José Eduardo Degrazia
(Porto Alegre, Brasil, 1951) Poeta, narrador, traductor, oftalmólogo, ha publicado decenas de artículos y crónicas literarias en diferentes periódicos y revistas tales como Zero Hora y Correio do Povo, tanto del Brasil como del exterior. Con una sólida obra que incluye unos 20 títulos en poesía, teatro y narrativa, se hizo acreedor en 2012 del Premio Mihai Eminescu de Prosa Literaria, entre muchas otras distinciones.
Sus libros de versos incluyen Iubirea este geometría (Craiova, 2012, traducción al rumano de su libro inédito en portugués Love is geometry, que acaba también de aparecer traducido al esloveno por el poeta Attila Bálazs), Corpo do Brasil (Movimento, Porto Alegre, 2011), A flor fugaz (WS Editor, 2011), Um animal espera (Território das Artes, 2010), A urna Guarani (Movimento, 2004), Piano arcano (Alcance, 1999), A porta do sol (Criar Edições, 1982), Cidade submersa (Movimento, 1979, traducido al español por Virgilio López Lemus como En busca del Sur [2000]) y Lavra permanente (Movimento, 1975). Su obra aparece en unas 30 antologías nacionales y extranjeras y ha sido traducido al español, italiano, francés, inglés, rumano y esloveno. También ha traducido a varios poetas del italiano y del español al portugués, entre ellos Gaetano Longo y Pablo Neruda.
Entre sus libros de cuentos cabe destacar: O atleta recordista (Movimento, 1996), A orelha do bugre (Movimento, 1998), A terra sem males (Movimento, 2000), Os leões selvagens de Tanganica (Movimento, 2002) y Los monstruos pastan afuera (La Habana, Arte y Literatura, 2013, en traducción de Virgilio López Lemus).
Ha escrito también textos juveniles tales como O samba da Girafa (Mercado Aberto, 1985), A caturrrita Cocota (L&PM, 1991) y Gato & Sapato (L&PM, 1997). Es también autor de las novelas O reino de Macambira (Movimento, 2005) y A fabulosa viagem do Mel de Lechiguana (Movimento, 2008).
RECETA
Para Sérgio Faraco
No deje que el tiempo
pase corrientes
alrededor de su cuerpo
y que las arañas
tejan telas
en sus dedos.
Es preciso impedir
que los ojos se despierten
al mirar por la ventana,
en la misma calle
donde hombres cenicientos
cruzan maquinalmente.
Es preciso tener zapatos
bien amarrados,
sin huecos en las suelas,
para que los pies no se cansen
y no se dañen
con las piedras del camino.
Vivir en casas
con portal, sótano y pátio,
donde podamos encontrar
personas desconocidas
y objetos indescifrables
en el umbral.
Tener reservas de cariño,
coleciones de sellos y de monedas,
tener amigos que gusten
de música y de poesia
bolsos y armários llenos.
Tener siempre la esperanza
de encontrar el amor
en um parque posible,
sábado o domingo
o cualquier outro dia.
Ante todo
y principalmente,
es preciso tener paciencia,
creer que los tiempos cambian
y que las telas de araña
no crecen sin motivo.
Traducción de Virglilio López Lemus
XVIII
El habla de los hombres
es la materia prima
del verso, de la rima.
Retiene en el tímpano
el habla clara de su pueblo,
o su algarabía.
El habla de los hombres.
El habla.
Pregunta a los amantes
¿Dónde están las manos de los amantes,
que en noches de ardiente verano
conocieron los cuerpos, la carne y el abismo?
¿Dónde están los ojos de los amantes,
que en noches antiguas miraron más lejos
que las estrellas más profundas del cielo?
¿Dónde están los besos y los dientes,
que mordieron la carne encendida?
¿Dónde están los sueños y los juramentos,
y el viejo sendero entre los árboles?
¿Dónde están los pájaros que hicieron
sus nidos en los cabellos de los amantes?
¿Dónde están los poemas que dijeron
ante la luna, palabras de amor eterno?
¿Dónde están las arenas que trillaron
en la playa, en el último verano, pasión y miel?
