lunes, 12 de septiembre de 2011
4666.- MARIA DO SAMEIRO BARROSO
Maria do Sameiro Barroso (Braga, Portugal 1951), licenciada en Filología Alemana y en Medicina y Cirugía, ha ganado el Premio Palabra Ibérica y dos veces (1999 y 2008) el Premio Patrício que otorga la Sociedad Portuguesa de Escritores y Artistas Médicos (SOPEAM)
Libros publicados: O rubro das papoilas (Atrio, 1986; 2a edição, Laboratórios Azevedos, 1997), Rósea Litania, Edições Colibri, 1997), Mnemósme (Universitária Editora, 1997), Jardins imperfeitos (Universitária Editora, 1999 - Prémio António Patricio 1999, atribuído pela Sociedade Portuguesa de Escritores e Artistas Médicos), Meandros translúcidos (Editora Labirinto, 2006), Amantes da neblina (Editora Labirinto, 2007), As vindimas da noite (Editora Labirinto, 2008 - Prémio António Patricio 2008, atribuído pela Sociedade Portuguesa de Escritores e Artistas Médicos). Este livro foi destacado pelo Diário de Noticias como um dos quatro melhores livros de poesia de 2008. Vencedora do Prémio Poesia Palavra Ibérica 2009 com o original Urna ánfora no horizonte , edicao bilingue, tradução de Uberto Stabile (Livro do Dia, Torres Vedras, 2009). Este prémio foi instituído pela Cámara Municipal de Vila Real de Santo Antonio, numa parceria com o Ayuntamiento de Punta Umbría e com a colaboração de Sulscrito - Círculo Literario do Algarve.
De
Maria do Sameiro Barroso
UMA ÂNFORA NO HORIZONTE
UNA ÁNFORA EM EL HORIZONTE
Traducción de Uberto Stabile
Punta Umbria, España: Ayuntamiento, 2009.
“Prémio Palabra Ibérica 2009
ESCENARIO POST EXPRESIONISTA
Un cadáver por la mañana! Así, antaño, los cuerpos
indefinidos entraban lívidos, cenicientos,
en una noche de espectros capturados.
Buceaba en los sueños.
En todas sus avenidas, había un cadáver
lutrefacto, un halcón agonizante,
un embrión inerme, impedido de nacer.
Por eso urdí la espera, confinada a la soledad del
mundo,
cual Penélope o Ariadna.
Y los dias alternaban.
En las salas prohibidas, buceaban las preguntas.
En el cielo, circulaban páginas, palabras,
retazos centelleantes.
En el centro de todas las nieblas, los sueños
despertaban
negros, corno cadáveres insepultos,
hasta que el corazón se volvió sangre, linfa, poema,
y, en el lugar donde antano florecían coquetas,
os fragmentos de Gottfied Benn fluctuaban,
en el sablón antiguo, en las aguas aplastadas,
;n renacuajos escuros, recién nacidos.
CENÁRIO POST EXPRESSIONISTA
Um cadáver pela manhã! Assim, outrora, os corpos
indefinidos entravam lívidos, cinzentos,
numa noite de espectros capturados.
Mergulhava nos sonhos.
Em todas as suas avenidas, havia um cadáver
apodrecido, um falcão agonizante,
um embrião inerme, impedido de nascer.
Por isso urdi a espera, confinada à solidão do mundo,
qual Penélope ou Ariadne.
E os dias alternavam.
Nas salas proibidas, mergulhavam as perguntas.
No céu, circulavam páginas, palavras,
retalhos cintilantes.
No centro de todas as névoas, os sonhos acordavam
negros, como cadáveres insepultos,
até que o coração se tornou sangue, linfa, poema,
e, no lugar onde outrora floriam sécias,
os fragmentos de Gottfíed Benn flutuavam,
no saibro antigo, nas águas esmagadas,
em girinos obscuros, acabados de nascer.
http://www.antoniomiranda.com.br/Iberoamerica/portugal/maria_do_sameiro_barroso.html
En las playas de Nausicaa
En las playas de Nausicaa hay rocas, ovillos, rosas frescas,
el pasado delimitando ríos, un origen,
donde la vida es canto, desierto, ámbar, marfil,
otra sustancia.
