domingo, 15 de junio de 2014

VERA PEDROSA [11.917]


VERA PEDROSA

Vera Pedrosa Martins de Almeida, nació en Rio de Janeiro, Brasil en 1936. Poeta, crítica de arte y diplomada en filosofía. 

Vera Pedrosa Martins de Almeida é carioca, poeta, crítica de arte, diplomada em filosofia e foi uma das nossas mais destacadas diplomatas durante a primeira fase do governo Lula, tendo encerrado a carreira como Embaixadora em Paris, onde participou da realização de um espetacular “Ano do Brasil na França”. Foi, também, embaixadora do Brasil no Equador e na Dinamarca. É filha de Mario Pedrosa, militante político, considerado o iniciador da crítica de arte moderna do Brasil, em especial do movimento concretista, tendo sido colaborador e diretor dos mais importantes museus de arte do Rio e de SP. Além de dar um importante testemunho vivido sobre os elementos que separam ou aproximam os povos, a Ministra Vera Pedrosa propõe a Arte como o melhor “atalho” para a comunicação entre os corações e as mentes das pessoas – estejam onde estiverem. Livros publicados Poemas (Rio de janeiro, 1964), Perspectivas naturais (Lima, 1978), De onde voltamos o rio desce (Lima, 1979; re-editado e relançado em 2011, pela Bem-te-vi). 




Poemas:





FARS

Fue hace tiempo y entre amores
decisivos
cataclismos
creaciones confinamientos jaulas
aeronaves
Fue antes de las exposiciones de motivos
Hubo una época
tan descansada en que
desde que se tuviese
una ventana en movimiento
ella era imagen
deslizándose entre hojas
se extendía bajo los árboles
entraba en corredores
salía por las puertas
era él en la arena
las mañanas del deseo más difuso
Cuando había ceniza en el mar
era él quien estaba
(de suéter)
en la antepenumbra mojada
Cuando era noche
era él casi rabia, en la espera.
Dulce y desnudo en el banquete
en una huerta de lechugas
soñé con él esta noche.

TRADUCCIÓN DE ADOVALDO FERNÁNDES SAMPAIO
Extraído de la obra
VOCES FEMENINAS DE LA POESÍA BRASILEÑA
Goiânia: Editora Oriente, s.d.



FARS

Foi há tanto tempo e entre amores
decisivos
cataclismas
criações confinamentos jaulas
aeronaves
trens.
Foi antes das exposições de motivos.
Houve uma época
tão descansada em que
desde que se tivesse
uma janela em movimento
ele era imagem
deslizando ante folhas.
Se estendia embaixo de árvores
entrava em corredores
saía de portas.
Na areia ele era
as manhãs do desejo mais difuso.
Quando havia cinza no mar
era ele que estava
(de sueter)
na antepenumbra molhada.
Quando era noite
ele era quase raiva, na espera.
Doce e nu, sentado no banquete
numa horta de alfaces
sonhei com ele esta noite.






(Os poemas abaixo foram retirados do livro “26 poetas hoje”, organizado por Heloísa Buarque de Hollanda no ano de 1975).



THE PLOT THICKENS

Na carta à irmã
ele escreveu –
era sete de maio –
como via as folhas
escolhendo a direção
de se abaixarem
dançando
sob a chuva.
Fazem muito bem
em não permitir
– registrou –
um enterro cristão
aos suicidas
que só transitam
de uma morte a outra
num labirinto frio e azul.
Me abandonando
quero mesmo que
falecesse.
Se estava
tão deprimido
com o olho duro de araponga
como me contaram.
Escreveu-me dizendo
que faria um estrondo e o topo
do crânio seria
feito em mil pedaços
que se alojariam
com massa branca e cinza e sangue
nos ladrilhos da cozinha.
Estou te escrevendo
continuava a carta
da mesa onde janto,
um dia cheio de presságios
me lembrando
de como a gente olhava
as árvores
no jardim da viúva
da janela estreita
do quarto do avô
o velho sempre de chinelos
macios de couro marrom
o vento empurrando um galho
contra a batente.
Ah, Henrique, não posso
levantar a cabeça
que te vejo com rosto de morto,
as pálpebras vazias.
Tuas mãos são como plantas
que qualquer remuo
dobra
teu olhar flutua
onde olho.






SONHO DO VESTIDO VIOLETA

“Le reveur de la nuit ne peut énoncer un cogito”

Descobri o cadáver muito mais tarde
no meio de uma viagem.
Passava por regiões
de passado futuro
o trem atacado por índios atarefados
ruínas negras de megalópolis de concreto
E tendo achado o cadáver
soube que me haviam enterrado
com meu vestido de seda violeta
um vestido precioso anunciador
da precognição da morte.
Então determinei
que desencarnassem o cadáver
e enterrassem a ossada límpida, polida
numa cova de terra úmida
enquanto a multidão de índios
sem real perigo
cercava o cemitério
mas depois se dedicava à tarefa muito mais séria
de destroçar as vigas que sustentavam nosso teto.







CORTEJO

Tendo estado
toda uma tarde
ouvindo
um tempo branco
sentindo dedos de água
descidos da noite.
Figuras
surgem paralelas
como saídas agora
da cal da parede.
Ali onde a sombra joga
na brisa de outra água.
De perto,
a superfície do muro
pára:
distração.






Não se ouvem mais o vozerio, as intermitências,
clamores ou batida de martelos, pregos,
alguém que lixa uma tábua.
Estou um instante só na sala.
Batalhei para fechar a janela.







FIM DE DIA

Quando choveu o ar está
com água pesando
e passam aves rápidas
manchas indecisas
sombras
concentração de névoa
e do alto se vê
o topo da árvore
e as flores laranjas
desse flamboyant
vibram com o movimento
acelerado
do esôfago ao estômago.
O dia desenrolou
vagaroso o tédio recolhido
armado
sob um prisma de cristal ao lado
de um paralelepípedo de vidro verde
sobre a mesa preta
com objetos de prata.
A noite se aproxima.
Você pediu chocolate
veio na bandeja
os biscoito meio moles.
Faz-se o gesto de afastar.
cinco jornais amarfanhados
de cima do pano claro do sofá.
Que fazer com a tomada solta
a lâmpada queimada
o passepartout amarelecido?






Sai se esgueira
pela sala adentro
pelo corredor
de onde volta
trazendo o leite do irmão
Fez um frio súbito
teve fome
como um gato
céu abaixo se despeja
uma água de chumbo







PARA LÍVIA

Pensar que tua avó
criou-se nessa chácara
(onde ao pé da
mangueira desenterraram uma vez
um caco)
com todos os córregos
e os brinquedos chegavam
da Europa numa mala.
Os pés de lichi o bisavô
mandara trazer da índia
(se dizia líxia).
Faz frio no jardim
descido da mata
(flanco que ilumina e
umedece
esse cansaço de retorno).
Onde tua tia-avó
delimitava áreas
de horror e solidão.
Pensar que passavam os dias
encolhidas
(embaixo dessas árvores)
em pontos de sombra.







EDIFÍCIO

Veio no cartão postal da ponte
aquela luz branca demais brumosa
e de repente me vi
diante. do mesmo edifício branco
corpos se separando
na maresia





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