PEDRO TIAGO
Nació en Óbidos, Portugal en 1983. Vive entre Caldas da Rainha y Lisboa, donde estudia Lenguas y Literatura Modernas. Es autor de O comportamento das Paisagens (Artefacto, 2011) y de los blog: lonely gigolo e exanimatus.
Nasceu em Óbidos em 1983. Reparte o seu tempo entre as Caldas da Rainha e Lisboa, onde estuda Línguas e Literatura Modernas.
É autor de O comportamento das Paisagens (Artefacto, 2011) e dos blogues lonely gigolo e exanimatus.
APOYO TÉCNICO
(CONSIDERACIONES DE PENÉLOPE)
mi vida doméstica e íntima forma parte de esta
mitología de lo cotidiano; quedarse sentada delante de la ventana
comiendo una pera mientras truena, y mi
amante se ducha para liberarse de mi
olor antes de ir al trabajo. tengo la Odisea
de Homero en la mesilla para tener la evidencia de
que nunca seré una poeta en serio. después,
me rasco las piernas. iguales a las de mi madre, las piernas.
grandes. y las caderas, de mujer entera,
de hembra paridera, de bestia mitológica que
origina los pecados, pero después se redime dando
a luz al Salvador del Mundo. mi amante abre una
cerveza y cierra la puerta tras él. truena y la pera
se termina, sin ningún mito, espero semidesnuda
aHomero en la mesa de noche. si Ulises
me amase sería todo más fácil.
O comportamento das paisagens (Artefacto,2011)
Traducción: Montserrat Villar Gonzales
APOIO TÉCNICO
(CONSIDERAÇÕES DE PENÊLOPE)
a minha vida doméstica e íntima é parte desta
mitologia do quotidiano; ficar sentada à janela
a comer uma pêra enquanto troveja, e o meu
amante toma banho para ficar sem o meu
cheiro quando vai trabalhar. tenho a Odisseia
de Homero à cabeceira para ter a certeza de
que nunca serei uma poetisa a sério. depois,
coço as pernas. iguais às da minha mãe, as pernas.
grandes. e as ancas, de mulher inteira,
de bicho parideiro, de besta mitológica que
origina os pecados mas depois se redime, dando
à luz o Salvador do Mundo. o meu amante abre uma
cerveja e fecha a porta atrás de si. troveja e a pêra
acaba-se, sem mitos nenhuns, espero seminua
o Homero na mesa de cabeceira. se Ulisses
me amasse era tudo mais facil.
O comportamento das paisagens (Artefacto,2011)
UNA CONVERSACIÓN DE ALMOHADA
te rebelabas, tu espalda doblada,
inclinada hacia delante, los senos rozando
las piernas mientras buscabas un calcetín
debajo de la cama y fruncías el ceño
como un niño que se despierta tarde:
«no comprendo porqué la poesía
tiene que ser tan absurda» y yo te contestaba
que tiene que ser así, porque el mundo
ya está lleno de cosas concretas y útiles
que no tienen ningún sentido.
O comportamento das paisagens (Artefacto,2011)
Traducción: Montserrat Villar González
UMA CONVERSA DE ALMOFADA
revoltavas-te, as tuas costas dobradas,
inclinadas para a frente, os seios tocando
nas pernas enquanto procuravas uma meia
debaixo da cama e franzias as sobrancelhas
numa cara de criança que acorda tarde:
«não percebo porque é que a poesia
tem de ser tão absurda». e eu respondia-te
que tem de ser assim, porque o mundo
já está cheio de coisas concretas e práticas
que não fazem sentido nenhum.
O comportamento das paisagens (Artefacto,2011)
PREVISIÓN MENOS MUSICAL DE UN FUTURO
será posible un día en que los bancos de jardín
sean llevados lejos y en las playas muchos
cuerpos antiguos desagüen, venidos de ríos
y de barcos naufragados. será el tiempo entero, completo, y en
la televisión se dirá que los bancos han quebrado y que en
todo el mundo se sienten los efectos del crash. será posible
que sea ese el momento en que la poesía hable
del crash y de la quiebra de los bancos, en el cine pondrán
películas inmóviles de vida salvaje y durante dos horas
se intentará inculcar el amor por el florecer de una
planta. será el tiempo de animales abandonados,
de papeles amarillentos y viento en las calles, un tiempo
oblicuo, de muchos profetas que hablan sin saber
qué palabras usar.
O comportamento das paisagens (Artefacto,2011)
Traducción: Montserrat Villar González
PREVISÃO MENOS MUSICAL DE UM FUTURO
será possível um dia que os bancos de jardim
sejam levados para longe e nas praias muitos
corpos antigos desagúem, vindos de rios e de barcos
naufragados. será o tempo inteiro, completo, e na
televisão dir-se-á que os bancos faliram e que por
todo o mundo se sentem os efeitos do crash. será possível
que seja essa a altura em que a poesia fale
do crash e da falência dos bancos, no cinema passarão
fitas paradas de vida selvagem e durante duas horas
tentar-se-á incutir o amor pelo desabrochar de uma
planta. será o tempo de animais abandonados,
de papéis amarelos e vento nas ruas. um tempo
oblíquo, de muitos profetas que falam sem saber
que palavras usar.
O comportamento das paisagens (Artefacto,2011)
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