v=KNWJXKWcQrs&feature=kp
quando eu nasci
um anjo louco muito louco
veio ler a minha mão
não era um anjo barroco
era um anjo muito louco, torto
com asas de avião
eis que esse anjo me disse
apertando minha mão
com um sorriso entre dentes
vai bicho desafinar
o coro dos contentes
vai bicho desafinar
o coro dos contentes
let's play that
LOUVAÇÃO
Música: Gilberto Gil
Letra/ lyrics: Torquato Neto
See the / Oiga la música / See the vídeo & music
ELIS REGINA & JAIR RODRIGUES:
http://www.youtube.com/watch?v=zNxVN77KF38
Vou fazer a louvação
Louvação, louvação
Do que deve ser louvado
Ser louvado, ser louvado
Meu povo, preste atenção
Atenção, atenção
Repare se estou errado
Louvando o que bem merece
Deixo o que é ruim de lado
E louvo, pra começar
Da vida o que é bem maior
Louvo a esperança da gente
Na vida, pra ser melhor
Quem espera sempre alcança
Três vezes salve a esperança!
Louvo quem espera sabendo
Que pra melhor esperar
Procede bem quem não pára
De sempre mais trabalhar
Que só espera sentado
Quem se acha conformado
Vou fazendo a louvação
Louvação, louvação
Do que deve ser louvado
Ser louvado, ser louvado
Quem 'tiver me escutando
Atenção, atenção
Que me escute com cuidado
Louvando o que bem merece
Deixo o que é ruim de lado
Louvo agora e louvo sempre
O que grande sempre é
Louvo a força do homem
E a beleza da mulher
Louvo a paz pra haver na terra
Louvo o amor que espanta a guerra
Louvo a amizade do amigo
Que comigo há de morrer
Louvo a vida merecida
De quem morre pra viver
Louvo a luta repetida
A vida pra não morrer
Vou fazendo a louvação
Louvação, louvação
Do que deve ser louvado
Ser louvado, ser louvado
De todos peço atenção
Atenção, atenção
Falo de peito lavado
Louvando o que bem merece
Deixo o que é ruim de lado
Louvo a casa onde se mora
De junto da companheira
Louvo o jardim que se planta
Pra ver crescer a roseira
Louvo a canção que se canta
Pra chamar a primavera
Louvo quem canta e não canta
Porque não sabe cantar
Mas que cantará na certa
Quando enfim se apresentar
O dia certo e preciso
De toda a gente cantar
E assim fiz a louvação
Louvação, louvação
Do que vi pra ser louvado
Ser louvado, ser louvado
Se me ouviram com atenção
Atenção, atenção
Saberão se estive errado
Louvando o que bem merece
Deixando o ruim de lado
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