miércoles, 27 de febrero de 2013

FREDERICO BARBOSA [9302]


© Frederico Barbosa



FREDERICO BARBOSA
(Recife, Brasil, 1961)

Poeta, editor y crítico literario, es uno de los principales exponentes de la poesía brasileña actual. Entre otros reconocimientos, ha recibido en dos ocasiones el Prêmio Jabuti, uno de los más prestigiosos de su país, con los poemarios Nada Feito Nada (1993) y Brasibraseiro (2004), escrito en colaboración con el poeta Antonio Risério. Su obra posee, además, traducciones en varios idiomas.

OBRA:

Rarefato (São Paulo, Iluminuras, 1990); Nada Feito Nada (São Paulo, Perspectiva, 1993); Contracorrente (São Paulo, Iluminuras, 2000); Louco no Oco sem Beiras – Anatomia da Depressão (São Paulo, Ateliê Editorial, 2001); Cantar de Amor entre os Escombros (São Paulo, Landy Editora, 2002); Brasibraseiro (em parceria com Antonio Risério), (São Paulo, Landy, 2004); A Consciência do Zero (Rio de Janeiro, Lamparina, 2004).



Rarefacto
otra trilogía del tedio


Traducción de Manuel Ulacia



I

Ninguna voz humana aquí se pronuncia
llueve un fantasma anárquico, demolidor

extensa nada en el vacío de este desierto
se anuncia como ausencia, carne en uña

olor silencioso en el viento escarpa
corte de un espectro que se posa en el agua






II

Sentía el fin correr en las venas.
Hay prisa: veía.
Hubo un momento grave.
(La película era mala. El cine, repleto.
En la luz neblina, escondido, un cigarro.)
Imposible escapar al pánico,
prever el vacío probable.
De pronto: el estallido.
Terminal,
la conciencia del cero rodando.
Estado, condición, estado.
Abre:






III

Avasallado por la piedra, insomne,
descolorido, el crimen principia
en la alta hora de la noche vacía
gana cuerpo en el transcurrir del día.

Gana cuerpo en el transcurrir del día,
avasallado por la piedra insomne
dolor de náusea delicada e infame
de la alta hora de la noche vacía.

Dolor de náusea delicada, infame,
en la alta hora en la noche vacía
gana cuerpo en el transcurso, en el día
avasallada por la piedra, insomne.

Gana cuerpo en el transcurrir del día,
dolor de náusea delicada e infame
descolorido, el crimen principia
se alía al tedio impune y se disipa.



Rarefacto

I

Nenhuma voz humana aqui se pronuncia
chove um fantasma anárquico, demolidor

amplo nada no vazio deste deserto
anuncia-se como ausência, carne em unha

odor silencioso no vento escarpa
corte de um espectro pousando na água

tudo que escoa em silêncio em tempo ecoa




II

Sentia o término correndo nas veias.
Há pressa: via.
Houve um momento grave.
(O filme era ruim. O cinema, lotado.
Na luz neblina, escondido, um cigarro.)
Impossível escapar ao pânico,
prever o vazio provável.
De repente: o estalo.
Terminal,
a consciência do zero rondando.
Estado, condição, estado.
Abre:





III

Dominado pela pedra, insone,
descolorido, o crime principia
nas altas horas de noite vazia
ganha corpo no decorrer do dia.

Ganha corpo no decorrer do dia,
dominado pela pedra insone
dor de náusea delicada e infame,
das altas horas da noite vazia.

Dor de náusea delicada, infame,
nas altas horas na noite vazia
ganha corpo no decorrer, no dia
dominada pela pedra, insone.

Ganha corpo no decorrer do dia,
dor de naúsea delicada e infame
descolorido, o crime principia
alia-se ao tédio impune e some.




Paulistana en verano

blanca
sujeta la falda
sorprendente y mínima
como quien no 
se sabe mostrar

al calor
desacostumbrada
insegura
atraviesa la calle
se revela casi
sin querer

belleza ZL (1)
mostrándose
fingida piedra
desciende de la peña (2)
retro queriéndose moderna

el viento
le lleva la casi
falda
y se ve la joya
sorpresa bruñida

que desaparece en la boca caliente
del metro

     (1) ZL: Zona Leste (Zona Este), es el mayor núcleo de barrios populares de São Paulo. 
     (2) Peña: Disemia que incluye una alusión a A Penha (La Peña), barrio de terrenos montuosos también en la Zona Este de la ciudad.


Traducción: Isidro Iturat



Paulistana de verão

branca 
segura a saia 
surpreendente e mínima 
como quem não 
se sabe mostrar

no calor 
desacostumada 
insegura 
atravessa a rua 
revela-se quase 
sem querer

beleza ZL 
descolada 
fingida pedra 
desce da penha 
retrô querendo-se moderna

o vento 
leva-lhe a quase 
saia 
e vê-se a jóia 
surpresa lapidada

que desaparece na boca quente 
do metrô








De
LOUCO NO OCO SEM BEIRAS
Anatomia da Depressão
São Paulo: Ateliê, 2001



o acordar é o
grave o

dia o
diabo o
diabólico o

sono o
sono o

horror o
chumbo o
mais que profundo o

todo o dia o
sempre o
diabo azul o
branco o

desespertador







começo-me
como quem grita sem
luz sem voz sem vis sem vez sem mais

desfocado
fora de faro
formigando em
câmera lenta

sem coragem
sem o que me dispare

vou









duas horas de sono
descompasso

quando muito duas horas

outras tantas horas
passo me decompondo

quantas muitas outras horas

passam com desdém
no eu opaco

horas 
passam eu passo
a noite em branco
descompasso





  

talvez razão na insônia
talvez insânia








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