martes, 26 de febrero de 2013

RICARDO ALFAYA [9295]





RICARDO ALFAYA
Ricardo Ingénito Alfaya nació en Rio de Janeiro, Brasil, en 8 de agosto de 1953, y se formó en Ciencias Jurídicas y en Comunicación Social y Periodismo. Escribe poesía, cuento, crónica, reseña, artículo y ensayo. Desde 1980 consta en más de setenta diferentes publicaciones del Brasil y del exterior con diversos trabajos.







Purificación

Distinguido oratorio
genuflexo confesaré a ese auditorio
todos los recados vergonzosos
que puesto que inhibido recatado
indisciplinado lujurioso
comentí en favor de la libídine
Dos puntos abrir piernas
“En pro de la decencia me Confuncio”
– cierra –
Abre los ojos
Fuera, hay un cielo escandalosamente lindo.

Versión de Amelinda Alves y el autor





OS PÁSSAROS

Os pássaros
descem e pousam
suavemente em seus braços
Espantalho ou santo
ele olha para o infinito
Os pássaros não perguntam nada
Ele
crucificado no ar
tem tantas dúvidas
Os pássaros bicam os seus braços
Comem a palha de seus ombros lentamente
Devoram os seus nervos sob a pele
Tingem a sua branca epiderme de dor
E ele sente uma saudade imensa
Ele odeia aqueles pássaros malditos
que trinam horrendamente
alegres canções de amor




LOS PÁJAROS 

Los pájaros 
bajan y aterrizan 
suavemente en sus brazos 
Espantapájaro o santo 
mira el infinito 
Los pájaros no preguntan nada 
Él 
crucificado en el aire 
tiene tantas dudas 
Los pájaros pican 
sus brazos 
Ellos comen la paja de sus hombros despacio 
Devoran sus nervios bajo la piel 
Tiñen su epidermis blanca de dolor 
Y siente una inmensa añoranza  
Él odia esos pájaros malditos 
que trinan horrendamente 
alegres canciones de amor  






VINDIMA

Esmago os dias
e as uvas
Minha vida
tinta
seca
Sorvo
gole
a
gole




LA VENDIMIA

Yo amaso los días 
y las uvas 
Vida mía 
tinta 
seca 
la sorbo 
trago 
trago







OFICINA DE SOMBRAS

A donzela encastelada
As miragens
As projeções sob a luz de velas
Se ao menos ela lançasse ao vento
suas tranças de letras
Mas a torre
dessa inalcançável Rapunzel
é vedada à visitação pública
E de domingo a domingo
o poeta
(impossível dragão)
permanece sozinho
cuspindo palavras de fogo
em sua oficina de sombras




LA OFICINA DE SOMBRAS 

La doncella encastillada 
Los espejismos 
Las proyecciones bajo la luz de velas 
Si por lo menos ella lanzase al viento 
sus trenzas de letras 
Pero en la torre 
de esa inalcanzable Rapunzel 
se prohíbe  la visita pública 
Y de domingo a domingo 
el poeta 
(imposible dragón) 
se queda solitario 
escupiendo palabras de fuego 
en su oficina de sombras
  




A ANGÚSTIA
DO HIPOPÓTAMO

O hipopótamo
voava para todo o lado
Sempre sob a ameaça
do próprio peso
O hipopótamo sabia
que hipopótamo não voa
E por isso ele deverá
cair
a qualquer momento
O que mais o angustia
todos os dias
é não saber
quantos morrerão
(além dele próprio)
em consequência
da estupenda queda



LA ANGUSTIA DEL HIPOPÓTAMO 

El hipopótamo  
volaba para todos lados  
Siempre bajo la amenaza  
del propio peso 
El hipopótamo sabía:  
el hipopótamo no vuela 
Así deberá 
caer 
en cualquier momento 
Pero su más grande angustia  
de todos los días 
es no saber 
cuántos se morirán 
(además de él) 
por la consecuencia 
de la estupenda caída

http://letrasdeveracruz.blogspot.com.es/





O SILÊNCIO DO ROUXINOL 

Shuang Sei
queria ver o rouxinol cantar
Mas o pássaro não canta
porque se encontra cercado
por barras de ouro
Shuang Shei não se conforma
gastara uma fortuna
na esplêndida gaiola  





GATUNO DA MADRUGADA

Caríssimo Sr. Cachorro
levante as patas
abra a bocarra
passe para cá o osso
Não leve a mal
tampouco discuta comigo
Afinal são os ossos do ofício
Não é você meu melhor amigo?
Meu caro lhe digo
a vida do brasileiro é dura
pura carne de pescoço
Desempregado insone
virei felino noturno
transformei-me
da madrugada
em gatuno
Então não discuta
nem pense em ladrar
que senão me irrito
e hoje estou
matando cachorro a grito  





É FANTÁSTICO

Um homem perdido
naquele quarto que é sala
naquela sala que é quarto
TV e janela
olham para ele
Lá fora impassível
aguarda
o infinito
Se impossível o grito
tampouco despejará no ar
o mais ínfimo gemido
Madrugada cai ao chão
mistura-se ao colchonete
que lhe serve de cama
Sem drama
o homem acaba
dormindo
Fim de jogo
Final de domingo   






BEM-VINDA

Aqui estás
depois de longa jornada
como quem não quer nada
entrando de mansinho
pela fresta da janela
Motivo de festa
vida
chegaste assim
chegaste a mim
o poeta
Como criança vieste
escondendo brinquedo
fazendo segredo
num dia de sábado
A ti
dirigi minha fronte
ergui o meu brinde
bebi na tua fonte
Beijei com audácia






CRUZADA

Fazer poemas
Como quem joga
Palavras cruzadas
Ver no tabuleiro
Qual melhor pedra
Se enquadra
Contar letras
Ou sílabas
Ou minutos
Da vida que vaga
E passa batida
Fazer poemas como quem joga
Fazer poemas como quem
Nada






POETA EM GESSO

Num tresloucado gesto
escreveu um poema expresso
e quebrou o braço
A dor que deveras sentiu
entortou-lhe a rima
deixando-o em pedaços
No hospital lhe engessaram os versos
Em casa com a ponta dos dedos
rabiscou
poemas dispersos
No peito a ânsia
de que o tempo levasse para longe
o gesso de sua alma






JARDIM-DE-INVERNO

A pele
não cobre
inteiramente meu corpo
Recorro a outros tecidos
ponho a gravata
decido o terno
No fundo de tanto pano
se não me engano
há um homem
que chamam de moderno
Uma vez por ano
a vida aqui fora
combina com esse estranho
habitante interno
Acontece no inverno





DO "ELOGIO DO ÓCIO" DE BERTRAND RUSSELL

Sem ócio
não há filosofia
Que o digam os antigos gregos
que o maldigam os então escravos
Sem ócio
não há poesia
Garante-me um assalariado
Numa noite de sábado







DA JANELA DE UM SÉTIMO ANDAR

Sonolenta a manhã se cobre de nuvens
há em tudo a imensidade do abandono
O meu rosto claro e rarefeito pela brisa
quer saber mais, quer saber se há cais

Percebo que gradualmente me dissolvo
Nada me salva da lenta e certa diluição
o cão que late ali sem rumo e sem dono
o homem ligeiro entrando na contramão

Sempre se perdem as folhas de inverno
Tremores de ventos sopram: "tudo passa"
Mulheres sem graça em compras na feira
feirantes tenores gritando ofertas na praça

Karina, mulher que em verdade não existe
caminha agora pela sala silenciosa e triste
Desliza na manhã os dedos finos e longos
Lá da rua insolente sobe crua uma risada.





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