ADRIANO ESPÍNOLA
Nace en Fortaleza (Brasil), en 1952. Profesor
Adriano Espínola ha publicado Fala, favela (1981), O lote clandestino (1982), Trapézio (1984), Em trânsito (1996), que reunía sus obras anteriores Táxi y Metrô, Beira-Sol (1997), Praia provisória (2006) y Escritos ao Sol (2015), libro del que se han tomado los poemas que se reproducen en esta página. El poeta es también autor de un libro de relatos, o poemas en prosa, que ha titulado Malindrânia (2009), y de enjundiosos ensayos sobre el poeta barroco Gregorio de Matos y el romántico Sousândrade. Es también profesor de la Universidad Federal de Río de Janeiro y de la Université Stendhal Grenoble III.
Traducciones de Eduardo Langagne
Las chinelas
Como um perro
suelto
el Sol súbito
salta
por la ventana
del nuevo
día.
Y ahí
de pie
de la cama
se enreda
en el viejo
par
de chinelas.
EL CLAVO
Lo que
más duele
no es
el retrato
en la pared
sino
el clavo
ahí
clavado
persistente
en el centro
de la
mancha
del cuadro
ausente.
Poemas extraídos de ALFORJA – REVISTA DE POESÍA, México, n; XIX, Invierno 2001, que edita el poeta José Ángel Leyva. Parte de una edición especial dedicada a la poesía brasileña, organizada por Floriano Martins.
Pesca
La aurora se desamarra del muelle.
Un barco surca el pecho
rosado del mar.
La mañana sacude las ondas
y los coqueros.
El azul prolonga la línea del horizonte.
En la playa, un pescador arrastra
un sol de algas.
En sus manos, un pez salta:
oh palabra de escamas,
espíritu agitado de las aguas.
Las dunas
Tú, hora, revoloteas en las dunas
Paul Celan
Avanzan, sigilosas,
tocadas por la mano simétrica
del viento.
La luz de la mañana
sobre ellas se escurre,
hecha ondas en la marea llena.
Verdevivos
los arbustos se agarran
desesperados
a la blanca memoria de arena.
Allí, las dunas acechan la ciudad
—el bote de arena armado―
a la espera del tiempo.
Tácitas, llevan a la espalda
el presente, aleteante.
En los pechos, el pasado,
circulante.
El coquero
Altivo,
se yergue frente al mar.
Con las palmas agitadas,
quiere ser un pájaro.
Por un momento,
se detiene en pleno vuelo:
la copa verde
abrazada al vasto viento.
La memoria del tronco
se vuelve,
incluso,
dilata-
damente
para la
tierra,
lamiendo
la savia
salada
de los sueños.
El coquero
es un verso vegetal puesto en pie.
La vieja
Esculpida en silencio,
sentada y sabia,
mira el horizonte de la congoja.
Al lado, el mar murmura
las sílabas del ocaso.
Oh belleza antigua y súbita:
sobre su hombro
el instante se reclina,
iluminado.
Antonio Maura
http://www.espacioluke.com/2016/Septiembre2016/maura.html
FALA, FAVELA
VOILÀ FAVELA
2ª edição
Traduit du Portugais (Brésilien)
par Silvia Rouquier
Rio de Janeiro: Topbooks, 1998.
123 P ISBN 85-86020-85-6
Editado com o apoio da Fund. Biblioteca Nacional
POEMA VERTEBRAL
— Uma bala dentro do corpo,
eis minha casa.
Uma bala loteando a espinha,
eis meu espaço.
Uma bala habitando a fala,
eis minha sala.
Uma bala guardada nos gestos,
eis meu armário.
Uma bala varando o sono,
eis o meu quarto.
Uma bala na viga dos braços,
eis meu terraço.
Uma bala plantada no tempo,
eis meu quintal.
Uma bala posseira da fome,
eis minha paga.
LÍNGUA-MAR
A língua em que navego, marinheiro,
na proa das vogais e consoantes,
é a que me chega em ondas incessantes
à praia deste poema aventureiro.
É a língua portuguesa, a que primeiro
transpôs o abismo e as dores velejantes,
no mistério das águas mais distantes,
e que agora me banha por inteiro.
Língua de sol, espuma e maresia,
que a nau dos sonhadores-navegantes
atravessa a caminho dos instantes,
cruzando o Bojador de cada dia.
