martes, 1 de mayo de 2012

6614.- LUIZA NETO JORGE




LUIZA NETO JORGE
(1939-1989)

Nació en Lisboa, en 1939. Estudió Filología Románica en la Universidad de Lisboa. Residió largo tiempo en París, regresando a Portugal en 1971. Ha traducido a Michaux, Bretón, Appolinaire, Bivian Y Nerval, entre otros. Colaboró como argumentista y dialoguista en varios filmes y realizó adaptaciones teatrales, entre otras actividades artísticas.




El poema enseña a caer

El poema enseña a caer
sobre los variados suelos
desde perder el piso repentino bajo los pies
como se pierden los sentidos
en una caída de amor,
al encuentro del cabo
donde la tierra se abate y
la fecunda ausencia excede.

Hasta la caída venida
del lento deleite de caer,
cuando el rostro alcanza el suelo
en una curva delgada sutil
una venia a nadie en especial
o especialmente a nosotros un homenaje
póstumo.






    La magnolia

La exaltación de lo mínimo,

y el magnífico relámpago

del acontecimiento maestro
me restituyen la forma

mi resplandor.
Una diminuta cuna me recoge

donde la palabra se elide

en la materia –en la metáfora–

necesaria, y leve, a cada uno

donde se hace eco y resbala.
La magnolia,
el sonido que se desarrolla en ella
cuando es pronunciada,
es un exaltado aroma
perdido en la tempestad,

un mínimo ente magnífico
deshojando relámpagos
sobre mí.

(Traducción de PEDRO SERRA)






TEXTOS EN ESPAÑOL
Traducción de Xosé Lois García


         El poema

I

Aclarando que el poema
es un duelo agudísimo
queiro decir um dedo
agudísimo claro
apuntando al corazón del hombre

hablo
con una aguja de sangre
que me cose todo el cuerpo
a la garganta

y a esta tierra inomóvil
donde ya mi sombra
es un motivo de alarma



II

Piso del poema
suelo de arena

Digo en la forma
más cruda y más
intensa
de medir el poema
por la medida entera

el poema en milímetro
de madera

o se pudre el poema
o se quema

o se despedaza
la mano atea

o cinco seis astros
se explotan

antes que el desierto
mate el hambre











TEXTOS EM PORTUGUÊS

         O poema


         I

         Esclarecendo que o poema
         é um duelo agudíssimo
quero eu dizer um dedo
agudíssimo claro
apontando ao coração do homem

falo
com uma agulha de sangue
a coser-me todo o corpo
à garganta e a esta terra imóvel
onde já a minha sombra
é um traço de alarme


II

Piso do poema
chão de areia

Digo na maneira
mais crua e mais
intensa
de medir o poema
pela medida inteira

o poema em milímetro
de madeira
ou apodrece o poema
ou se ateia

ou se despedaça
a mão ateia
ou cinco seis astros
se percorre
antes que o deserto
mate a fome




Os olhos

Os olhos poderiam viver
única
mente

Conhecem o ventre
à mãe
viram nascer

São atrozes
viram-se

Continuam os ócios interiores




A língua

A língua
que é líquido
sacro
não transborda

um dedo
que tocou

a palavra
não a aborda




Este ano

Este ano cresceu de joelhos
a noite conservou as quatro luas
as crianças têm seus cabelos
seus gritos de paz intransmissíveis





O homem que fugiu

O homem que fugiu
fugiu da lei
que estrada o vestiu
não sei

Acredito que era
o gêmeo
de um pássaro alerta
com a cabeça
a prêmio

O homem que fugiu
é meu
se alguém o pariu
deve ter sido eu

sua amante-mãe
mulher
que inventa o que ele vê
e o fere

O homem que fugiu
ganhou ao jogo
a mão incrustada
com que rouba
o fogo

e vos rasga o sono
em tiras
para que não sonheis
mentiras






Eu, artífice

Atento agora ao traço,
corrijo o mais da matéria,
ego a minha arte do poço
onde flutua.

Como o brilho se desprende
do metal mais bravo,
no forro de cada um
o desgaste é tanto

que eu, artífice, colho
o que de mim alimenta,
falo do que estou sendo,
da sua mão em desordem,
dos passos, das lágrima baixas
que se vão constituindo.






Pelo corpo

infinita invenção
de pétala a escaldar
desprende o falo

a palavra sublimada
que é ele a avançar-me
pelo corpo

a porta giratória
que me troca
pelo homem e, a este,

o fértil trajo
que lhe cria mais seios
pelo corpo





A solidificação: a solidão

os corpos gasosos movem-se
em correntes de ar
que solidificadas são
grossas paredes a separar
os outros corpos
a separar todos
os débeis estados da matéria





A quem se interesse

A quem se interesse
por tecidos, peles
sistemas de ocultação

lembro Bartolomeu
santo, mártir, manequim

o que há séculos passeia
sobre os ombros
ou dependurada no braço
feita capa
a sua pele escorchada

adereços:
os pés e as mãos,
a murcha máscara
da cara.





Anos Quarenta, os Meus

De eléctrico andava a correr meio mundo
subia a colina ao castelo-fantasma
onde um pavao alto me aflorava muito
em sonhos à noite. E sofria de asma

alma e ar reféns dentro do pulmao
( como um chimpanzé que à boca da jaula
respirava ainda pela estendida mao ).
Salazar tres vezes, no eco da aula.

As verdiças tranças prontas a espigar
escondiam na auréola os mais duros ganchos.
E o meu coito quando jogava a apanhar
era nesse tronco do jardim dos anjos

que hoje inda esbraceja numa árvore passiva.
Níqueis e organdis, espelhos e torpedos
acabou a guerra meu pai grita "Viva".
Deflagram no rio golfinhos brinquedos.

Já bate no cais das colunas uma
onda ultramarina onde singra um barco
pra cacilhas e, no céu que ressuma
névoas águas mil, um fictício arco-
-irís como é, no seu cor-a-cor,
uma dor que ao pé doutra se indefine.
No cinema lis luz o projector
e o FIM através do tempo retine.


De
CORPO INSURRECTO
e outros poemas
Organização Floriano Martins
Ilustrações Valdiney Souza Suzart
São Paulo: Escrituras, 2008.  143 p.  




E DO ESPANTO II

consagraram-me
ao espanto
que de minúsculo há
no mar
e ímpar sobre a pele

criança
circuncidada a foto e morte
(no céu da boca a memória absurda
das abóbadas)

mais
que na cidade
a matriz
dos arranha-céus líquidos

muito mais
que nos cartões
as clandestina chagas
digitais

o espanto permanece
por frestas e
por ombros
qualquer
onde e
quando    
               




A BOCA

em espessura do tempo feito infindo
em amor me feria     diltava

a boca era um leito um órgão de lava





A LÍNGUA

A língua
que é líquida
sacro
não transborda

um dedo
que tocou
a palavra
não a aborda.




ALGO SE ME ASSEMELHA

Algo se me assemelha
e me quer para si

me desembainha
quando menos espero

Distorção do espírito
para a morte

como o corpo num salto
irremediavelmente
lento
e
alto







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