lunes, 6 de abril de 2015

YVETTE K. CENTENO [15.401] Poeta de Portugal


Yvette K. Centeno

Nacida en Lisboa, Portugal 01 de enero 1940

Nacida en Lisboa en 1940, familia de origen germano-polaca. Licenciada en Filología Germánica en la Facultad de Letras de Lisboa en 1963, comenzó a enseñar como asistente en la misma escuela el año siguiente. En 1974, comienza a enseñar en la Universidad Nueva de Lisboa, donde actualmente es profesora catedrático de Literatura Comparada y Coordinadora de Área en el Departamento de Filología Alemana. Fundó y dirige la Oficina de Investigación de Simbología, así como un centro de estudios "Teatro y Sociedad". 

El teatro ha sido para Yvette Centeno una constante desde su juventud. Fue co-fundadora de CITAC, uno de los más importantes grupos de teatro universitario, de Coimbra. Desde entonces, además de escribir para el teatro, es adjunta a Activ Chevalier dans l'Ordre es de las Palmas Académicas por decreto del primer ministro francés (1997) y fue galardonada con el Verdienstkreuz 1. Klasse, otorgado por el Presidente de la República Federal de Alemania (1994). 




El nombre

Di.
Di el nombre.
Escoge
las sílabas.

Indica
las letras
con tu marca
de fuego.

Las cenizas
en breve apagarán
esa rara
existencia.

Traducido del portugués por Myriam Rozenberg





Tres breves poemas de Yvette Kace Centeno.


Alquimias

En la fuente
un sol alado
huirá en breve
volando y sublimado


Alquimias 

Na fonte  
um sol alado  
em breve fugirá  
voando e sublimado



Gestos

Faltó el gesto:
la mano que no se abría
la flor que no se dio



Gestos  

Faltou o gesto: 
a mão que não se abria  
a flôr que não se deu



Paz

No sabía qué era:
no tenía luz en las alas
sólo las manchas
de la tiniebla



Paz  

Não sabia o que era: 
não tinha luz nas asas  
só as manchas 
da treva

Tomados de:
Centeno, Yvette K. Outonais. Lisboa. Ed. Blurb. 2011. p. 20



Na Sopa de Carroll

(com Unsuk Chin)

A sopa de Carroll
leva de tudo
um pouco:
leva bichos
leva plantas
leva membros
decepados
pernas
braços
variados
e muito bem
temperados
com pòzinhos
de espirrar
chávenas
e chaleiras
bolinhos
a fumegar
e cabeças
de meninas
onde os sonhos
são plantados
as meninas
rodopiam
as meninas
dizem
não
e arrancam
os vestidos
não sabem a côr
das plantas
não sabem
os seus segredos
não conhecem
os destinos
e muito menos
os medos
o espaço é negro
e profundo
um poço feito
de pedra
com um portão
pequenino
a chave não está
na sopa
está no tempo
e o tempo é
infinito
e o infinito
o que é
não há resposta
certeira
por muito que
não se queira
as respostas são
iguais
em toda a mente
matreira
tão iguais
que tanto faz
e a chave
não serve assim
esta sopa
é brincadeira
não a podemos
comer
sopa de indigestão
quem cozinha
é a rainha
atirou dados
ao chão
escondeu cartas
no cabelo
em forma de
coração
e na mão ergue
um flamingo
com o sorriso
do gato
Carroll-coelho
avisou
o tempo
está a contar
o que ele conta
não sabemos
nem dá para
adivinhar
podemos imaginar
grita
o homem-escuridão
Alice fica
sem fala
em busca de
solução
e soluça
mas em vão



In Carroll’s Soup

(with Unsuk Chin)

Carroll’s soup
takes a bit
of everything:
it takes beasts
plants
chopped off
limbs
varied
legs
arms
all seasoned
very well indeed
with powders
that make you sneeze
teacups
and teapots
biscuits
still very very hot
and heads
of little girls
with dreams
planted on top
the girls
whirl
the girls
say
no
pull off
their dresses
don’t know 
the colour of plants
don’t know
their secrets
don’t know
the future
and most of all
don’t know fear
the space is black
is deep
a well 
made of stone
a narrow
gate
the key is not
in the soup
it lies in time
and time is
infinity
and for what
infinity is
there’s no answer
that is right
no matter what
you don’t wish for
the answers are
all the same
in one and all
foxy minds
so alike
it doesn’t matter
if the key
won’t fit the lock
this soup
is only a joke
we surely cannot
consume it
without indigestion
it was cooked
by the queen
who threw the dice
on the floor
hid the cards
in her hair
that is shaped
like a heart
her hand holds
a flamingo
smiling like
the cheshire cat
Carroll-rabbit
gave a warning
that time
was ticking on
what it tells
we don’t know
and we shall never
find out
but we can imagine
shouts 
the bogey-man
Alice loses
her voice
searching 
for a solution
and sobs
but in vain

Translated by Ana Hudson, 2010
in Outonais (poemas 2005-2010)



o rei

I

conta-me

conta-me entre as amêndoas

entre as mulheres
que é preciso
depor
aos pés
do rei

conta-me
torna-me
amarga

faz-me saber
mais
do que sei

poesia do mundo
organiz. maria irene ramalho de sousa santos
edições afrontamento
1995





A  MEMÓRIA  É  UM  NOVELO

Novelo

de pequenas
artérias
rebentadas

por ali
escorre
a memória

a pulsação
que dói

quem não recorda
não vive

não desenrola
o fio
que redime

Regresso ao café da minha infância.