Ó língua-mar , viajando em todos nós.
No teu sal, singra errante a minha voz.
O JANGADEIRO
Jangadas amarelas, azuis, brancas,
logo invadem o verde mar bravio,
o mesmo que Iracema, em arrepio,
sentiu banhar de sonho as suas ancas.
Que importa a lenda, ao longe, na história,
se elas cruzam, ligeiras, nesse instante,
o horizonte esticado da memória,
tornando o que se vê mito incessante?
As velas vão e voltam, incontidas,
sobre as ondas (do tempo). O jangadeiro
repete antigos gestos de outras vidas
feitas de sal e sonho verdadeiro.
Qual Ulisses, buscando, repentino,
a sua ilha, o seu rosto e o seu destino.
AS DUNAS
Tu, hora, revoas nas dunas.
Paul Celan
Avançam,
sorrateiras,
tangidas pela mão simétrica
do vento.
A luz da manhã sobre elas
escorre
como ondas na maré
cheia.
Verdevivos,
os arbustos se agarram
em desespero
à alva memória da areia.
Ali,
as dunas espreitam a cidade
— o bote de areia armado —
à espera do tempo.
Tácitas,
levam nas costas,
esvoaçante,
o presente;
nos peitos, o passado
semovente.
A VELHA
Esculpida em silêncio,
sentada
e sábia,
fita o horizonte da mágoa.
Ao lado,
o mar murmura
as sílabas do ocaso.
Ó beleza antiga e súbita:
sobre seu ombro
o instante
se debruça, iluminado.
A RENDEIRA
Na teia da manhã que se desvela,
a rendeira compõe seu labirinto,
movendo sem saber e por instinto
a rede dos instantes numa tela.
Ponto a ponto, paciente, tenta ela
traçar no branco linho mais distinto
a trama de um desenho tão sucinto
como a jornada humana se revela.
Em frente, o mar desfia a eternidade
noutra tela de espuma e esquecimento
enquanto, estrelaçado, o pensamento
costura sobre o sonho a realidade.
Em que perdida tela mais extrema
foi tecida a rendeira e este poema?
FORTALEZA REVISITED
Sou outro
em mim,
memória
da cidade,
que se sonha
outra vez
na claridade.
Extraídos de 41 POETAS DO RIO, org, Moacyr Félix. Rio de Janeiro: FUNARTE, 1998. 514 p.
De
Adriano Espínola
O LOTE CLANDESTINO
2ª. edição. Rio de Janeiro: Topbooks, 2002.
124 p. ISBN 85-7475-043-3
“O Lote clandestino” remonta e reapresenta poemas; alguns inéditos, mas antigos; e experiências que lembram montagens do Affonso Ávila (“quem veio primeiro nas digressões verbais do tipo “ATRAVESSE A FAIXA ASSINALADA”? era uma tendência no pós-concretismo, palavra-puxa-palavra, poesia processo...).
Quem apresenta a 2ª. edição de livro é o brasilianista Charles A. Perrone, que resume: “Pois bem, do livro Adriano Espínola tem feito muito: criou um dos mais interessantes títulos da recente poesia brasileira, aceitou desafios textuais vários e apostou em soluções novas e combinações instigantes e intrigantes, fórmulas originais”.
Na 2ª. edição aparecem duas novas seções — “Urbs” e “Grafites” que teriam ficado “fora da edição original, devido à impossibilidade técnica de reproduzi-los”.
Mas é o próprio Adriano quem explica como surgiu a 1ª. ed., mimeografada, em 1982, como o “lançamento de versos” da janela de um edifício da Praça do Ferreira, em Fortaleza. Agora é lançado por uma grande editora. Façanha que Adriano Espínola justifica nestes versos:
“Para Moema,
sempre. Uma e múltipla.
E para mim, mesmo,
sendo outro.”
Antonio Miranda
agosto 2011.
O Lote clandestino
(fragmento)
Eu, o real fundador do Cinismo na literatura brasileira
(se não for, melhor ainda)
eu, o corruptível, o traidor de todas as causas;
o sedutor do poetas menores e abandonados;
o demissionário das convicções mais elementares
— não me interesso em saber de vida que não seja a da cidade.