¿Y dónde están las abejas y los insectos,
que poblaron los caminos y las tardes?
Todas las preguntas de los amantes separados
quedarán sin respuesta, hasta el fin de los tiempos.
Silencio
No pienses que este silencio
es simple ausencia de voces,
hay espanto de flor naciendo
abismo de pájaro nocturno
rajando el furtivo espejo de la memoria.
(El silencio es simiente de algo más antiguo.)
En el silencio tu vivencia adelgaza
una realidad de fruto.
No pienses que este silencio
es simple ausencia de voces.
DISCÍPULOS DE EROS
Os namorados
são transparentes
quando olhados
de frente
de lado
de perto
ou distante
são diamantes
amantes, amantes
amantes
dão-se as mãos
simplesmente
mentes e olhos
mentem versos
verdades várias
vôos
são pássaros
são peixes
imersos no mar
do amor
esquecidos
de tudo
de nada
de todos
jogam dados
do destino
cantam hinos
são apenas
lábios, lábias
sedução
sábios e vivos
inocentes
e meninos
enquanto amor
os domina
e ilumina.
A HORA CERTA
Quando não se puder
mais olhar uma flor,
quando não se puder
mais amar uma mulher,
quando o mundo for
só aparência de ser
e não permitir alegria,
é a hora certa de plantar,
é a hora certa de cantar,
é a hora certa de amar
é a hora certa de ver,
é a hora certa de viver,
é a hora certa de colher,
a manhã sempre vem,
o amor pode voltar
pra te dizer que a vida
vale a pena ser vivida.
É a hora certa de plantar,
é a hora certa de cantar,
é a hora certa de amar,
é a hora certa de ver,
é a hora certa de viver,
é a hora certa de colher.
RECEITA
Para Sérgio Faraco
Para Sérgio Faraco
Não deixe o tempo
passar correntes
em volta de seu corpo,
e que as aranhas
teçam teias
em seus dedos.
É preciso impedir
que os olhos acostumem
o olhar pela janela,
na mesma rua
onde homens cinzentos
cruzam maquinalmente.
É necessário ter sapatos
bem engraxados,
sem furos nas solas,
para que os pés não cansem
e não se machuquem
nas pedras do caminho.
Morar em casas
com porão, sótão e quintal,
onde possamos encontrar
pessoas desconhecidas
e objetos indecifráveis
na soleira da porta.
Ter reservas de carinho,
coleções de selos e de moedas,
ter amigos que gostem
de música e poesia,
bolsos e armários embutidos.
Ter sempre a esperança
de encontrar o amor
num parque possível,
sábado ou domingo
ou outro dia qualquer.
Antes de tudo
e principalmente,
é preciso ter paciência,
crer que os tempos mudam
e que teias de aranha
não crescem sem motivo.
UM ANIMAL ESPERA
Porto Alegre: Minibuks Território das artes, 2010.
LEREI O ÚLTIMO LIVRO
Guardo o desvario
na gaveta da manhã.
São tantos rios a correr,
o mundo é tão grande,
existem trens prontos para partir
a qualquer instante.
Coloco os atavios do dia
no cabelo da mulher
que me ama, o vento sopra,
a chuva cai, os corpos ardem,
as estrelas fazem ninhos no telhado,
navios desfraldam bandeiras no mar,
existem náufragos em perdidas ilhas.
Músicas distantes invadem a janela,
há corpos que dançam, folhas caem.
Em cima de algum morro, um homem solitário
diz versos para a lua, o tempo passa
e a morte vem como um gato que se aninha.
Não tenho compromisso com a morte.
Guardo a morte entre as páginas do livro.
Este livro, eu sei. será o ultimo que lerei.
O SONHO INSEPULTO
O que poderei dizer
do sonho insepulto
no coração do homem?
Sob signos escuros nasci
irmão da lua e dos ciprestes.
Gastei minhas mãos
nos muros das casas fechadas.
Eu, amante da solidão
e na tristeza imerso,
vi a luz da aurora extática.
Na fábrica de tijolo,
no monjolo, em moinhos,
aprendi minha sina.
