José Antônio Cavalcanti
(Río de Janeiro, BRASIL 1952)
Poeta carioca. Autor dos livros Anarquipélago, poemas, pela Ibis Libris e Palavra desmedida: a prosa ficcional de Hilda Hilst, tese de doutorado em Ciência da Literatura, pela Annablume, a ser lançado. Alguns textos publicados em Cronópios, Cult, Zunái, Mallarmargens, Germina, Eutomia, Periódico de Poesía, entre outros sites e revistas. Publica seus textos no blog Caosgraphia - http://caosgraphia.blogspot.com
Los poemas perdieron sus palabras.
Han caído, como dientes cariados,
en agujeros negros,
sórdidas rutinas,
fallas tectónicas.
Las palabras murieron ahogadas
en dosis letales de sonoridad,
se han convertido en fantasmas en el aire,
aves volatizadas,
despedazadas sílabas muertas.
El poeta es mímico y malabarista de lenguas
que ya nadie puede escuchar.
El arte se volvió en álgebra invisible
en estos días de solombra.
No hay más invención ni proyecto;
sonríe la estética de la midia
sob el cielo de acetato.
El tiempo fue expurgado
de cualquier temporalidad,
y alguien ha hurtado lo real
y sus márgenes de sueños:
nadamos en charcos de lama y plástico
en la ciudad sin metáforas.
Quizás ahora, que no hay más poemas,
podamos escribir un poema imposible.
Patria migrante
Nación de nómadas apátridas
fugitivos
exiliados
en vuelos clandestinos
balsas
túneles bajo lo destino.
Mapa de las minas
donde el oro sangra la América
— Eldorado Eldolores Eldólares —
la money-Canaán del siglo XXI.
Cholos, criollos, chicanos
en lo desierto o en aguas norteamericanas,
entre perros, coyotes y tiburones,
animales o humanos,
bajo las luces de una noche sin nombre
expuestos a patrullas de fronteras
o a la siniestra persecución de la Guardia Costera.
Riesgo de cárcel a los indeseables,
riesgo de muerte y su hermana,
la invisibilidad,
riesgo de crucifixón en un muro,
espejo de lo cinismo
que nos dibuja como bandas latinas.
Quedó atrás lo país de la infancia,
la morada ancestral
y las palabras de asombro y alegría.
Si civilizarmos la América,
si le enseñarmos la risa, la danza, el amor,
cómo ella tendrá fuerzas para invadir otras tierras
y inundar el mundo de codicia, bombas y rencores?
GALÉS
remos remos
raros leves
braços penas
riscando traçando
marcas rotas
nas águas com asas
remos remos
verdes duros
ramos cortes
flutuando desafiando
portos mortos
nas vagas com facas
remos remos
puros novos
letras rumos
inventando navegando
mares mundos
no futuro com procuras
remos remos
tristes largos
ritmos risos
talhando amanhecendo
rugas cantos
nas travessias com profecias
I (palavras)
em curso
as correntes
áureas algemas
no pulso
taquicardia
taquigrafia
fluxo
em curto
a energia vaza
para o caos
bastam 10%.
II (salvação)
Para o fundo
o ferro fundido
em Cremona,
o ver de olhos livres,
das meninas da gare,
a máquina do mundo
dos irmãos Dante & Drummond,
o concreto
entre design e divino,
clowns e espectros de Shakespeare,
o anjo Gabriel bêbado
no Cabaré Voltaire.
Não há mais reservas
para o Paraíso.
III (império)
Os ratos robustos
em seus turvos discursos
de tungstênio e medida milimétrica.
Vetustos sacripantas da onipotência
em ilusões de ética
para répteis.
Lixocracia,
o mal hálito do poder
arrota democracia
com tropa de choque,
estatísticas falsificadas,
demagogia.
Fezes e vermes,
a gosma de Leviatã.
IV (sentidos)
Carne sem tecido
ideias
no oco de ossos
sombras
no balé das ruínas
de signos fixados
simulacros
crucificados
nos objetos perdidos
entre a estação central
e a borda
do abismo
onde tudo desaba.
Sem noção,
tudo sem noção.
V (verdade)
Tratados teológicos,
cartas de princípio,
documentos secretos,
agendas,
certidões negativas,
ordens de despejo,
intimações da justiça,
cadernetas de vacina,
listas de compras.
declarações de fé,
relações de bens,
declarações de imposto de renda,
históricos escolares.
Em nenhum arquivo
vive a verdade.
VI (tempo)
Dez mil amigos virtuais,
um novo mausoléu flutuante
para embalsamar o tempo
em saquinhos de saquê ou de sacolé.
Nenhum espaço
sem preenchimento,
todos os mil itens obrigatórios.
Não esquecer sorriso permanente
frases de vencedor,
expressões de triunfo.
Acúmulo de bolsas
e acessórios.
Os vírus hackearam nosso fígado.
Os vírus apagaram os relógios.
VII (amor)
Só me lembro de Eros
quando o computador
dá pau
e aparece error
no monitor.
Os grandes amores
gosmentos
congelados no freezer
para toda a vida
sempre haverá outra
saída.
O amor morreu de retórica
pouco antes do almoço.
VIII (inimigo interno)
Há algo comigo
que não assimilo.
Em mim
o mais distante
horizonte
rasga o umbigo
e segue adiante
indiferente
ao meu pânico,
um afluente
inverso
- rio de matéria escura-
corre em refluxo constante,
ilegível verbo evasivo
inconjugável
conjura a falência dos sentidos.
Entre pleura e pneuma
o trânsito de inessência
intratável,
um lance
sempre fora de alcance.
E se eu for
somente aquilo que me escapa?
XIX (corpo)
Parafusos de titânio
no maxilar
para que as palavras
fora de fuso
soçobrem horizonte
eviscerado.
Da carne em ganchos
e febre
no frigorífico
pingos de suor
desgastam frágil guarda-volumes.
O rosto
profano sudário
fora de uso
trêmulo desenho
inconcluso.
Movimento peristáltico
do corpo
nuvem difusa
suicida
no vaivém
das cordas vocais.
Extirpar do rosto
todas as cidades perdidas.
X (horizonte)
Prestar atenção
ao excesso
não para podá-lo
mas ampliá-lo
até o limite
insuportável
do palco
onde ondas
desabam
círculos
em debandada.
espreitar
o que se acumula
como pus
nas palavras
extremas
espremê-las
em linhas
no sentido anti-horário
até não mais
alcançá-las.
Todo excesso
também é um deserto.
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