En el aire, hay música, mariposas, pajarillos,
haciendo acrobacias en el polvo ardiente,
me llevan a la playa soleada
donde me abandono al placer de cantar el barro
y los nombres, en el aire rodeado de límpidas gotas.
Respirando la “maresia” –rueda desorientada
que une sagas, leyendas-,
las uvas se derraman, en la noche de yeguas negras,
entre acordes lunares, olas irreales.
De las quimeras de las sombras, emerge el mundo de Homero
aquel que conoció, de la muerte, el perfume de los dioses,
creando a Ulises, enredado en los velos de Caliope,
en las redes de Circe,
Penélope tejiendo su fidelísima tela,
Atenea en vigilia, luminosa,
los granados encendiendo su nocturna suavidad,
entre arpas, setos y mágicas balsas,
los dioses emergen
en los lauros, en el atrio marino, en las blancas violetas.
http://www.oriflama.es/PDF/ORIFLAMA%20%2017.pdf
Poemas da noite incompleta
Organização/prólogo Floriano Martins.
Artista convidado Antonio Hélio Cabral.
São Paulo: Escrituras, 2010. 207 p. (Col. Ponte Velha)
ISBN 978-85-7531-387-9 www.escrituras.com.br
ROSA INOMINADA
Amanhã, os frutos serão algo mais que a sombra anil
da minha carne incendiada.
Como urna estatua lisa, desvelada, em púrpura agonia,
o rosa se adivinha, o azul,
a fundura dos cílios longos, cúmplices, rectangulares
que vigiam as horas vagas, as horas mortas,
o vazio reticente.
Na suavidade das horas, nas membranas da noite,
entre faíscas de luz, vigio a melancolia,
os dedos quebrados pelo chão de pedra,
no difícil retorno do ser dividido.
Amanhã, os frutos serão algo mais que as rosas
esboroadas em que afundo os meus olhos.
Intemporal e leve pode ser o vento, a chama,
casual pode ser o gume cortante, o murmúrio insólito,
a lenta combustão, a cal lancinante.
Na quietude moldada, a cósmica exactidão das folhas,
das heras, vinca um instante de pó, um arbusto,
nos veios de cinza que cruzam e descruzam
a sinapse de luz que expande a ruína, a flor, a exactidão,
onde se afogam os lábios, os cabelos,
os lírios flutuando,
a seiva trémula pairando, na teia amotinada
do disperso alento.
FERIDAS, FOGO E FOLHAGEM
Falavas de feridas, fogo e folhagem, de um leito
açucenas, de nardos devorados na bruma,
enquanto eu escutava os teus muros, as tuas páginas,
os teus desertes íntimos.
Os mortos respiravam, tocando os oboés do sonho,
Nas asas do gelo, ecoavam guitarras,
os mortos respiravam exaustos, o silencio era
urna joia secreta onde eu percebia
que os vivos nunca ardem até ao fim.
Talvez as nascentes nunca se completem.
No peito obscuro, clamam os narcisos, o ouro,
o perfilado jasmim.
No nimbo olvidado, flutuam as aves.
Num limiar imanente, cúmplice é o diálogo
a destacar a ilusão dos rostos, a dimensão
dos corpos, os juncos aquáticos
(o espelho, as imagens),
a imagem das formas.
A FERIDA DO TEMPO
Na escuridão, ergue-se um rio, urna torrente
de imagens, sombras.
Um diálogo sobre anjos evoca recordações
de um coração distante.
Foi junto ao Mondego, por entre os choupos
e a neblina, que descobri Rilke, pela primeira vez,
o tempo morto colado à raiz aquática
de carcomidos labirintos.
Na escuridão, palpava-se a ferida do tempo,
a cega flor, o mercúrio lento,
a alquimia dolorosa dos metais trespassados.
Junto aos choupos, um beijo desfazia-se.
Como se tivéssemos bebido um elixir dourado,
a vida acontecia.
O inapreensível era então quase palpável,
como se liras e flautas ecoassem,
e, no arvoredo, as hortênsias se abrissem,
entre violinos azuis, que sobre nos tocavam,
trazendo-nos da obscuridade
ao vislumbre da luz.
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