Plantei cacto no deserto,
colhi o grão do trigo,
amassei o pão.
Viajei na luz da estrela,
bebi a chuva e a torrente.
vivi a neve e o trópico,
eu, menino que queria
crescer além das árvores.
Adolescente fui como os outros,
amante do impossível,
as mulheres impassíveis.
O que mais poderia cantar?
Canto o sonho insepulto
no coração dos homens.
DENOMINAÇÃO
Com tua fala
noturna
feres o dia
e te refazes.
Dentro
da bruma
escalas
nova ressonância.
Do fundo
do poço
retiras
a inocência
trescalas
a perdidos,
sonho de amuragem
e jardim
entre muros.
Pousas em cada
coisa o nome
que lhe cabe.
GRITO
Poema-grito
a doer comigo
na caverna.
Guilhermino Cesar
Projétil
no revólver
minha fala
aguarda
meu grito
se guarda
na escura
caverna
que se puxe
o gatilho
e se encontre um peito:
a enxada e seu eito.
FORMA DO POEMA
O poema tem freio
de espuma e vento
difícil é achar
o momento exato
de contê-lo
nas mãos
e deixar que via:
forma concreta de poema.
CONSCIÊNCIA
O dínamo ronca
o seu maior
de-
feito
sobre o mundo.
A engrenagem
tritura an-
seios
téreis.
Sabes inútil
o protesto:
ninguém seguirá
teu último gesto.
Cabeça baixa
só tua consciência
continuará gritando.
Irás para o matadouro.
POEMA URBANO
No edifício
mil vidraças
refletem
meu rosto
sem graça.
Na fumaça
dos carros
meu travo
meu nojo.
No estojo
do apartamento
meu corpo
de cimento.
No bulício
da partida
minha ferida.
CIDADE ESTRANHA
Caminho pelas ruas
da cidade
e a tristeza
escala os muros
das velhas mansões.
Por trás das árvores
uma lua bêbada
sorri.
Entro num cinema
para ver gente:
está vazio.
Aos poucos se enche o cinema
com todos
os meus antigos fantasmas.
Corpo do Brasil: poesia. Porto Alegre: Movimento, 2011. 112 p. 14x21 cm. Prefácio de Maria do Carmo Campos. Ex. autografado. Col. A.M. (EA)
SOU BRASILEIRO
Por trás da janela
vejo o país
que me condena:
cidades e campos,
rios e ruas
na retina.
Prisioneiros somos
da perspectiva
que nos afasta
do que é em nós
mais terra e sangue.
Por isso nos escondemos
atrás de mesas executivas,
folheamos manuais
de covardia.
Há de chegar o dia
de dizer
com orgulho: brasileiro,
muito prazer.
SOU CANTOR
Todas as canções
que eu canto
são as canções
do meu povo.
Pois do povo
herdei voz
e pronúncia.
Depois de muito cantar
canto a dor e a renúncia.
Do povo eu sou cantor
e nisso não me engano
não escondo nas palavras
a minha verdade
como quem se esconde
embaixo de um poncho.
Não me escondo em atavios
nem em brilhos de efeito
o meu canto é pranto feito
do que para o povo é direito.
Cidade submersa. Poesia. Porto Alegre: IEL/ Editora Movimento, 1970.
CALIÇA
I
A palavra apronta
a consequência
no que transforma
ou estraçalha;
nela ardo,
em mim arma
a ordem, a cabala
dos frutos.
II
Trago o que não consta
nos anais e anuários,
mais os tempos imperfeitos,
verbais: inventário
em dias e anos: amos
de uma casa desabitada.
III
Conforme ao dia,
ao cartão ponto,
resumo o cotidiano
na impaciência: o sonho
até a náusea.
Me explico
no pesadelo.
IV
Fortuito o encontro
das mãos nesta casa
de paredes desabadas.
Escuso o rosto no espelho,
o passo na sala.
V
Estrutura da face
que se mostra:
a fachada da casa
onde se mora.
VI
A manha se constrói:
caliça nos dentes,
ódio na fala.
VIl
Irrisório é o sorriso
nesta idade de facas:
VIII
Albergo a palavra na esperança.
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