O local é o mesmo, são outros os clientes. Por momentos pensei reencontrar o velho empregado, presença tutelar daquele lugar. Avental branco à cintura, braço levantado onde ao alto equilibrava a bandeja metálica, e súbito, a expectativa de uma semana a materializar-se. Pousava na mesa um enorme prato com bolos e um copo de leite morno. Eram o lanche sonhado dos domingos de chuva. A atmosfera densa do café no azulado do fumo de tabaco e vapor davam um sentido especial ao inverno.

Na pequenez dos meus seis anos, o café tinha a dimensão de uma catedral. Tecto alto, paredes imensas, povoado dos gigantes que eram os adultos e onde, por umas horas, tínhamos permissão de permanecer. Com alguma desilusão constato como essa catedral da minha memória é afinal um pequeno café onde escassas vinte pessoas se acotovelam. A decoração mudou.  Da madeira castanho escuro do balcão, mesas e cadeiras,  dos assentos em pele verde e da luz difusa, passou agora a uma atmosfera luminosa, madeiras claras e cadeiras de palhinha num ambiente de conforto descontraído, agradável ao adulto que agora sou.

Sentado na esplanada olho as palmeiras no jardim em frente, e lembrando como tinham quase 100 anos quando nasci vejo-as acrescentadas dos cinquenta anos que já vivi.

Voltei ao café da minha infância. As lembranças, os sonhos aqui vividos, a aprendizagem feita entre estas paredes, tudo isso guardo no canto especial das recordações queridas.

Lá fora anoitece e o céu veste-se de um profundo azul ultramarino. Os candeeiros da rua, agora acesos, salpicam o crepúsculo de pequenas luzes douradas numa feérica paisagem de sonho. Chuvisca e a calçada subitamente molhada brilha no fulgor da pedra polida pelos anos. Entre os vultos que passam na pressa do fim do dia, tento descortinar os rostos dos meninos que conheci. Em vão.

Ivette K. Centeno recorda no poema TAVIRA  I este mesmo jardim frente ao café da minha infância, o lago em volta do coreto onde tantos dias e noites de verão brinquei:


TAVIRA  I

Não brincam no jardim
as infâncias perdidas

O lago já secou
nas grades do coreto
enforcaram-se os músicos

E a palmeira
sem tâmaras
marca só o lugar
do tempo que passou.

Deixo-o, leitor, com esta bela interrogação sobre  A vida / Diria melhor o tempo?



DEFINIÇÕES

A vida

Diria melhor o tempo?
Mas não
não era o tempo
era a vida
um somatório de tempos
e de espaços

a vida estava agora
de tal modo concentrada
que pouco lhe sobrava
ou mesmo nada

Noticia Bibliográfica: Os poemas foram retirados do livro Entre Silêncios, publicado em 1997 por Pedra Formosa, Edições.




MULHER

Quando o ventre é o mar
quando o ventre é a água
salgada
numa boca
quando o ventre é a fonte
quando o ventre é a forca




Alice

É do lado de cá do espelho
que corremos perigo.
Do lado de lá 
tudo tem solução:
Alice espera por nós,
Alice dá-nos a mão.





Meninas

(a Paula Rego)


Saem da treva
as amas
sentam-se em bancos
pequenos
bem juntinhos
à lareira
abrem os cestos
de fruta
que são caixas
de costura
linhas de côr
e agulhas
vão bordar um pano
branco
saltam faúlhas
vermelhas
ouve-se o grito
rasgado
foge o gato
da tesoura
lá no fundo
uma menina
com o seu avental
de pranto


II

Sonhos confusos
engolidos
pela onda mais negra
água
do rio que passa
à beira-rio
a Sombra-mãe aguarda
esconde os sonhos
na caixa




Meninas

(to Paula Rego)



Out of the dark
come the maids
they sit on low
stools
tightly gathered 
by the fire
they open 
fruit baskets
that become
sewing boxes
colourful threads
 and needles
to embroider 
a white cloth
red burning sparks
burst out
the tearing scream
is heard
the cat runs 
from the scissors
there in the corner
a little girl
with her apron
full of tears


II

Confusing dreams
engulfed
by the darkest wave
water
of the passing river
on the river bank
the Mother-shadow awaits
she hides the dreams
in the box

Translated by Ana Hudson, 2010






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