ANTÓNIO MOURA
Nacido en Belém do Pará, Brasil en 1963. Poeta, autor, guionista y video. Reside en Belem.
Obra poética: Dez (1997), Hong Kong & Outros Poemas (1999) e Rio Silêncio (2004).
Obra poética: Dez (1997), Hong Kong & Outros Poemas (1999) e Rio Silêncio (2004).
ANTOLOGÍA DE POESÍA BRASILEÑA, edición de Jaime B. Rosa. Organización Floriano Martins y José Geraldo Neres. Muestra gráfica y portada Hélio Rôla. Edición bilingüe Português - Español. Valencia, España: Huerga & Fierro editores, 2006. 247 p 13,5x21,5 cm.
MANCHAS
Una pequeña mancha negra ave en el techo del día.
El día que se yergue desde el son de las estrellas.
Ave sobre la tierra y que suave anida
en las retinas del hombre que, pequeñito,
entorna los ojos dirigidos hacia arriba.
Una pequeña mancha en la tierra
y una pequeña mancha en el cielo,
reflejándose en sus imágenes provisionales.
La mancha que planea y
la mancha que se arrastra,
pero que también se eleva cuando
la vista del pájaro le presta alas.
Mancha presa en el césped mirando
la mancha negra suspendida en el azul,
venidas del vientre secreto del mundo
para incertidumbre de la faz visible de la naturaleza.
Mancha celeste, mancha terrena.
Entre ellas apenas el rumor del viento
susurra el polvo y la nube de la existencia.
Pequeñas manchas negras sobre el blanco del día.
Ave y hombre, dos puntos, al borde del silencio.
MANCHAS
Uma pequena mancha preta ave no topo do dia.
O dia que se ergue do sono das estrelas.
Ave sobre a terra e suave se aninha
nas retinas do homem que, pequenino,
entrecerra os olhos lançados para cima.
Uma pequena mancha na terra
e uma pequena mancha no céu,
espelhando-se em suas imagens provisórias.
A mancha que flutua e
a mancha que se arrasta,
mas que também se eleva quando
a visão da ave lhe empresta asas.
Mancha presa na relva mirando
a mancha preta suspensa no azul,
vindas do ventre secreto do mundo
para a incerteza da face visível da natureza.
Mancha celeste, mancha terrena.
Entre elas apenas o rumor do vento
segreda a poeira e a nuvem da existência.
Pequenas manchas pretas sobre o branco do dia.
Ave e homem, dois pontos, à beira do silêncio.
DONDE
Donde la voz es tan aguda que
su punta de diamante corta
el cielo de vidrio, y donde la luz
es tiniebla, por el tan intenso brillo
Donde el presente es eterno y lo
eterno tan efímero, que el tiempo,
inmóvil, es un Buda sentado al
borde y a la sombra de sí mismo
Donde la belleza es temible de
tan radiante, rostro, rosa, que
nos interroga en el silenció de -los
espacios infinitos que aterra
Donde el vacío es un estar lleno
de nada, y donde todo no pasa
de espacios-entre las estrellas, vida,
muerte, en una única centella
ONDE
Onde a voz é tão soprano que
sua ponta de diamante trinca
O céu de vidro, e onde a luz
é treva, de tão intenso o brilho
Onde o presente é eterno e o
eterno tão efémero, que o tempo,
imóvel, é um Buda sentado à
beira e à sombra de si mesmo
Onde a beleza é medonha de
tão radiosa, rosto, rosa, que
nos interroga no silêncio dos
espaços infinitos que apavora
Onde o vazio é um estar cheio
de nada, e onde tudo não passa
de espaços entre as estrelas, vida,
morte, numa única centelha
TRAS EL DILUVIO
Por la mañana, tras el diluvio, el légamo en las calzadas,
los restos de la tormenta en el final, el silencio blanco
del cielo empapado, en gasa, las casas de, lodo
y las alamedas disparando sus alarmas, los
cangrejos cayendo de los; nidos de los árboles
y las aves, en el suelo, queriendo reemprender el vuelo
con el peso del barro y las hiedras sobre las alas,
el barco encallado en lo alto de un tejado,
los animales estatuas bajo la arcilla encostrada a la orilla
del mar muerto de sed bebiendo viento en las manos
en concha de arena, los jardines, oh, los jardines
desabrochando en lodo, la sangre de los niños
chorreando de los grifos de los palacios y corriendo
a caños hacia las alcantarillas, el sol lamiendo
la piel de las serpientes que -relámpago- ahora
cambian de cascara y penden entrelazadas
en los parapetos de los edificios entre las flores entre