TV Bandeira
A Elvia Bezerra
Que importa a Bahia, a glória literária, a utopia no horizonte?
— O que vejo é a tevê defronte.
Poesia
Na noite
imensa,
o único
crime
que com-
pensa.
De
EM TRÂNSITO
2ª. Ed. Rio de Janeiro: Topbooks, 1996
TAXI
(...)
Confira o lance:
toda sabedoria passa pela carne;
toda iluminação atravessa os sentidos;
toda visão viaja pelo corpo,
— ponte de sangue sensitivo entre o céu e a terra,
v ertigem da consciência esbarrando entre o céu e a terra,
nas paredes das costelas,
pequeno cais nervoso de todas as sensações
à beira do nada
—oceano calado te espreitando,
as amarras do corpo
partindo-se a cada minuto
do porto de si mesmo...
E eu aqui, sábio com as mãos entre tuas coxas,
soprando ávido
no teu ouvido
a lição luminosa:
sessenta e novembro
69.
E tua língua veloz: love
love
logos.
Mais depressa!
Direto para um motel na Praia do Futuro!
(...)
METRÔ
(...)
Raiva entre os dentes.
Raiva de mastigar um osso e a impossibilidade metafísica
de ser trezentos dentro de mim.
Raiva súbita de não poder ser um,
mas trezentos e cinqüenta fora de mim,
Mários, Marias, Maricas
(não sendo nem um nem outro – todos!),
entrando e saindo por entre gestos/portas
elevadores/olhares,
ofertando não simpatia — mas desprezo;
não prazer — mas porradas
— para que minha atração humana e solidariedade
possam ser as mais completas e inúteis possíveis!
Ora, vamos.
Essa gente só é bela para os olhos desprevenidos
e a arte mentirosa. De perto fede, faminta de si mesma.
(Que importa saber dos outros, eu que não sei de mim?!)
Por isso, danem-se todos.
Nada de canção amiga, meu chapa,
que distribua um segredo como quem ama ou sorri.
Outro é o tempo.
Quero estar sozinho,
bêbado do mundo e lúcido de mim.
Não me venham com análises existenciais e políticas,
campanhas ecológicas ou esotéricas
— que me interessam?
Se masturbem com elas até morrer!
Nada muda nada nesta hora.
Nem proponham contatos, contratos, confidências
sobre minha mesa pensa
de tantos papos e planos!
Não salvarei nem iluminarei ninguém.
Não defenderei as matas nem as matilhas de amanhã.
Não escreverei cartas de protesto à redação,
nem de solidariedade às baleias assassinadas.
Não denunciarei a falta de flores nas praças públicas,
nem a falta de dentes na tua boca ressentida!
De
BEIRA-SOL
2ª. Ed
Rio de Janeiro: Topbooks,1999
PESCA
A aurora se desamarra do cais.
Um barco singra o peito
rosado do mar.
A manhã sacode as ondas
e os coqueiros.
O azul estica a linha do horizonte.
Na praia, um pescador arrasta
um sol de algas.
Em suas mãos, um peixe salta:
ó palavra escamosa,
espírito agitado das águas.
BEIRA-SOL
Nasce da luz solar um pescador.
Sobre urna pedra,
fisga a carne prateada.
Duas mulheres na areia,
retalhando pargos,
cantam urna canção vermelha.
Cajueiros sopram
sua verde vigília
na fronte de um jangadeiro.
Nas dunas,
meninos açoitam
com a espinha dos peixes
o dorso da claridade.
Três jangadas,
inclinadas na praia,
aparam a luz
com seus brancos dedos
entrelaçados.
O céu
é uma vela inflada
ao sopro salobre das ondas.
Faiscante,
a manhã marinha rola,
em Fortaleza, à beira-sol.
CLARIDADE
A Catherine Dumas
Com os punhos cerrados de sol,
a luz golpeia
a praia.
Arde o instante na areia.
Nas dunas,
por entre casebres,
papoulas acendem sua dor
vermelha.
Mestre André,
sob um coqueiro,
retalha com a peixeira
o esquivo
milagre dos peixes.
O verdiazul ascende as costas
do horizonte.
Barcos buscam, peregrinos,
as profundezas.
O pensamento a pino
se descobre,
transparente.
Espiritual é a luz do meio-dia.
.
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