abriendo los párpados de musgo para el arco iris
reflejado en los ojos del rostro sobreviviente,
que aspira el aire, aún húmedo, después del diluvio
APÓS O DILUVIO
Pela manhã, após o dilúvio, a lama nas calçadas,
os cacos de trovões no chão, o silêncio branco
do céu ensopado em gaze, as casas de lodo
e as alamedas disparando seus alarmes, os
caranguejos caindo dos ninhos das arvores
e as aves, no solo, querendo refazer o voo
ao peso do barro e das h'eras sobre as asas,
o navio encalhado no topo de um telhado,
os animais estatuas sob a argila crosta à beira
do mar morto de sede bebendo vento nas mãos
em concha da areia, os jardins, Ó, os jardins
desabrochando em lodo, o sangue das crianças
jorrando das torneiras dos palácios e correndo
em sarjetas para os esgotos, o sol lambendo
a pele das cobras que — relâmpago — agora
mudam de casca, e pendem entrelaçadas
nos parapeitos dos edifícios entre as flores entre
abrindo as pálpebras de musgo para o arco-íris
refletido nos olhos do rosto sobrevivente,
que aspira o ar, ainda úmido, após o dilúvio
EN UN LIBRO DE SAN JUAN DE LA CRUZ
Entre las páginas de un libro de
San Juan de la Cruz me encuentro
con la vida entrelazada a la muerte al
acaso, entre la vida que allí florece
en palabras, voz humana que
en el desierto en .blanco se propaga,
el cuerpo muerto de un insecto entre
las páginas habla de lo que puede estar
siendo y — en un relámpago — haber sido,
fuego sofocado por la mano desconocida
que, súbitamente, cierra el libro
NUM LIVRO DE SAN JÜAN DE LA CRUZ
Entre as páginas de um livro de
San Juan de La Cruz deparo
Com a vida entrelaçada à morte ao
acaso, entre a vida que ali floresce
em palavras, voz humana que
no deserto em branco se propaga,
o corpo morto de um inseto entre
as páginas fala do que pode estar
sendo e — num relâmpago — ter sido,
fogo abafado pela mão desconhecida
que, subitamente, fecha o livro
Crepúsculo City
Urbo rubor
Ruído
O sol-motor
carbura cor
dor
a diesel
Nosferatu
Quando a lua uiva
sobre sonos e sopra
o pó das sepulturas,
exalo meu perfume e
negro lume, escapo
A capa, asa de negrume
envolve teu corpo, ar
repiando o dorso, car
ícia de brasa gelada
E por fim deixo em tua
pele-página, orifícios,
dupla marca, ver
melho sangue: cravadas
TRAVESSIA
Um dia para atravessar – sol
entre duas noites imensas,
tendo como companhia o corpo,
este pequeno animal que não
te pertence e que, sem nada
perguntar, se oferece, devotadamente,
ao tempo, deus que também é
o próprio corpo em silêncio
Um dia para transpor tendo por alimento
a poeira da estrada que se estende
branca, do nascente ao poente e
que, lentamente, transforma-se em
riacho negro que passa sob a
ponte suspensa da Via Láctea
Ir, à outra margem, de acordo
com o que a própria ida engendra
Ora com o silvo das serpentes sob o passo
Ora andando sobre as águas do poema
MOURA, Antonio. Hong Kong & outros poemas. Cotia, SP: Ateliê Editorial,1999. 91 p. 14x20 cm. Projeto gráfico e capa: Marcelo Cordeiro. Editor: Plínio Martins Filho. ISBN 85-85851-92-9 “ Antonio Moura “ Ex. na bibl. Antonio Miranda
Até que ponto a lírica suporta o "desaparecimento eloçutório do poeta", a supressão do sopro pessoal de sua frase, da respiração expressiva do verso? Se o poema, destinados a todos e a ninguém, implica sempre, como Gottfried Benn afirmou, na questão do Eu, não será esse desaparecimento a metamorfose do sujeito de enunciação? É o que perguntamos diante desses últimos textos de António Moura severos, ascéticos, impessoais, os versos como que desenhados na página. BENEDITO NUNES
ABRIL, 22, 1999
Mãe, outra vez em
teu ventre (voz
tornada à ostra
estrela — silêncio
atrás da porta
que se fecha
ao ar mundano
e mesma abre-se
a outra brisa,
noite, jardim
que não se extingue
NOITES, DIAS
A LUCIANA MEDEIROS
Noites de seda obsedantes
Dias de caos causticantes
Um céu silêncio de estrelas
explosão diamantes
Um sol confusão de homens
nomes entre si distantes
Um céu macio, sexo
Um sol duro, osso
Um mundo sem nexo
exigindo corpo
No hay comentarios:
Publicar un comentario